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LUÍS NASSIF
Políticas públicas e lobbies
A incapacidade do país
de superar os obstáculos
sem ser por meio das crises é resultado direto da definição que
Nelson Rodrigues dava ao subdesenvolvimento: é um estado
de espírito. Foi o que procurei
demonstrar nas colunas anteriores.
Mais do que blague do grande cronista, o ponto central do
subdesenvolvimento está na
consolidação de estereótipos,
na incapacidade de pensar de
forma autônoma, a maneira
subserviente de se colocar
diante de teorias, de não exigir
a explicitação de relações causais, de não procurar entender
a racionalidade (ou não) existente por trás de cada slogan
brandido.
Esse subdesenvolvimento
-que marca intensamente o
debate econômico contemporâneo, como marcou em outros
períodos da vida nacional-
acabou conferindo, historicamente, um poder absurdo ao
chamado especialista, os bacharéis e/ou financistas de todos os tempos.
Quantas vezes, nos anos 80,
se ouvia que ser contra a reserva de mercado era ser contra o
país? Quantas vezes se ouviu
nos anos 90 que ser contra a
apreciação cambial era ser
contra a modernidade? Em todas essas discussões não se tinha um modelo de país pela
frente, o país que se pretende
daqui a 10, 20, 30 anos. O que
se tinha e se tem é meramente
um jogo de interesses, no qual
os argumentos de lado a lado
se subordinam à lógica do setor
defendido, não à do país.
O país necessita de indústrias
próprias e de multinacionais,
de sistema financeiro sólido, de
pequenas e médias empresas
pujantes, de bancos de investimento atuantes, de grandes exportadores. Mas o papel de cada um tem que ser analisado
dentro da lógica da contribuição que deve dar ao desenvolvimento. Se se exagera na proteção à indústria nacional, se
perde competitividade. Se se
exagera na proteção ao setor financeiro, se atrofia a economia real.
Nesse modelo, setores sem
voz -como médias, pequenas
e microempresas-, fundamentais para um desenvolvimento equilibrado, jamais terão vez.
No fundo, o grande desafio
nacional será consolidar um
discurso que subordine os interesses setoriais a uma lógica de
país. O que se quer do país daqui a 20 anos? Uma renda per
capita de US$ 5.000, redução
das desigualdades sociais, uma
posição dominante em alguns
setores da economia mundial?
O que é necessário para chegar
lá, quanto investir em infra-estrutura, em educação, em pesquisa? Qual o papel que se espera da poupança interna e do
capital externo? A partir daí é
que se começam a traçar as políticas.
Esse é o grande desafio do
subdesenvolvimento. O resto
-mudar câmbio, juros, reestruturar dívida ou seja lá o que
for necessário- é decorrência
da tomada de consciência,
uma mera questão operacional.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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