|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
Más notícias, coleção de outono
Bancos e empresas dizem na temporada de balanços que americano comum dá calotes, perde renda e consome menos
|
O LUCRO DE uma empresa boa
como a Caterpillar subiu
23% no terceiro trimestre
(trata-se da matriz, nos EUA), um
recorde. Mas as ações caíram. A entrevista em que a direção da empresa comentou lucro e perspectivas foi
um dos detonadores da sexta-feira
cinza de Wall Street. O que houve?
O faturamento da Caterpillar caiu
11% nos EUA e subiu no resto do
mundo -20% na América Latina. A
empresa faz motores, máquinas para construção, minas, petróleo etc.
Disse que construção civil e carga
pesada estão em recessão nos EUA,
mas "quase tudo está em alta lá fora;
mineração, petróleo e infra-estrutura estão explodindo ("booming')".
E daí a Caterpillar? A Bolsa americana tropeçou devido ao mau humor com que o mercado julgou o resultado de grandes indústrias. Muito lucro subiu, mas empresas fizeram análises ruins da economia doméstica. Há previsão de que, inédito
em cinco anos, o lucro agregado das
empresas no trimestre vá cair.
A Hershey (chocolates) disse que
o crédito mais caro levou seus distribuidores a manter menos estoques
-compraram menos doce. A FedEx
(correio, transporte) cortou expectativa de lucros devido ao desaquecimento econômico. O grande varejo
já sente desânimo no consumidor.
A Bovespa anda de par com Wall
Street. Apesar do papo de "descolamento" de emergentes, se coisas
piores ocorrem nos EUA no mínimo
é bom prestar atenção, e não só devido ao dinheirinho na Bolsa.
Mais curiosa é a reação de Wall
Street ao mau resultado dos bancos,
previsto até pelas colunas de pedra e
pelo touro de lata da Bolsa de NY.
Afora Goldman Sachs e JP Morgan,
os bancões, Citi à frente, perderam
bilhões com derivativos de crédito e
com empréstimos para fusões e
aquisições que não conseguiram repassar adiante, além da queda nos
negócios de crédito. Cresceram as
provisões (expectativa de perdas futuras). Bidu. O que pegou mal?
Nos anúncios de resultado, bancos disseram que problemas devidos à crise do meio do ano ainda vão
aparecer nos próximos balanços. Tal
tipo de comentário foi ainda vitaminado pela explosão, na sexta, de outros dois fundos de derivativos de
crédito. Mas não foi só isso.
Os bancos não perdem apenas devido a desastres com instrumentos
financeiros exóticos ou até picaretas, com cotações de preço e risco
fantasistas. O americano não está
pagando seus empréstimos no banco. No Bank of America, o maior em
depósitos e rede de agências nos
EUA, o número de calotes e atrasos
sérios dobrou de um ano para cá.
Não foi só no "BoA". Na entrevista
de sexta-feira sobre o balanço do
Wachovia, um executivo desse banco explicou a causa da inadimplência. Primeiro, redução da renda e subemprego. Segundo, acúmulo de dívidas. Terceiro, desemprego.
Alan Greenpan ajudou. Disse que
o fundão dos bancões vai dar problema. O fundão de Citi, JP Morgan e
BoA é uma tentativa de financiar a
compra de parte dos papéis encalhados na crise de crédito, evitando assim uma xepa de derivativos, que
aumentaria o prejuízo dos bancões.
Para Greenspan isso é golpe, tentativa de tapar o sol com a peneira, de
evitar o reconhecimento de que o
buraco é mais embaixo.
Americano a dar calote, bancões
perdendo algum (mas lucrando
bem, ainda), com papéis podres fedendo, empresas vendo recessões
em alguns setores da economia dos
EUA: "bad news". Desânimo com
negócios de coisas reais e esqueletos
bilionários saindo do armário de
crédito podre desarranjaram o otimismo do último mês. Não é fim de
mundo, claro, mas pegou mal.
vinit@uol.com.br
Texto Anterior: Joaquim Levy: Uma casa em transição Próximo Texto: Luiz Gonzaga Belluzzo: Os "correrias" do Primeiro Mundo Índice
|