São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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LEITE DERRAMADO

Empresa atuou em setores como futebol, imóveis e veterinário; teia começou em 1989, com a Carital Brasil

Parmalat fez labirinto societário no Brasil

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Parmalat construiu um labirinto societário em suas operações brasileiras que deságua na Carital Brasil e nos negócios milionários do futebol -uma das marcas da atuação do grupo no país.
Segundo depoimento de um dos contadores da empresa na Itália, Gianfranco Bocchi, por essa empresa teria escoado boa parte dos 10 bilhões desviados da matriz italiana pelo seu controlador, Calisto Tanzi.
Os elos entre a Carital e as demais empresas do grupo estão registrados na Junta Comercial de São Paulo. A arquitetura dos negócios da Parmalat guarda semelhanças com a de outra empresa italiana -também sob intervenção na Itália e em crise no Brasil. Trata-se da Tecnosistemi, fornecedora da TIM.
A conclusão é do juiz Carlos Henrique Abrão, da 42ª Vara Cível de São Paulo, em cujas mãos estão os dois casos. "A correlação entre os dois grupos está no fato de que diretores e presidentes saíram de empresas e criaram outras, montando uma estrutura intrincada", diz Abrão.
Na teia montada pela Parmalat, a Carital Brasil surge em 1989, como resultado da cisão da holding Parmalat Participações, uma das controladoras das operações locais.
Na Junta Comercial consta como atual sócio da Carital Brasil a Carital Foods, com sede em Curaçao, Antilhas Holandesas. A empresa já teve como sócio outra companhia com sede em paraíso fiscal, a Dancet Corporation, das Ilhas Virgens.
A Carital Brasil funcionava como uma holding dos negócios com clubes de futebol, mas também dedicava-se à administração e locação de imóveis e comercializava produtos veterinários.
Seu braço operacional nos estádios, a Carital Prosport, constituída em 1998, teve como sócio -e presidente- até o ano 2000 o executivo Gianni Grisendi.
Grisendi comandou a Parmalat no Brasil entre 1989 e 2000 e também presidiu a TIM e a Bombril. O executivo foi citado no processo de falência da Tecnosistemi, decretada pelo juiz Abrão, mas suspenso pelo Tribunal de Justiça.

Na rede
Na Carital Prosport revezaram-se como sócios, além de Grisendi, a Parmalat Participações do Brasil, a Parmalat Administração S/A e a Zircônia Participações - todas ligadas ao grupo italiano.
Também eram sócios da Carital Prosport os empresários Francisco Estêvão Mungioli e Carlos Alberto Padeti. Ambos também aparecem como sócios da Zircônia e da Carital Brasil -controladora da empresa.
Em 1992, a Parmalat Indústria e Comércio de Laticínios Ltda.- antiga denominação social da Zircônia Participações- firmou um contrato de co-gestão com Palmeiras e o Juventude (RS). Ela chegou a ter R$ 110,6 milhões em ativos no clube -a maior parte em passes de jogadores.
Outro negócio do grupo na área esportiva foi a compra do Etti Jundiaí Futebol - atual Paulista Futebol Clube, em 1998. A aquisição foi feita pela Carital Prosport e a Parmalat Participações do Brasil, que é representada pelo executivo Carlos Souza Monteiro.
Mas em 2001 a Parmalat Participações se retira e a Carital Prosport distribui suas cotas à Carital Brasil e à Santal Prosport. Todas pertencem ao grupo Parmalat.
Em 2000, quando o grupo Parmalat se retirou do Palmeiras, transferiu para o Paulista Futebol Clube R$ 44,7 milhões, o saldo do seu patrimônio no clube do Parque Antarctica. Em 2002 ocorre a cisão da sociedade, e parte do patrimônio do clube é transferido para a Carital Prosport.


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