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Quase 90% das indústrias dizem que já foram afetadas pela crise
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A crise financeira internacional trouxe uma onda de pessimismo para a indústria brasileira, que prevê dificuldades de
vendas e redução em investimentos. Consultadas pela CNI
(Confederação Nacional da Indústria) sobre os impactos da
turbulência no país, 88% das
empresas informaram que foram afetadas pela crise e 57%
contaram que já esperam vendas menores no ano que vem.
A sondagem da CNI indica
que a redução dos investimentos não se baseia apenas na
perspectiva de crescimento
menor da economia brasileira,
mas também na dificuldade de
obter crédito. Na pesquisa, 71%
das empresas disseram ter cancelado ou adiado investimentos e 61% assinalaram dificuldades para obter crédito, como
taxas de juros mais altas.
A crise financeira internacional estourou em setembro, levando a uma quase-paralisia
nos mercados de crédito por
uma desconfiança nos ativos de
empresas e bancos. Passado o
pior do estrangulamento do
crédito, a crise começa a contaminar a economia real, com recessão nos países mais ricos.
Segundo o gerente-executivo
de Política Econômica da CNI,
Flavio Castelo Branco, foi surpreendente a rápida deterioração nas expectativas do empresariado para o ano que vem, demonstrando que o Brasil está
mais integrado ao mercado internacional do que no passado.
"Sabíamos que haveria reavaliação de demanda e vendas
para 2009, mas a intensidade
foi muito grande. Normalmente, esse recuo do comércio
mundial tinha um tempo maior
para impactar as empresas porque o lado real tem um ritmo
mais lento que o financeiro."
Segundo o levantamento,
19% dos empresários acreditam em recuperação econômica até junho do ano que vem. A
CNI consultou, por meio eletrônico, 385 empresas de 25
Estados e 31 setores da economia entre os dias 6 e 14 deste
mês, sendo 18% das empresas
de grande porte, 34% de médio
porte e 48% de pequeno porte.
A maioria das empresas prevê o fim da crise no segundo semestre de 2009 (31%) ou apenas em 2010 (31%).
Mesmo com os números negativos da pesquisa, a CNI avalia que o impacto da crise não
será forte a ponto de provocar
recessão no país. "O ritmo vai
ser menor, as empresas esperam vender menos, mas ainda
assim o Brasil vai crescer. Não
vamos ter o problema dos países centrais, de recessão", afirmou Castelo Branco.
Segundo a professora de economia da Universidade Católica de Brasília, Dea Guerra Fioravante, o comportamento do
câmbio é determinante nos cálculos estratégicos das empresas brasileiras. "As empresas
perceberam que os investimentos que já fizeram ficaram
muito mais caros do que o esperado. Essas empresas que fizeram investimentos em dólar
vão ter dificuldades de honrar
essas compras", disse.
Nos últimos três anos, a indústria aproveitou o dólar cada
vez mais barato para importar
bens de capital, máquinas,
equipamentos e insumos. A importação desses itens representa a maior parte das compras
brasileiras no exterior.
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