São Paulo, terça-feira, 22 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS/ EFEITOS

Empresários temem BC mais conservador nos juros

Temor é que reflexos da crise americana provoque alta na Selic e afete o crescimento

Segundo o Iedi, turbulência mundial afeta empresas que tinham planos de expandir seus negócios por meio do mercado de ações

Andy Wong/Associated Press
Mina de carvão na China; crise afeta valor das commodities


DA REPORTAGEM LOCAL

O temor de uma recessão na economia americana -ontem as Bolsas tiveram dia de queda no mundo todo- pode fazer com que o país cresça menos do que o esperado neste ano, na avaliação de empresários. Eles afirmam também que a crise nos mercados pode levar o Banco Central a ser mais conservador na definição da taxa de juros básica da economia, a Selic.
Embora tenha dito que a crise americana ainda não atingiu a indústria brasileira, o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, ponderou ontem que as conseqüências para a economia brasileira são imprevisíveis. Para ele, não há razões domésticas para o Brasil crescer menos que 5% ao ano, mas, com a atual conjuntura econômica mundial, o crescimento pode ser menor.
"Nossa visão aqui dentro é ficarmos antenados [à crise americana], mas sem sofrer por antecipação, pois isso pode criar uma crise com fantasma inexistente", disse Skaf durante evento da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha.
Para Julio Gomes de Almeida, consultor econômico do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), a queda nas Bolsas afeta de imediato as empresas que tinham planos de expandir seus negócios por meio do mercado de ações. "Isso pode resultar em adiamento de expansões, o que não é bom. Agora, falando do impacto na economia em geral, ainda é pouco relevante."
A Abia (Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação) afirma que é cedo para fazer prognósticos, mas diz acreditar que, como os preços dos alimentos estão em alta, o setor não deve ser prejudicado.
Paulo Godoy, da Abdib (Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base), diz que a oscilação das Bolsas pelo mundo ainda não permite tomar decisões. "Na infra-estrutura, os investimentos são decididos olhando-se 30 anos à frente, e não 30 dias". Apesar disso, afirmou, as empresas estão atentas à turbulência.
O economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Nicolas Tingas, afirmou que até agora se viu apenas um "esboço" do pacote fiscal anunciado pelo governo dos EUA na sexta-feira, que foi mal recebido pelo mercado.
"Os mercados sempre extrapolam o pessimismo e o otimismo. O ajuste de preços de ativos pode durar mais dois, três meses no máximo", declarou.
Segundo a Fecomercio (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), uma recessão dos EUA pode influenciar a percepção do Banco Central brasileiro sobre o risco de inflação. Para a federação, a crise norte-americana seria um ingrediente a mais para inibir a trajetória de queda da Selic.
"O Banco Central vai precisar manter taxas de juros que entenda adequadas para o ingresso de capital e isso significa manter taxas de juros altas", diz Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomercio.
A entidade sindical prevê que, com uma eventual recessão nos EUA, o PIB brasileiro dificilmente cresça em torno de 5% neste ano e que o avanço do varejo no Brasil deve ser menor do que o registrado no ano passado. Em 2008, a Fecomercio estima crescimento de 3% no setor, contra o aumento de 4,5% verificado em 2007.
Para Emílio Alfieri, economista da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), é cedo para falar sobre o impacto da queda das Bolsas e de crise nos Estados Unidos no comércio brasileiro. "Até agora, as vendas estão mantendo ritmo de crescimento do ano passado e os últimos indicadores mostram que o consumidor está confiante. Porém, a partir de amanhã, com a decisão do Copom sobre a taxa de juros de economia, situação pode mudar, ou não", diz. "Confesso que não gostei da frase do Henrique Meirelles dizendo que o governo está preparado para agir preventivamente para resolver impacto no país com crise nas Bolsas e nos Estados Unidos. É uma frase estranha, que comporta qualquer tipo de ação, até uma elevação dos juros", diz.


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