São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 2000

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BANESPA
Santander surpreende e leva o Banespa na privatização mais cara da história


Espanhóis decidem ir às compras na última hora; Bradesco esnoba leilão ao saber de desistência de Itaú



Na sexta-feira, governo anunciou mudança em dívida do Banespa a fim de animar compradores


Unibanco e Bradesco fazem propostas próximas do mínimo; Itaú desiste
Santander paga R$ 7,05 bi por banco; ágio vai a 281%

CHICO SANTOS
ISABEL CLEMENTE


DA SUCURSAL DO RIO

LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O banco espanhol Santander pagou ontem o maior valor em reais já pago em uma privatização no Brasil, adquirindo o controle acionário do Banespa -cerca de 60% do capital votante do banco- por R$ 7,050 bilhões. O ágio pago foi de 281,02% sobre o preço mínimo de R$ 1,85 bilhão fixado pelo BC (Banco Central) para a parcela leiloada.
Convertido em dólares ao preço de R$ 1,92 por dólar, o preço do Banespa foi de US$ 3,671 bilhões, o segundo maior da história das privatizações brasileiras, perdendo para os US$ 4,967 bilhões (R$ 5,783 bilhões, em reais da época) pagos pela Telefonica de España pela Telesp fixa, em julho de 1998.
O presidente do BC, Armínio Fraga, disse que o dinheiro arrecadado com a venda do banco paulista será integralmente utilizado para abater a dívida pública brasileira. Ele afirmou também que o governo seguirá com as privatizações de bancos estaduais e que, nos próximos meses, o cronograma será divulgado.
Fraga chegou à Bolsa do Rio, local do leilão, às 9h e foi a maior autoridade do governo brasileiro presente ao evento.
O leilão durou apenas 13 minutos. O leiloeiro Alexandre Runte abriu os trabalhos às 09h59 e às 10h12 bateu o martelo declarando vencedor o banco Santander. Com a compra do Banespa, o banco espanhol passa de quinto a terceiro maior banco privado do país, com R$ 56,2 bilhões em ativos, tomando o lugar do Unibanco. Os primeiros seguem sendo Bradesco e Itaú, nessa ordem.
Além do Santander, apresentaram propostas os nacionais Unibanco e Bradesco, causando decepção entre os presentes ao pregão da Bolsa do Rio a diferença entre as duas propostas e a do Santander. O Unibanco ofereceu R$ 2,1 bilhões, com ágio de 13,50%, e o Bradesco, R$ 1,86 bilhão, com ágio de apenas 0,53%. O Itaú, outro favorito, nem sequer ofereceu proposta.
"Nós não demos um preço baixo, o preço deles é que foi alto", disse o diretor de Investimentos do Unibanco, Cláudio Coracini, pouco depois do leilão. Segundo Coracini, a oferta de um valor que concorresse com a proposta do banco espanhol "prejudicaria o acionista" do Unibanco.
Para o presidente do Santander no Brasil, Gabriel Jaramillo, o preço pago pelo banco não foi alto. "Estamos muito contentes por termos pago esse preço, independentemente das ofertas mais baixas feitas pelos concorrentes."
Foram leiloadas ontem, em bloco único, 11.232.000.000 ações do Banespa, representando cerca de 60% do seu capital votante e cerca de 30% do seu capital total.
Sem protestos que chegassem a incomodar o clima dentro da Bolsa do Rio, a tensão no leilão ficou por conta da expectativa sobre quem entraria na disputa.
Cerca de meia hora antes do começo do leilão, Venílton Tadini, diretor do banco Fator -responsável pela avaliação e modelagem de venda do Banespa- respirava aliviado. Ele havia apurado que pelos menos o Bradesco, o Unibanco e o Santander participariam do leilão.
A expectativa era quanto à participação do Itaú, que antes do leilão dividia com o Bradesco a condição de favorito à compra. À medida que se aproximava a hora do leilão e os representantes do Itaú não eram vistos, aumentava a surpresa dos presentes.
Mais surpresa veio quando o leiloeiro abriu os trabalhos e apenas as corretoras dos bancos Santander e Unibanco apresentaram as propostas dos seus representados. Estavam inscritas para participar as corretoras Bradesco, Itaú, Unibanco, Santander e Safra.
O leiloeiro deu um minuto de prazo para encerrar o leilão. O tempo passava e nenhum outro candidato aparecia. Somente quando faltavam 15 segundos é que o representante da corretora Bradesco começou a se movimentar, entregando a proposta cinco segundos antes do prazo.

FRASE

Nós não demos um preço baixo (R$ 2,1 bilhões), o preço deles (R$ 7,05 bilhões) é que foi alto
CLÁUDIO CORACINI diretor de Investimentos do Unibanco, Cláudio Coracini, pouco depois do leilão

O preço pago não foi alto. Estamos contentes por termos pago esse preço
GABRIEL JARAMILLO, presidente do Santander no Brasil



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