|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESPETÁCULO EM XEQUE
Baixo potencial de crescimento e necessidade de financiamento impõem piso próximo a 10% de taxa real
Queda de juros tem limites, dizem analistas
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o corte de 1,5 ponto percentual da Selic para 17,5% ao ano
anteontem, o Banco Central se
aproximou do seu limite para a
redução da taxa básica. Com o
movimento, os juros reais (descontada a inflação) foram para
11%. Segundo economistas, se esse número cair muito abaixo de
10%, o risco de novas pressões inflacionárias voltaria a rondar a
economia brasileira.
O outro lado dessa análise se refere às possibilidades de crescimento da economia brasileira.
Por trás de um piso para a queda
dos juros, há um teto à expansão
do país: é o chamado PIB (Produto Interno Bruto) potencial, que
permite que a economia cresça
sem gerar inflação. Esse indicador
oscila em torno de 3% no Brasil.
Esses limites são reflexos de desequilíbrios internos e externos
da economia brasileira e deverão
reduzir a margem do BC para corte de juros daqui para a frente. A
tendência, dizem analistas, é que
o ritmo de queda da Selic seja menor que o registrado a partir de junho, período no qual a taxa caiu
nove pontos percentuais.
Entre os desequilíbrios internos, estão gargalos como baixo
patamar de investimento na economia, produtividade moderada
e baixo nível de educação.
A queda da taxa de investimentos na economia brasileira nos últimos anos não levou à ampliação
da capacidade de produção.
Ou seja, se há forte crescimento,
a oferta de alguns setores não teria
como atender à demanda, gerando inflação. Baixas escolaridade e
produtividade também contribuem para esse quadro de limite
ao aumento da produção no país.
"Todos esses fatores impõem limites à queda da chamada taxa de
juros real de equilíbrio que é a que
mantém um crescimento razoável com estabilidade de preços",
diz Joel Bogdanski, gerente de política monetária do Itaú.
Bogdanski explica que é difícil
calcular a taxa real de equilíbrio,
principalmente em um país como
o Brasil. A única forma de tentar
chegar a um número aproximado
é analisar dados passados. ]
Nesse caso, considerando-se
um superávit primário (economia do governo para pagar juros
da dívida) de 4,25% do PIB, os juros reais de equilíbrio do Brasil seriam de 10%.
"Mas esse dado é calculado com
base nos últimos oito anos quando o país sofreu choques externos
que, não necessariamente, se repetirão", diz Bogdanski.
Sem novos choques, os juros
reais poderiam cair abaixo de
10%, mas não muito.
Até porque existem limites à
queda de juros impostos também
pela necessidade de financiamento externo do país.
Risco-país
Segundo Luís Henrique Suzigan, economista-chefe da LCA
Consultores, o risco-país dá uma
medida do piso da taxa de juros
real de equilíbrio do Brasil.
Hoje, o risco-país embute juros
cobrados do país de, aproximadamente, 10% (resultado da taxa de
4% paga pelos títulos de dez anos
do Tesouro norte-americano
mais 5,7%).
"De certa forma, uma taxa de
10% é um limite, hoje, porque representa o retorno atraente para o
investidor de fora. E essa é uma
variável fundamental para um
país com alta necessidade de financiamento", diz Suzigan.
Segundo Padovani, melhorias
como o crescimento do saldo comercial, tendem a contribuir para
a redução possível do piso dos juros reais. A LCA, por exemplo, espera que, em 2004, essa taxa já poderá cair para cerca de 9%.
Mas, segundo especialistas, o
caminho para que o país ganhe
espaço para reduzir os juros e,
com isso, volte a crescer mais fortemente tende a ser lento e longo.
Texto Anterior: O vaivém das commodities Próximo Texto: Porta-voz do Fundo elogia decisão do BC Índice
|