São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2008

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Quase 90% das indústrias dizem que já foram afetadas pela crise

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise financeira internacional trouxe uma onda de pessimismo para a indústria brasileira, que prevê dificuldades de vendas e redução em investimentos. Consultadas pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) sobre os impactos da turbulência no país, 88% das empresas informaram que foram afetadas pela crise e 57% contaram que já esperam vendas menores no ano que vem.
A sondagem da CNI indica que a redução dos investimentos não se baseia apenas na perspectiva de crescimento menor da economia brasileira, mas também na dificuldade de obter crédito. Na pesquisa, 71% das empresas disseram ter cancelado ou adiado investimentos e 61% assinalaram dificuldades para obter crédito, como taxas de juros mais altas.
A crise financeira internacional estourou em setembro, levando a uma quase-paralisia nos mercados de crédito por uma desconfiança nos ativos de empresas e bancos. Passado o pior do estrangulamento do crédito, a crise começa a contaminar a economia real, com recessão nos países mais ricos.
Segundo o gerente-executivo de Política Econômica da CNI, Flavio Castelo Branco, foi surpreendente a rápida deterioração nas expectativas do empresariado para o ano que vem, demonstrando que o Brasil está mais integrado ao mercado internacional do que no passado.
"Sabíamos que haveria reavaliação de demanda e vendas para 2009, mas a intensidade foi muito grande. Normalmente, esse recuo do comércio mundial tinha um tempo maior para impactar as empresas porque o lado real tem um ritmo mais lento que o financeiro."
Segundo o levantamento, 19% dos empresários acreditam em recuperação econômica até junho do ano que vem. A CNI consultou, por meio eletrônico, 385 empresas de 25 Estados e 31 setores da economia entre os dias 6 e 14 deste mês, sendo 18% das empresas de grande porte, 34% de médio porte e 48% de pequeno porte.
A maioria das empresas prevê o fim da crise no segundo semestre de 2009 (31%) ou apenas em 2010 (31%).
Mesmo com os números negativos da pesquisa, a CNI avalia que o impacto da crise não será forte a ponto de provocar recessão no país. "O ritmo vai ser menor, as empresas esperam vender menos, mas ainda assim o Brasil vai crescer. Não vamos ter o problema dos países centrais, de recessão", afirmou Castelo Branco.
Segundo a professora de economia da Universidade Católica de Brasília, Dea Guerra Fioravante, o comportamento do câmbio é determinante nos cálculos estratégicos das empresas brasileiras. "As empresas perceberam que os investimentos que já fizeram ficaram muito mais caros do que o esperado. Essas empresas que fizeram investimentos em dólar vão ter dificuldades de honrar essas compras", disse.
Nos últimos três anos, a indústria aproveitou o dólar cada vez mais barato para importar bens de capital, máquinas, equipamentos e insumos. A importação desses itens representa a maior parte das compras brasileiras no exterior.


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