São Paulo, quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

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FIM ANUNCIADO

Assim como fez com o FMI, governo pretende pagar saldo de US$ 2,5 bilhões com credores antes do prazo

Brasil quer antecipar saída do Clube de Paris

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo quer antecipar para 2006 a liqüidação de sua dívida com o chamado Clube de Paris, grupo de credores que, nos anos 80, renegociou uma parte dos compromissos externos do Brasil.
A decisão foi anunciada pelo ministro Antonio Palocci (Fazenda) durante a reunião ministerial conduzida anteontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ainda não foi definida uma data em que essa antecipação será feita. Segundo documento divulgado pelo Palácio do Planalto com os principais assuntos abordados na reunião ministerial, "o ministro [Palocci] anunciou que as obrigações do país com o Clube de Paris serão quitadas em 2006".
A medida atinge uma dívida de US$ 2,575 bilhões que o Brasil tem com o Clube de Paris e que terminaria de ser paga em 2007. Ao antecipar o pagamento para o ano que vem, o governo dá mais um passo para melhorar o perfil de seu endividamento externo.
Na semana passada, o Ministério da Fazenda já havia informado que decidira antecipar o pagamento de toda a dívida do país com o FMI (Fundo Monetário Internacional) -algo em torno de US$ 15,5 bilhões. Na reunião ministerial de anteontem, a medida foi citada por Palocci como um dos pontos positivos alcançados pelo governo na área econômica.

Peso simbólico
A quitação antecipada da dívida com o FMI representará uma economia de cerca de US$ 900 milhões que seriam pagos em juros entre 2006 e 2008. Mais importante do que isso, porém, é o peso simbólico que a decisão pode ter, já que o governo poderá entrar em 2006, ano de eleição, com o discurso de que o país já não deve mais nada ao Fundo.
No caso do Clube de Paris, o significado da antecipação é ainda mais simbólico, pois, economicamente, o Brasil já deve pouco a esses credores. Os US$ 2,575 bilhões que o país deve a esse grupo representam pouco mais de 2% da dívida externa do setor público, que em setembro estava em US$ 111,580 bilhões.
Além disso, o cronograma original de pagamentos já previa que a dívida com o Clube de Paris seria quitada em menos de dois anos -com pagamentos de US$ 1,704 bilhão em 2006 e de US$ 250 milhões em 2007, além de US$ 621 milhões ainda neste ano.
Apesar do valor relativamente baixo desses compromissos, a sua quitação ajuda o Brasil a se livrar de resquícios da época da moratória da dívida externa. Alguns analistas dizem que o calote dado pelo país nos anos 80 é motivo, até hoje, de desconfiança dos investidores internacionais.
O argumento é discutível, já que muitos países declararam moratória há poucos anos e hoje já têm acesso aos mercados internacionais -a Rússia, por exemplo, deu um calote em 1998, e, hoje, as agências de classificação de risco já dão ao país uma nota melhor que a concedida ao Brasil.
Ainda assim, o fato é que, até hoje, o Brasil está pagando dívidas que começaram a ser renegociadas há mais de 20 anos. É o caso, por exemplo, dos "bradies", títulos emitidos pelo país em 1994 depois de vários anos de negociações com os credores.


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