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IOF transfere mercado para Nova York, afirma Bovespa
Taxação de capital estrangeiro deve levar empresas a lançar títulos fora do país
Presidente da BM&FBovespa diz não ver bolha no mercado acionário local e defende que taxação deveria ser na saída de dólares, e não na entrada
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Presidente-executivo da
BM&FBovespa, Edemir Pinto
afirma que o IOF para estrangeiros tem um potencial de estrago semelhante ao causado
no passado pela CPMF. Pinto
afirma que a medida só vai exportar o mercado brasileiro de
ações para Nova York, sem conseguir frear a queda do dólar. Se
o governo levar adiante a ideia,
o presidente da Bolsa propõe
que o estrangeiro seja taxado
na saída, de forma escalonada.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida à Folha.
FOLHA - Como a Bolsa recebe a taxação do investidor estrangeiro?
EDEMIR PINTO - Isso nos leva ao
passado e lembra o estrago que
a CPMF fez para o mercado de
capitais no Brasil. A CPMF exportou [o mercado de ações]
para Nova York. Depois que isso acontece, você não consegue
recuperar mais. Conseguimos
com ajuda da sociedade, de parlamentares, das associações,
acabar com a CPMF na Bolsa, e
depois para todo o mundo. Depois da CPMF, a gente conseguiu criar o Novo Mercado. Aí o
mercado começou a se organizar e se recuperar.
FOLHA - A medida exporta o mercado local para Nova York?
PINTO - A medida afeta todo o
mercado nacional. Desde 2006,
ninguém fez ADR [recibo de
ações brasileiras nos EUA]. Até
porque o Brasil conta com visibilidade; 70% do adquirente de
abertura de capital é estrangeiro. Temos perto de 5.000 clientes estrangeiros cadastrados na
Bolsa; em 2006, eram 2.000. As
companhias brasileiras não
precisam mais se sujeitar a lançar ADRs. Até que vem uma
medida dessa...
FOLHA - Em relação ao que ganha
lá fora, o investidor estrangeiro precisa ganhar mais 2% para vir aqui?
PINTO - É exatamente isso. É
um pedágio alto para um mercado que está sofrendo ainda.
FOLHA - O governo tem memória
curta? Esquece os efeitos da crise?
PINTO - O ministro Guido
[Mantega] diz que essa medida
é também para evitar uma bolha na Bolsa. A gente não vê
nesse crescimento do Ibovespa
nada de bolha. É uma recuperação. Tem gente que diz que já
entraram R$ 22 bilhões; só que
ninguém lembra que perdemos
R$ 25 bilhões na crise.
FOLHA - Essa medida será eficiente
para conter o dólar?
PINTO - Se quer atingir esse dinheiro que entra e sai rápido, a
medida está errada. Não é pegando a entrada de estrangeiro;
tem que pegar os prazos do dinheiro na saída, não na entrada.
FOLHA - Qual a proposta?
PINTO - Lógico que a gente gostaria que ele [Mantega] revisse
tudo isso. Mas, se ainda insistir,
que faça uma coisa regressiva
na saída do dinheiro. [Poderia]
Utilizar essa alíquota de 2% para dinheiro que fica até 30 dias;
de 30 a 60 dias, 1,5%; de 60 a 90
dias, 1%; e, acima de 90 dias, de
0,5%. Mas na retirada. Na entrada, você não sabe o que ele
vai fazer e quanto tempo vai ficar aqui. Para penalizar esse capital que ele [Mantega] chama
de especulativo, esse critério de
prazo atende [o objetivo]. Se
você olhar para trás, não vê eficácia para essa questão de excesso de valorização do real.
FOLHA - Os IPOs de sucesso terão
de ser grandes colocações?
PINTO - Num curto e médio
prazo, os IPOs que eventualmente vierem vão sofrer, sim,
um impacto desses 2%. Para
longo prazo, precisa ver como
esse conjunto se acomoda. Não
temos no país uma poupança
interna suficiente para absorver todas essas aberturas de capital. Dependemos do dinheiro
estrangeiro, que é bem-vindo.
FOLHA - Para o mercado, essa foi a
pior medida do governo Lula?
PINTO - O que é muito ruim é a
mudança de regra. A gente teve
grau de investimento, e uma
das coisas que o investidor estrangeiro aprecia num país é
[preservar] a regra do jogo. Mudar é complicado. Fica uma dúvida na cabeça do estrangeiro
de que tudo pode mudar.
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