São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2008

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Montadora reduz juro para manter venda

Fabricantes de carros antecipam feirões e promoções que ocorrem no final do ano para driblar a escassez de crédito

Na primeira quinzena de outubro vendas de carros caem 10% sobre setembro; sem crédito, mercado pode ficar "crítico", diz Anfavea

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Para evitar queda nas vendas e driblar a escassez de crédito dos bancos, as montadoras oferecem aos consumidores neste mês juros menores do que a taxa média cobrada pelo mercado. Na primeira quinzena de outubro, as vendas de carros caíram 10% em relação a igual período de setembro.
Algumas montadoras anteciparam em até um mês as promoções e feirões, que, geralmente, ocorrem em novembro. "As promoções, que se intensificaram na última semana, tentam contrabalançar a restrição de crédito dos bancos", diz Jackson Schneider, presidente da Anfavea (associação dos fabricantes de veículos).
Se a oferta de crédito não for normalizada no mês que vem, diz ele, a situação pode se tornar "mais crítica". "Neste momento, cada montadora busca alternativas para vender, o que significa utilizar o próprio banco ou fazer parcerias com instituições financeiras."
A Volkswagen e o banco Volks oferecem neste mês juros de 0,99% ao mês e plano de 24 meses para quase toda a linha de modelos nacionais (Fox, SpaceFox, CrossFox, Polo, Polo Sedan e Beetle) na tentativa de "assegurar a demanda de automóveis", segundo Fabricio Biondo, gerente-executivo da Volks. Nos modelos importados (Bora, Jetta e Passat) já não há incidência de juros, segundo informa a montadora.
A Ford, que também ofereceu aos clientes juros de 0,99% ao mês para a linha Fiesta em feirão neste mês, deve realizar outras promoções e feirões nos próximos finais de semana "para levantar o ânimo dos clientes", segundo a montadora.
No último final de semana, a Fiat vendeu em feirão em São Paulo cerca de 1.800 carros de um estoque de 5.000. O juro cobrado pelo banco Fiat (hoje pertence ao banco Itaú) também foi de 0,99% ao mês.

Crédito mais seletivo
A Abracaf (Associação Brasileira dos Concessionários Fiat) estima que, nas 452 revendas associadas, houve queda nas vendas de 6% entre os dias 1º e 19 deste mês em relação a igual período em setembro.
"Os bancos estão mais seletivos para conceder crédito. A dificuldade é maior para os que não podem comprovar renda, como pequenos empreendedores e pessoas que não têm holerite com rendimento garantido", diz Edmo Pinheiro, presidente da Abracaf e da rede de concessionárias Pinauto.
A Sabrico, revenda de carros da Volks, afirma que as promoções se acentuaram nos últimos 15 dias por causa da falta de crédito no mercado. "As montadoras optaram por subsidiar as taxas de juros para manter as vendas", afirma Marcos Dadalti, diretor comercial da concessionária.
Para carros seminovos, segundo ele, os juros são de 0,98% ao mês para planos de até 36 meses. No caso de carros novos (linha Polo) e importados, a taxa é de 0,99% ao mês em prazos de até 60 meses.
"O consumidor quer comprar, mas quando lê tanta notícia ruim sobre a crise financeira mundial, fica com medo. Como os bancos estão segurando o crédito, as montadoras decidiram agir", diz Sérgio Reze, presidente da Fenabrave, associação das concessionárias.
Apesar de o crédito estar mais restrito, as vendas de veículos deverão crescer entre 19% e 20% neste ano, estima a Fenabrave. A produção de veículos neste ano superou 2 milhões de unidades em agosto e deve ser a maior da história.
A Peugeot também lançou no início deste mês uma promoção, com taxas de juros de 0,49% ao mês (antes 0,99%), 50% de entrada e pagamento em até 24 meses, com a primeira parcela depois do Carnaval.
Para o consultor David Wong, da Kaiser Associates, férias coletivas e antecipação de feirões são medidas para evitar que "os custos recaiam na cadeia como um todo" e acha que é "cedo para falar em crise no setor".


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