São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2008

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China tem a menor expansão em 5 anos

Ritmo de crescimento caiu de 10,6% no começo do ano para 9% no 3º trimestre; previsão é de desaceleração maior até dezembro

Resultado preocupa outras economias do mundo, já que país foi responsável por um 1/3 do crescimento mundial no ano passado

RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

A desaceleração da economia chinesa agora é oficial: o PIB cresceu 9% entre julho e setembro. É a pior performance em cinco anos.
No primeiro trimestre do ano, o PIB cresceu 10,6%; no segundo, 10,1%. Economistas dizem que no quarto trimestre, o número deve ser menor.
Nos últimos cinco anos, a China foi responsável por um quarto do crescimento mundial -um terço, no ano passado, quando seu PIB cresceu 11,9%. Mesmo com o crescimento menor, a China deve se tornar a terceira maior economia do mundo no final deste ano, ultrapassando a Alemanha, e ficando atrás apenas de EUA e Japão.
Apesar de ainda ser a única entre as grandes potências com crescimento garantido e vigoroso, o número preocupa o Partido Comunista. Com renda per capita inferior à metade da renda brasileira, o país precisa criar entre 10 milhões e 15 milhões de empregos por ano para absorver o êxodo rural.
Sua desaceleração já provoca impacto nos preços das matérias-primas, como soja e ferro, que importa do Brasil. O preço do aço caiu 20% em três meses, por conta da demanda menor.
"O crescimento deve ser menor ainda no quarto trimestre, quando o ambiente externo de desaceleração global deve apresentar um impacto mais negativo", diz Tao Wang, economia do banco UBS em Pequim.
Os números negativos da economia chinesa começaram antes mesmo do colapso do banco Lehman Brothers, em 17 de setembro, e das semanas turbulentas em Wall Street. A venda de carros em agosto foi 6% menor que no mesmo mês do ano passado.
A venda de apartamentos no primeiro semestre foi 14% menor que em 2007.
Em Pequim, as vendas de imóveis em setembro foram as piores em cinco anos. Segundo o estatal Escritório de Gerenciamento de Transações Imobiliárias, há 69.685 unidades disponíveis à venda. 2 mil prédios estão em construção em Pequim.
Há centenas de prédios vazios recém-construídos nas grandes cidades, principalmente para o mercado de luxo. O governo tenta forçar a construção de imóveis populares, mas sem sucesso. Um estudo do banco Credit Suisse prevê que o preço do metro quadrado deve cair 15% em 2008 e 5% em 2009. Enquanto não caem, os compradores esperam.
A inflação, que era uma preocupação do governo no início do ano, já não assusta tanto. O índice de preços ao consumidor cresceu 4,6% em setembro, comparado com o mesmo mês do ano passado, bem abaixo do índice de 8,7% que atingiu em fevereiro, o maior em 12 anos.

Estímulo
O Conselho de Estado, como é chamado o gabinete ministerial, anunciou ontem que passou o fim de semana preparando um pacote de medidas para adaptar a economia chinesa à desaceleração global.
Entre as medidas que devem ser anunciadas, estão a restituição tributária para exportações, um pacote para aumento de crédito a pequenas e médias empresas, além de mais investimentos em infra-estrutura.
Na semana passada, o Partido Comunista aprovou uma reforma rural, que permitirá aos camponeses arrendarem suas terras. Atualmente eles não podem negociar a pequena parcela a que cada família tem direito em concessões de 30 anos.
Com a nova lei, a concessão pula para 70 anos e eles poderão alugar ou trocar as terras. A medida visa aumentar o poder de consumo dos camponeses, 55% da população, que vivem da agricultura de subsistência. A renda média no campo é de 345 yuans (R$ 105) por mês.
A aposta do governo é que eles formarão uma nova classe de consumidores, que absorverá a produção que o mercado exportador vai perder em breve. Há temores, porém, que a lei faça camponeses alugarem suas terras por uma ninharia e que engrossem favelas na periferia das grandes cidades.


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