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LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
Hora dos profissionais
Existe uma forma simples de
enfrentar o desafio da inflação:
um aumento de 3 a 4 pontos na
taxa Selic, ao longo de 2008
A ACELERAÇÃO do crescimento
está criando um quadro macroeconômico altamente
complexo e muito perigoso. Defino-o de forma muito simples: superaquecimento da demanda. Vamos
entrar em 2008 com um risco de inflação elevado e essa questão já está
no topo das prioridades do mercado.
No momento em que escrevo esta
coluna, os juros de um ano apresentam um prêmio de 200 pontos-base
sobre a taxa Selic definida pelo Banco Central.
Diferentemente do que ocorria no
passado, essa ameaça inflacionária
começa a aparecer em um ambiente
de elevada confiança dos agentes
econômicos. O sistema bancário
prevê aumentar a oferta de crédito a
taxas superiores a 20% no próximo
ano, os empresários continuam a investir com entusiasmo e os consumidores foram definitivamente às
compras. De outra parte, os gastos
do governo estão fora de controle
em um momento em que o bom senso econômico sugere uma diminuição da pressão sobre o nível da atividade econômica. Tudo isso, colocado em um caldeirão já em ebulição
nesta virada do ano, aponta claramente para um risco de aumento da
inflação.
Até agora os aumentos de preços
-excluídos alimentos- têm sido
moderados por conta do incrível aumento das importações de bens duráveis e bens de capital. Mas o aumento de renda dos brasileiros já
provoca uma elevação na demanda
de bens e, principalmente, serviços,
que não são protegidos pelas importações. Dou a meu leitor um exemplo bem simples. A construção civil
em mercados mais maduros como
São Paulo está atingindo um nível de
atividade só visto no auge do sucesso
do chamado SFH (Sistema Financeiro da Habitação). A televisão
mostrou recentemente que o lançamento de novas unidades na Grande
São Paulo nos últimos dois meses de
2007 será igual ao total do ano de
2003. Não é por outra razão que a
diária de um auxiliar de pedreiro já
subiu mais de 50%, além de uma
marmita para o almoço de graça.
Os números do IPCA-15 de novembro, recém-divulgados pelo IBGE, mostram de maneira mais clara
esse vazamento da inflação para setores de serviços e outros produtos
que não podem ser importados. O
economista Fabio Ramos, que trabalha comigo na Quest, espera um
IPCA fechado de 4,5% para o ano de
2007 e de 4,7% -portanto, acima do
centro da meta- para os 12 meses
terminados em fevereiro de 2008.
Existe uma convergência entre uma
análise puramente macroeconômica e a evolução dos números da inflação nestes últimos meses.
Todos nós sabemos que a política
econômica do presidente Lula é
uma versão pirata do software herdado do período FHC. Até agora tem
funcionado de forma eficiente. Mas
esse desafio novo que deverá ser enfrentado no próximo ano não está
desenvolvido com profundidade no
software que roda hoje no governo,
até porque não se teve essa conjuntura nos anos FHC. Pela primeira
vez o governo atual terá que enfrentar o desconhecido na gestão da política econômica. E teremos o primeiro teste real para o governo Lula
e seu mosaico de idéias no campo
econômico.
Existe uma forma simples de enfrentar o desafio da inflação: um aumento de três a quatro pontos percentuais na taxa Selic, ao longo de
2008, para desaquecer a economia
via canal de crédito e moderação da
demanda privada. Na falta de medidas mais articuladas para moderar o
crescimento do consumo interno, o
trabalho certamente recairá sobre a
taxa de juros definida pelo Banco
Central.
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS, 64, engenheiro e
economista, é economista-chefe da Quest Investimentos.
Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações
(governo FHC).
lcmb2@terra.com.br
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