São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 2002

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ANO DO DRAGÃO

Copom eleva taxa básica em um ponto percentual para 22% ao ano, o maior nível desde junho de 1999

De olho na inflação, BC volta a subir juros

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central elevou os juros básicos da economia em um ponto percentual, passando de 21% para 22% ao ano, nível mais alto desde junho de 1999. O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) apontou o aumento da inflação como sendo o principal motivo da decisão tomada ontem.
Não foi indicado nenhum viés, o que significa que a taxa Selic deve permanecer inalterada até a próxima reunião do Copom, nos dias 17 e 18 de dezembro.
Os juros estavam em 18% ao ano desde o início de outubro, quando o presidente do BC, Armínio Fraga, convocou uma reunião extraordinária do Copom no dia 14 de outubro para aumentá-los em três pontos percentuais, ficando em 21%. Naquela ocasião, tentava-se conter a disparada do dólar, cuja cotação chegou a ultrapassar os R$ 4.
Agora, as preocupações se voltam para o comportamento dos demais preços praticados na economia. "O aumento da expectativa de inflação para 2003 levou o Copom a aumentar a taxa Selic para 22% ao ano", diz nota divulgada pelo BC.
O governo tem como meta manter a inflação, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), em até 6,5% no ano que vem. Projeções feitas por bancos, porém, já apontam para uma alta de 10% para 2003.
Os índices de preços divulgados recentemente confirmam o pessimismo em relação à inflação. O IPCA, por exemplo, registrou alta de 1,31% no mês passado, maior variação desde julho de 2001.
A disparada do dólar é apontada como a principal responsável por esse aumento da inflação. A desvalorização do real afeta os preços de várias maneiras. O efeito direto é o encarecimento dos produtos importados, em especial das matérias-primas utilizadas por diversas indústrias.
Existe ainda o impacto do dólar sobre os preços de bens que, mesmo produzidos dentro do Brasil, acompanham a variação cambial. É o caso das mercadorias que também podem ser vendidas no exterior, como soja, por exemplo. Muitos produtores só aceitam vendê-las no mercado interno pelo mesmo preço que poderiam obter ao exportá-las, o que pressiona a inflação.
O que se tenta fazer com uma elevação dos juros é impedir que o efeito direto que a alta do dólar tem sobre os preços desses produtos acabe se espalhando pelo restante da economia, o que levaria a um descontrole da inflação.
A ação do BC afeta o nível de preços por três canais principais. Um deles se refere às expectativas dos agentes de mercado. Em outras palavras: mesmo setores que nada têm a ver com o câmbio poderiam reajustar agora seus preços para se protegerem de um eventual aumento generalizado da inflação. Ao elevar a taxa de juros, o BC quer sinalizar que não deixará que esse aumento generalizado ocorra.
O segundo canal está ligado ao nível de atividade da economia. Juros mais altos tornam o crédito mais caro e desestimulam o consumo. Num cenário como esse, as empresas têm menos margem para reajustar seus preços, pois aumentos exagerados poderiam levar a forte quedas nas vendas.
Por último, existe o efeito direto que os juros podem ter sobre a taxa de câmbio. Em tese, juros elevados estimulam os investidores a deixar de usar seu dinheiro na compra de dólares para colocá-lo em aplicações denominadas em reais, como os títulos públicos, que se tornam mais rentáveis. Isso reduziria a pressão sobre a cotação da moeda dos EUA, aliviando, consequentemente, a pressão sobre a inflação.


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