São Paulo, terça-feira, 22 de fevereiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BNDES lucra pouco com empréstimos

GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) lucrou apenas cerca de R$ 70 milhões em 2004 com suas operações de empréstimos, um resultado pífio em relação aos R$ 160 bilhões de seus ativos e aos R$ 40 bilhões liberados pelo banco em financiamentos.
O lucro total no balanço do banco, no entanto, deverá ser muito maior, mas nele estará incluída a valorização das ações da carteira da BNDESpar (BNDES Participações), o braço do banco para o mercado de capitais. As empresas registraram recorde de valorização de ações em 2004.
De acordo com o que a Folha apurou, o lucro total do banco no ano passado, incluindo o resultado da chamada equivalência patrimonial das ações da BNDESpar, deverá ficar próximo de R$ 2 bilhões, quase o dobro do recorde de R$ 1 bilhão registrado em 2003.
O resultado do BNDES em 2004 foi afetado pela perda de R$ 280 milhões com as operações de repasses de empréstimos do Banco Santos, que foram lançadas no balanço do banco estatal como provisão para credores duvidosos. O banco de Edemar Cid Ferreira, sob intervenção do Banco Central, foi um dos maiores agentes de repasse de empréstimos do BNDES nos últimos cinco anos.
Sem o resultado da BNDESpar e se fossem incluídas as perdas do Banco Santos, o balanço do BNDES teria fechado com prejuízo. Em 2003, o que também salvou o BNDES do prejuízo foi o acordo conseguido nos últimos dias do ano com a AES. Caso contrário, o balanço do banco teria fechado no vermelho em 2003.

Ducha de água fria
Os números do BNDES foram apresentados por Guido Mantega, presidente do banco, durante a reunião do CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial), realizado em Brasília, na quinta-feira passada.
O objetivo de Mantega, ao apresentar esses números, foi o de atenuar a pressão dos empresários para o BNDES reduzir os "spreads" (diferença entre a taxa de captação e a cobrada na ponta pelos bancos) cobrados em seus empréstimos. O lucro do BNDES em suas operações é pífio porque, segundo Mantega, os "spreads" são baixos. O presidente do BNDES deixou claro que será muito difícil o banco conseguir baixar o "spread".
O lucro operacional do BNDES é historicamente baixo. Em 2003, por exemplo, ficou em cerca de R$ 100 milhões, para um total de R$ 33 bilhões em liberações. O banco fez essas contas para mostrar aos empresários as dificuldades para baixar o "spread".
A redução do "spread" nos empréstimos cobrados pelo BNDES foi uma proposta apresentada no ano passado pelo presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), depois encampada por outros empresários.
A reunião de quinta-feira contou com a participação de pesos-pesados como Jorge Gerdau (Gerdau), Eugênio Staub (Gradiente), Josué Gomes da Silva (Coteminas) e Paulo Godoy (Abdib).
Mantega disse que o BNDES constituiu um grupo de trabalho para ver se havia condições de promover redução dos "spreads". Os estudos não foram interrompidos, apesar dos resultados do ano passado. Os empresários não saíram muito esperançosos.
De acordo com a exposição de Mantega, o "spread" médio cobrado pelo BNDES é de 2,5% -varia de 1% a 4,5%, dependendo do empréstimo. O "spread" cobre as despesas do banco e mais os impostos (25% de Imposto de Renda sobre o lucro e 9% de contribuição sobre o lucro líquido).
Na reunião do CNDI, Mantega fez ainda uma comparação com os resultados do Bird (Banco Mundial) e do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). O lucro dessas duas instituições corresponde a 5% do patrimônio. O resultado do BNDES é inferior.
Mantega chamou a atenção para o fato de que o Bird e o BID são isentos de impostos -são bancos de desenvolvimento. Alguns dos empresários na reunião logo propuseram a idéia de o governo isentar o BNDES de impostos.
Também presente à reunião, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, não se manifestou.


Texto Anterior: Petrobras ganha mais na Argentina
Próximo Texto: Panorâmica - Energia: Consumo em São Paulo aumenta 5,7% em janeiro, e base atinge 13,3 milhões
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.