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Europeus cobram mais integração
DO ENVIADO ESPECIAL A LISBOA
Por mais boa vontade que exibisse ao final das negociações
com o Mercosul, o comissário europeu para o Comércio, Pascal
Lamy, não deixou de cobrar mais
integração do bloco do Sul, dando
a entender que as dificuldades internas deste haviam sido uma das
razões para a não-conclusão do
acordo com os europeus.
"Estamos negociando com um
Mercosul em construção", disse
Lamy, para em seguida elogiar os
avanços registrados pelo bloco do
Sul nos últimos três anos, todos
"na direção correta". Mas emendou: "É preciso mais integração,
não só em termos de comércio
mas também políticos".
Parece uma alusão óbvia aos sucessivos desencontros entre, principalmente, Brasil e Argentina,
que podem não ter sido a razão
principal, mas foram um dos elementos que contribuíram para
que o Mercosul termine o ano
sem fechar nenhuma das três
grandes negociações em que está
envolvido (no âmbito global, o da
OMC; nas Américas, para constituir a Área de Livre Comércio das
Américas; e com a UE).
Para o ministro brasileiro Celso
Amorim, não se trata de nenhuma tragédia, até porque ele sempre defendeu a tese -ontem assumida também por Lamy- de
que o importante é a substância
de um acordo, não o prazo para
conclui-lo.
Além disso, Amorim atribui ao
acordo com a Comunidade Andina, fechado na segunda, um valor
extraordinário. "Quem poderia
supor, há dez anos, que estaríamos perto de uma comunidade
sul-americana de nações?"
A cobrança européia de maior
integração do Mercosul tampouco inquieta o chanceler. Ele rebate: "Não temos quase 50 anos de
integração, ao contrário da União
Européia, mas vamos tentar fazer,
como dizia o presidente Juscelino
Kubitschek, cinco anos em cinco"
(foi um dos slogans mais usados
por JK, presidente entre 1956 e
1961).
Mas o setor privado está longe
de convencer-se de que o Mercosul merece os sacrifícios que o
Brasil vem fazendo para atender
reivindicações argentinas. Culpa
a Argentina pelo fato de as propostas do bloco terem sido modestas e, por isso mesmo, inaceitáveis para os europeus, que reagiram com ofertas igualmente
inaceitáveis para o Mercosul
(uma situação ontem francamente admitida por Lamy).
Parte do setor privado também
culpa o Itamaraty pelo fato de não
ter fechado nenhum dos acordos
com as grandes usinas comerciais
do planeta (EUA e Europa) e atribui grande valor ao fato.
"O mundo rico é protecionista
exatamente em setores nos quais
o Brasil é altamente competitivo.
Por isso, o Brasil é refém dessas
negociações", diz Marcos Sawaya
Jank, responsável pelo Icone, um
instituto de estudos financiado
parte pelo próprio governo e parte pelo agronegócio.
(CR)
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