São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 2006

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REALIDADE VIRTUAL

Games atraem milhões de usuários pelo mundo, e jogadores vendem personagens e itens como armas

Jogos on-line criam economia paralela

PAULA LEITE
DA REDAÇÃO

Os games on-line que unem vários jogadores ao redor do planeta atraem cada vez mais usuários e geram milhões de dólares por ano a seus participantes, num comércio globalizado, desregulado e até ilegal de personagens, itens e dinheiro virtual.
No Brasil, quem pára de jogar vende seus personagens por centenas de reais. O preço varia de acordo com o jogo, com o nível do personagem e com os equipamentos que possui. Há pessoas que compram itens e personagens de empresas estrangeiras e revendem para jogadores no país.
Na China, funcionários de empresas especializadas chegam a passar 18 horas por dia desenvolvendo personagens e conseguindo itens para vender na internet, em dólar. Americanos que têm dinheiro, mas pouco tempo para jogar, compram poderosos avatares -como também são conhecidos os personagens.
O economista Edward Castronova, da Universidade de Indiana (EUA), diz que os jogos se tornam cada vez mais populares entre adultos e que já há entre 10 milhões e 20 milhões de aficionados no mundo. E a comercialização de itens virtuais está se tornando profissional. "Há mais e mais pessoas que vêem a obtenção de ouro [do jogo] como um trabalho."
Os mundos virtuais são ambientes gráficos com regras semelhantes às do mundo real. É possível andar pelo mundo, conversar com pessoas em volta e comprar.
Em alguns jogos, é preciso formar alianças com outros personagens para fazer missões e matar dragões, por exemplo. Assim se conseguem itens e ouro do jogo.

Venda
Após dedicar horas a um RPG on-line, alguns jogadores vendem seus personagens, porque decidiram parar de jogar ou recomeçar com outro personagem.
A estudante de engenharia física Thais França Stefanini, 23, de São Carlos (SP), vendeu seu avatar do jogo Tibia. "Estava pensando em vender, aí fizeram oferta dentro do jogo. Negociei no jogo e, via messenger [programa de comunicação instantânea], vendi por R$ 300."
O personagem que Thais vendeu era um trojan, nível 122 (o máximo é 130), mas ela explica que o preço de venda também depende dos equipamentos que o avatar possui. "Já ouvi falar de pessoas que venderam personagens por mais de R$ 600", diz.
Ela diz não ter condições de comprar itens ou personagens. "Eu compraria itens, se pudesse, mas personagens não. Dá problema, as pessoas roubam de volta."
Já o engenheiro Caio (nome fictício) jogou o MMORPG Lineage por seis meses, mas conseguiu um emprego e vai parar de jogar. Está pedindo R$ 400 por seu arqueiro do nível 60 (o máximo é 75).
"Estou vendendo para recuperar o que gastei com o jogo. No Lineage, não tem ninguém que não compra nada, se você não comprar, não consegue jogar", diz ele. O problema, afirma Caio, é que o jogo exige muito tempo.
A reportagem conversou com pessoas (que não quiseram se identificar) que não jogam, apenas compram itens e personagens de empresas dos EUA e os revendem no Brasil.
Elas disseram que quem costuma comprar avatares são jogadores mais experientes, que querem experimentar como é o jogo com um personagem de outra "raça" ou profissão.
Existem também sites brasileiros que se oferecem para "upar" (desenvolver) os personagens dos outros. Um desses sites cobra R$ 600 para levar seu personagem do game "World of Warcraft" do nível 1 ao 50, em 12 dias.

Empresas
As empresas que desenvolvem ou publicam os jogos não costumam permitir que os usuários vendam itens do game por dinheiro de verdade.
Roberto Messias, gerente de marketing da OnGames, que representa os games Gunbound, Pang e WYD, diz que o termo de usuário não permite a venda de contas e itens, mas que, na prática, a empresa não consegue proibir que os usuários negociem.
Já a Level Up, que representa o game Ragnarök no Brasil, cobra pelo acesso ao jogo, na forma de cartões pré-pagos comprados em lojas e LAN houses.
Andrea Bedricovetchi, diretora-geral da Level Up, diz que a empresa não encoraja a venda de itens e personagens porque isso distorce os objetivos do game.
Manja Herrmann, do atendimento ao consumidor do jogo gratuito Tibia, diz que a CipSoft, responsável pelo jogo, estabelece nas regras que a venda de itens por dinheiro não é permitida.
Isso é feito por duas razões: para proteger o consumidor, já que existem muitas fraudes nesse tipo de venda, e porque os usuários legalmente não são donos de seus itens e avatares do jogo.


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