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Falha sujeita aplicações antigas ao novo IOF
Operações de câmbio levam até 3 dias para serem quitadas, o que sujeita ao imposto os negócios fechados na semana passada
Área jurídica da Fazenda estuda como não taxar contratos fechados antes
de ontem; medida deverá arrecadar R$ 4 bi em um ano
Wilson Dias/ABr
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O ministro Guido Mantega (Fazenda), em Brasília; taxação teria sido resposta política ao setor empresarial, e não decisão técnica
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na pressa para cobrar IOF
(Imposto sobre Operações Financeiras) dos investidores estrangeiros que vêm para o Brasil aplicar em títulos e no mercado de ações, a equipe econômica esqueceu um detalhe importante: as operações de câmbio alvo da medida são quitadas
normalmente até três dias depois de fechado o contrato.
Com isso, quem já tinha acertado suas operações no final da
semana passada ou na segunda-feira, antes de o governo oficializar a decisão, também seria
punido. Para evitar que a nova
tributação incida sobre os negócios já fechados, o governo
vai editar novas regras.
Segundo o subsecretário de
contencioso e tributação da Receita Federal, Fernando Mombeli, o governo decidiu que só
serão tributados os contratos
fechados a partir de ontem, data da publicação do decreto
prevendo a incidência de 2% de
IOF sobre capital estrangeiro.
"Nosso objetivo é não tributar os contratos acertados até
segunda-feira", disse, ressaltando que a área jurídica do Ministério da Fazenda ainda estudava como permitir que as liquidações desses contratos
-muitas deveriam ocorrer ontem mesmo- não sofresse a incidência do imposto.
A medida deverá acrescentar, ao longo de um ano, R$ 4 bilhões aos cofres do governo, segundo cálculos da Receita.
Cerca de R$ 666 milhões poderão reforçar o resultado da
arrecadação já a partir do próximo mês.
O ganho esperado num período de 12 meses -que representa apenas 21% da arrecadação total do IOF esperada para
este ano (cerca de R$ 19 bilhões)- ocorrerá se for confirmado o cenário mais provável
estimado pela equipe econômica do governo.
Segundo as estimativas da
Receita, esse cenário combina
uma queda, ao longo de um
ano, de 20% no ingresso de investimentos externos que passarão a ser taxados e consequente desvalorização da taxa
de câmbio.
Pelos dados do Banco Central, de janeiro a agosto deste
ano o país recebeu US$ 106 bilhões em recursos externos que
foram aplicados na Bolsa ou em
títulos, o que representa uma
média de ingresso de US$ 13 bilhões por mês.
Esse média é a mesma usada
pela Receita em suas projeções.
Levando em conta a projeção
mensal, a queda no fluxo desses
investimentos nos próximos 12
meses poderá chegar a US$ 31
bilhões.
A expectativa do ministro
Guido Mantega (Fazenda) é
que a cobrança do imposto impeça a formação de bolhas na
Bolsa de Valores, contendo
uma sobrevalorização do real,
que poderia prejudicar o comércio exterior. "Daqui a pouco vamos estar importando tudo e não exportando nada, e lá
se vão os empregos brasileiros
para fora do país", disse.
Para Mantega, no entanto, a
medida não evitará que o real
fique valorizado, já que a alta do
câmbio reflete a força da economia brasileira. "De qualquer
maneira, colocamos uma espécie de pedágio para a entrada
excessiva de capital externo,
que deve atenuar também a sobrevalorização da moeda."
A medida, segundo a Folha
apurou, foi uma resposta política ao setor empresarial, muito mais do que uma decisão
técnica. A intenção do governo
era mostrar que tem preocupações com o efeito do câmbio no
setor produtivo.
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