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REALIDADE VIRTUAL
Games atraem milhões de usuários pelo mundo, e jogadores vendem personagens e itens como armas
Jogos on-line criam economia paralela
PAULA LEITE
DA REDAÇÃO
Os games on-line que unem vários jogadores ao redor do planeta
atraem cada vez mais usuários e
geram milhões de dólares por ano
a seus participantes, num comércio globalizado, desregulado e até
ilegal de personagens, itens e dinheiro virtual.
No Brasil, quem pára de jogar
vende seus personagens por centenas de reais. O preço varia de
acordo com o jogo, com o nível do
personagem e com os equipamentos que possui. Há pessoas
que compram itens e personagens de empresas estrangeiras e
revendem para jogadores no país.
Na China, funcionários de empresas especializadas chegam a
passar 18 horas por dia desenvolvendo personagens e conseguindo itens para vender na internet,
em dólar. Americanos que têm dinheiro, mas pouco tempo para jogar, compram poderosos avatares
-como também são conhecidos
os personagens.
O economista Edward Castronova, da Universidade de Indiana
(EUA), diz que os jogos se tornam
cada vez mais populares entre
adultos e que já há entre 10 milhões e 20 milhões de aficionados
no mundo. E a comercialização
de itens virtuais está se tornando
profissional. "Há mais e mais pessoas que vêem a obtenção de ouro
[do jogo] como um trabalho."
Os mundos virtuais são ambientes gráficos com regras semelhantes às do mundo real. É possível andar pelo mundo, conversar
com pessoas em volta e comprar.
Em alguns jogos, é preciso formar alianças com outros personagens para fazer missões e matar
dragões, por exemplo. Assim se
conseguem itens e ouro do jogo.
Venda
Após dedicar horas a um RPG
on-line, alguns jogadores vendem
seus personagens, porque decidiram parar de jogar ou recomeçar
com outro personagem.
A estudante de engenharia física
Thais França Stefanini, 23, de São
Carlos (SP), vendeu seu avatar do
jogo Tibia. "Estava pensando em
vender, aí fizeram oferta dentro
do jogo. Negociei no jogo e, via
messenger [programa de comunicação instantânea], vendi por
R$ 300."
O personagem que Thais vendeu era um trojan, nível 122 (o
máximo é 130), mas ela explica
que o preço de venda também depende dos equipamentos que o
avatar possui. "Já ouvi falar de
pessoas que venderam personagens por mais de R$ 600", diz.
Ela diz não ter condições de
comprar itens ou personagens.
"Eu compraria itens, se pudesse,
mas personagens não. Dá problema, as pessoas roubam de volta."
Já o engenheiro Caio (nome fictício) jogou o MMORPG Lineage
por seis meses, mas conseguiu um
emprego e vai parar de jogar. Está
pedindo R$ 400 por seu arqueiro
do nível 60 (o máximo é 75).
"Estou vendendo para recuperar o que gastei com o jogo. No Lineage, não tem ninguém que não
compra nada, se você não comprar, não consegue jogar", diz ele.
O problema, afirma Caio, é que o
jogo exige muito tempo.
A reportagem conversou com
pessoas (que não quiseram se
identificar) que não jogam, apenas compram itens e personagens
de empresas dos EUA e os revendem no Brasil.
Elas disseram que quem costuma comprar avatares são jogadores mais experientes, que querem
experimentar como é o jogo com
um personagem de outra "raça"
ou profissão.
Existem também sites brasileiros que se oferecem para "upar"
(desenvolver) os personagens dos
outros. Um desses sites cobra
R$ 600 para levar seu personagem
do game "World of Warcraft" do
nível 1 ao 50, em 12 dias.
Empresas
As empresas que desenvolvem
ou publicam os jogos não costumam permitir que os usuários
vendam itens do game por dinheiro de verdade.
Roberto Messias, gerente de
marketing da OnGames, que representa os games Gunbound,
Pang e WYD, diz que o termo de
usuário não permite a venda de
contas e itens, mas que, na prática, a empresa não consegue proibir que os usuários negociem.
Já a Level Up, que representa o
game Ragnarök no Brasil, cobra
pelo acesso ao jogo, na forma de
cartões pré-pagos comprados em
lojas e LAN houses.
Andrea Bedricovetchi, diretora-geral da Level Up, diz que a empresa não encoraja a venda de
itens e personagens porque isso
distorce os objetivos do game.
Manja Herrmann, do atendimento ao consumidor do jogo
gratuito Tibia, diz que a CipSoft,
responsável pelo jogo, estabelece
nas regras que a venda de itens
por dinheiro não é permitida.
Isso é feito por duas razões: para
proteger o consumidor, já que
existem muitas fraudes nesse tipo
de venda, e porque os usuários legalmente não são donos de seus
itens e avatares do jogo.
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