São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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Europeus cobram mais integração

DO ENVIADO ESPECIAL A LISBOA

Por mais boa vontade que exibisse ao final das negociações com o Mercosul, o comissário europeu para o Comércio, Pascal Lamy, não deixou de cobrar mais integração do bloco do Sul, dando a entender que as dificuldades internas deste haviam sido uma das razões para a não-conclusão do acordo com os europeus.
"Estamos negociando com um Mercosul em construção", disse Lamy, para em seguida elogiar os avanços registrados pelo bloco do Sul nos últimos três anos, todos "na direção correta". Mas emendou: "É preciso mais integração, não só em termos de comércio mas também políticos".
Parece uma alusão óbvia aos sucessivos desencontros entre, principalmente, Brasil e Argentina, que podem não ter sido a razão principal, mas foram um dos elementos que contribuíram para que o Mercosul termine o ano sem fechar nenhuma das três grandes negociações em que está envolvido (no âmbito global, o da OMC; nas Américas, para constituir a Área de Livre Comércio das Américas; e com a UE).
Para o ministro brasileiro Celso Amorim, não se trata de nenhuma tragédia, até porque ele sempre defendeu a tese -ontem assumida também por Lamy- de que o importante é a substância de um acordo, não o prazo para conclui-lo.
Além disso, Amorim atribui ao acordo com a Comunidade Andina, fechado na segunda, um valor extraordinário. "Quem poderia supor, há dez anos, que estaríamos perto de uma comunidade sul-americana de nações?"
A cobrança européia de maior integração do Mercosul tampouco inquieta o chanceler. Ele rebate: "Não temos quase 50 anos de integração, ao contrário da União Européia, mas vamos tentar fazer, como dizia o presidente Juscelino Kubitschek, cinco anos em cinco" (foi um dos slogans mais usados por JK, presidente entre 1956 e 1961).
Mas o setor privado está longe de convencer-se de que o Mercosul merece os sacrifícios que o Brasil vem fazendo para atender reivindicações argentinas. Culpa a Argentina pelo fato de as propostas do bloco terem sido modestas e, por isso mesmo, inaceitáveis para os europeus, que reagiram com ofertas igualmente inaceitáveis para o Mercosul (uma situação ontem francamente admitida por Lamy).
Parte do setor privado também culpa o Itamaraty pelo fato de não ter fechado nenhum dos acordos com as grandes usinas comerciais do planeta (EUA e Europa) e atribui grande valor ao fato.
"O mundo rico é protecionista exatamente em setores nos quais o Brasil é altamente competitivo. Por isso, o Brasil é refém dessas negociações", diz Marcos Sawaya Jank, responsável pelo Icone, um instituto de estudos financiado parte pelo próprio governo e parte pelo agronegócio. (CR)


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