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ENTREVISTA
Ricardo K culpa gestão Opportunity por queda nas ações e prevê corte de custo
Herdamos bomba-relógio,
afirma a Brasil Telecom
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
Desde que a nova administração assumiu a Brasil Telecom, em
30 de setembro do ano passado,
as ações da companhia já caíram
16%, depois de uma alta expressiva nas primeiras semanas.
Sem citar o nome do Opportunity, que estava no comando da
empresa, o presidente da BrT, Ricardo Knoepfelmacher, 39, responsabiliza a gestão anterior por
essa queda. "Encontramos uma
bomba-relógio que agora estamos desmontando", afirmou Ricardo K, como é conhecido no
meio empresarial.
Segundo Ricardo K, essa queda
de ações é reflexo principalmente
de uma renegociação de contratos feita pela gestão anterior um
mês antes de os novos administradores entrarem na empresa.
Foram renegociados quase R$ 2
bilhões em contratos, quando a
média mensal da empresa é de R$
150 milhões. Os custos da empresa aumentaram 14%, e o mercado
foi informado disso. "O resultado
da empresa certamente foi afetado por esses novos custos."
Apesar de responsabilizar o Opportunity por essa queda das
ações, Ricardo K afirma que não é
objetivo da empresa retaliar a antiga gestão. "Não vamos ficar chafurdando nessa lama", afirma. "O
passado tem de ser enterrado."
Leia a seguir entrevista à Folha.
Folha - Como o sr. explica a queda
de 16% no preço das ações da Brasil
Telecom desde que a nova gestão
assumiu a empresa?
Ricardo K - Toda informação,
quando mal interpretada, pode
gerar algum ruído. A atual administração da Brasil Telecom pauta
o seu trabalho pela ética, pela
transparência e pela obediência à
lei. Desde a nossa chegada, deparamo-nos com uma série de aumentos de custos que nos obrigaram a tomar medidas estruturais
complexas, e informamos esse
problema ao mercado. Nós tivemos quase R$ 2 bilhões de contratos renegociados pela antiga administração às vésperas da nossa
chegada. Todo mês, a empresa renova cerca de R$ 150 milhões em
contratos.
Em agosto, um mês antes da
nossa chegada, foi renegociado
R$ 1,9 bilhão em contratos, o que
representou um aumento médio
de 14% nos custos de serviços de
terceiros. Essa foi uma bomba-relógio que encontramos e agora estamos desmontando. Nós transmitimos essa informação ao mercado. Herdamos uma situação
muito complicada.
Folha - Como a empresa pretende
desmontar essa bomba-relógio?
Ricardo K - Nós estamos chamando os nossos 25 principais
fornecedores para renegociar os
contratos. Nossa expectativa é
conseguir, em parceria com os
fornecedores, uma redução substancial nos preços desses contratos. Quanto conseguiremos reduzir? Não sei. Nós estamos negociando contrato por contrato.
Folha - É isso o que explica a queda das ações?
Ricardo K - Claro. Ninguém sabia
dessas negociações. O mercado
não tinha esse conhecimento. O
resultado da empresa certamente
foi afetado por esses novos custos.
E também fomos explícitos quanto à queda no mercado de voz fixa, que em 2006 não será compensado pelo reajuste tarifário.
Essa transparência é fundamental
para o mercado avaliar corretamente o valor da ação.
Folha - Foi por isso que a empresa
anunciou a provisão de
R$ 622 milhões?
Ricardo K - Não. A provisão de
R$ 622 milhões foi feita por outros
motivos. Houve necessidade de
atualização da tábua atuarial do
plano de previdência dos funcionários, que estava defasado. As
pessoas hoje vivem mais, e a nossa tábua atuarial estava defasada.
Também tivemos outras contingências decorrentes de processos
trabalhistas e fiscais, aproveitamento indevido do ICMS, e nova
súmula Fust.
Folha - A queda das ações da empresa preocupa?
Ricardo K - Não. Nós temos um
mandato para valorizar a empresa no médio e longo prazos. As
ações começaram a crescer muito, pouco antes da nossa entrada
na empresa, e, depois que alcançaram um patamar bastante alto,
começaram a cair. A ação, hoje,
está no mesmo patamar de duas
semanas antes da nossa chegada à
empresa, quando o mercado já refletia a euforia com a perspectiva
da rápida troca dos antigos gestores. Os fundamentos da empresa
continuam muito sólidos.
Nós recebemos, na semana passada, vários relatórios de analistas. Nós analisamos oito, e esses
mantêm recomendação de compra da ação. Um deles, do banco
ABN Amro, diz que a ação da
companhia tem potencial de crescimento de quase 150%.
O relatório chama a atenção, entre outras coisas, à maior transparência e à nova governança corporativa. As pessoas e o mercado
tinham dúvidas sobre como eram
tratadas essas questões dentro da
empresa. Agora, os investidores
estão muito mais tranqüilos.
Folha - Quais são as perspectivas
da empresa para este ano?
Ricardo K - Nós fizemos uma
reunião com os investidores no
dia 19 dezembro na qual nós explicitamos os nossos planos e a
nossa visão sobre o mercado de
telecomunicações para este ano.
Nós temos alguns ofensores importantes à performance para este
ano. O primeiro deles são as grandes questões regulatórias. Há
uma série de investimentos importantes que nós vamos precisar
fazer para atender às exigências
dos novos contratos de concessão
e à manutenção das agressivas
metas do plano de universalização. O segundo ofensor é o fato de
o nosso principal negócio, a telefonia fixa, estar encolhendo.
Esse não é um fenômeno brasileiro, mas que foi mascarado no
Brasil durante bastante tempo
por causa do índice de correção
de tarifas. A inflação era alta e o
índice anual encarregado do reajuste de tarifa, o IGP, mascarava
esse encolhimento do setor.
Neste ano, com o índice de inflação tão baixo e com a adoção
do novo índice, o IST, nós estimamos que o aumento da tarifa não
vai ser suficiente para compensar
a inexorável queda de receita. E o
terceiro ponto, muito importante,
é que, durante este ano, vamos
partir para cortar custos e buscar
rentabilidade. Nós temos que ser
obsessivos no corte de custos.
Folha - Já foi definida qual será a
nova agência de propaganda?
Ricardo K - Ainda não. Estamos
na fase final. O mais importante,
no entanto, é que a escolha da
agência de propaganda foi feita
dentro da empresa. Antes, a decisão era tomada fora da empresa.
Folha - Antes era o Opportunity
que tomava essas decisões?
Ricardo K - Não localizamos dentro da empresa pessoas que tivessem participado da seleção nem
critérios técnicos no processo.
Agora foi diferente. Avaliamos 25
agências. Dessas, foram escolhidas oito, entre elas a Duda Mendonça, a atual agência principal.
Serão selecionadas duas agências:
uma que vai cuidar da telefonia fixa e móvel e outra que vai cuidar
dos provedores de internet.
Folha - Como o sr. pretende tratar
as irregularidades encontradas da
administração anterior?
Ricardo K - Acho importante dizer que, felizmente, essa agenda
de explicitação das irregularidades toma cada vez menos tempo
dos executivos da empresa.
Quando encontrarmos uma irregularidade, nós vamos tomar as
medidas cabíveis. Não queremos
ficar chafurdando nessa lama. Foi
com esse intuito que fizemos a representação na CVM, além de todas as medidas judiciais que já foram e ainda serão tomadas. Mas
isso toma cada vez menos tempo
da administração da empresa. O
passado tem que ser enterrado.
Folha - A nova gestão está preparando a empresa para ser vendida?
Já há negociações?
Ricardo K - Nosso papel é valorizar a empresa e transformá-la na
melhor empresa de telecomunicações do país. Qualquer negociação com os acionistas está nas
mãos deles. Não temos conhecimento de qualquer negociação.
Os principais parâmetros de avaliação da performance da empresa vêm caindo de 2002, e o nosso
objetivo é recuperá-los. Em nenhum momento foi dito que nosso objetivo é vender a empresa.
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