São Paulo, sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

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Obama propõe limites para operações de risco de bancos

Regra ainda precisa ser aprovada pelo Congresso, onde lobby de Wall Street é forte

Meta é que instituições não participem de fundos de hedge, de "private equity" ou de outras operações de risco para lucro próprio


Charles Dharapak/Associated Press
O presidente dos EUA, Barack Obama, durante anúncio em que disse estar pronto para a "briga" com lobistas de Wall Street

JANAINA LAGE
DE NOVA YORK

O presidente dos EUA, Barack Obama, propôs ontem uma série de medidas para limitar os riscos que as instituições financeiras podem assumir. Em discurso, Obama lembrou que a origem da crise econômica foi justamente a facilidade que os bancos tinham para assumir riscos em busca de lucro rápido e enormes bônus.
O anúncio é também uma resposta ao descontentamento da população com o comportamento dos principais bancos de Wall Street que receberam socorro do governo. Alguns anunciaram pagamentos de bônus milionários a executivos depois de terem se recuperado do pior momento da crise usando recursos do contribuinte.
A preocupação com o desempenho da economia deverá ser também um dos fatores decisivos nas eleições no Congresso em novembro, em que os democratas procuram assegurar a maioria na Câmara dos Representantes e no Senado. A Casa Branca acaba de sofrer uma derrota política importante com a vitória dos republicanos na disputa de uma vaga no Senado em Massachusetts. Apesar da recuperação do PIB, os americanos ainda lidam com 10% de taxa de desemprego.
"O sistema financeiro está muito mais forte hoje do que há um ano, mas ainda está operando sob as mesmas regras que o levaram próximo do colapso", afirmou o presidente.
Segundo Obama, as regras vigentes permitem que os bancos atuem contra o interesse do cliente de modo que podem assumir riscos que representam uma ameaça a todo o sistema financeiro. "Nunca mais o contribuinte americano será refém de um banco porque ele é muito grande para fracassar."
Na prática, o presidente afirma que os bancos não devem mais se distanciar de sua missão de servir aos clientes e que, portanto, não poderão mais ser donos, investir ou patrocinar fundos de hedge, fundos de "private equity" ou operações que não sejam relacionadas aos serviços que prestam aos clientes, para lucro próprio.
O presidente apelidou as medidas de "Regra Volcker", em referência ao ex-presidente do Fed (o banco central dos EUA) e conselheiro da Casa Branca, Paul Volcker, que havia tempos defendia regras mais rígidas para os bancos. Na prática, as novas normas impõem restrições nas transações de tesouraria feitas pelos bancos comerciais e limitam a forma como eles investem capital próprio.
A notícia teve efeito negativo sobre a Bolsa americana, e as ações de bancos despencaram. Os papéis do JPMorgan caíram 6,59%, os do Bank of America, 6,19%, e os do Citigroup, 5,49%.
A adoção das medidas, porém, depende da aprovação do Congresso, que tem mostrado resistência em relação a propostas de alteração da regulação do sistema financeiro.
O presidente antecipou a oposição em discurso e disse que o que tem visto nas últimas semanas é um exército de lobistas de Wall Street no Congresso. "Se essas pessoas querem briga, essa é uma briga que estou pronto para ter. E minha resolução só se fortalece quando vejo a volta às antigas práticas nas firmas que estão lutando contra a reforma", disse.
Neste mês, o presidente já havia anunciado a cobrança de uma taxa sobre ativos de risco de grandes instituições financeiras. A justificativa era que o imposto ajudaria a recuperar o custo da operação de socorro realizada em 2008.


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