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São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2003

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ESPETÁCULO EM XEQUE

Baixo potencial de crescimento e necessidade de financiamento impõem piso próximo a 10% de taxa real

Queda de juros tem limites, dizem analistas

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Com o corte de 1,5 ponto percentual da Selic para 17,5% ao ano anteontem, o Banco Central se aproximou do seu limite para a redução da taxa básica. Com o movimento, os juros reais (descontada a inflação) foram para 11%. Segundo economistas, se esse número cair muito abaixo de 10%, o risco de novas pressões inflacionárias voltaria a rondar a economia brasileira.
O outro lado dessa análise se refere às possibilidades de crescimento da economia brasileira. Por trás de um piso para a queda dos juros, há um teto à expansão do país: é o chamado PIB (Produto Interno Bruto) potencial, que permite que a economia cresça sem gerar inflação. Esse indicador oscila em torno de 3% no Brasil.
Esses limites são reflexos de desequilíbrios internos e externos da economia brasileira e deverão reduzir a margem do BC para corte de juros daqui para a frente. A tendência, dizem analistas, é que o ritmo de queda da Selic seja menor que o registrado a partir de junho, período no qual a taxa caiu nove pontos percentuais.
Entre os desequilíbrios internos, estão gargalos como baixo patamar de investimento na economia, produtividade moderada e baixo nível de educação.
A queda da taxa de investimentos na economia brasileira nos últimos anos não levou à ampliação da capacidade de produção.
Ou seja, se há forte crescimento, a oferta de alguns setores não teria como atender à demanda, gerando inflação. Baixas escolaridade e produtividade também contribuem para esse quadro de limite ao aumento da produção no país.
"Todos esses fatores impõem limites à queda da chamada taxa de juros real de equilíbrio que é a que mantém um crescimento razoável com estabilidade de preços", diz Joel Bogdanski, gerente de política monetária do Itaú.
Bogdanski explica que é difícil calcular a taxa real de equilíbrio, principalmente em um país como o Brasil. A única forma de tentar chegar a um número aproximado é analisar dados passados. ]
Nesse caso, considerando-se um superávit primário (economia do governo para pagar juros da dívida) de 4,25% do PIB, os juros reais de equilíbrio do Brasil seriam de 10%.
"Mas esse dado é calculado com base nos últimos oito anos quando o país sofreu choques externos que, não necessariamente, se repetirão", diz Bogdanski.
Sem novos choques, os juros reais poderiam cair abaixo de 10%, mas não muito.
Até porque existem limites à queda de juros impostos também pela necessidade de financiamento externo do país.

Risco-país
Segundo Luís Henrique Suzigan, economista-chefe da LCA Consultores, o risco-país dá uma medida do piso da taxa de juros real de equilíbrio do Brasil.
Hoje, o risco-país embute juros cobrados do país de, aproximadamente, 10% (resultado da taxa de 4% paga pelos títulos de dez anos do Tesouro norte-americano mais 5,7%).
"De certa forma, uma taxa de 10% é um limite, hoje, porque representa o retorno atraente para o investidor de fora. E essa é uma variável fundamental para um país com alta necessidade de financiamento", diz Suzigan.
Segundo Padovani, melhorias como o crescimento do saldo comercial, tendem a contribuir para a redução possível do piso dos juros reais. A LCA, por exemplo, espera que, em 2004, essa taxa já poderá cair para cerca de 9%.
Mas, segundo especialistas, o caminho para que o país ganhe espaço para reduzir os juros e, com isso, volte a crescer mais fortemente tende a ser lento e longo.


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