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Suposto "cartel de tênis" é investigado
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A Procuradoria de Justiça do Estado de São Paulo irá solicitar à
Promotoria de Justiça do Consumidor a abertura de um inquérito
civil contra as marcas Nike, Reebok e Mizuno. Os promotores
querem investigar se os fabricantes praticaram crime no intuito de
promover a formação de cartel na
venda de seus tênis no varejo. A
Procuradoria ainda irá pedir
abertura de inquérito policial ao
Ministério Público Estadual e expedirá um ofício neste mês à SDE
(Secretaria de Direito Econômico), do Ministério da Justiça, solicitando a apuração do caso.
Como a ação se caracteriza como crime contra a ordem econômica, a pena inclui multa ou reclusão de até dois a cinco anos para os responsáveis.
As investigações devem começar porque a Procuradoria Geral
foi informada ontem, por meio de
um relatório do deputado estadual Orlando Morando (PL), com
50 páginas, de que há modelos das
marcas sendo vendidos em lojas
por preços exatamente iguais, inclusive nos centavos. Morando
fez um levantamento em 29 lojas
de ruas e em shoppings para verificar se havia variação nos valores
cobrados entre os pontos-de-venda. Sete shoppings de São Paulo
fizeram parte do levantamento,
entre eles o Iguatemi e o Ibirapuera, além de outros localizados no
ABC paulista.
Foram feitas entrevistas com gerentes de lojas para entender como funcionava o processo de
compra dos itens com a indústria.
Nas entrevistas, afirma o deputado, há a confirmação por parte
dos comerciantes a respeito da
imposição de preços, que seria
determinada pelas três multinacionais. A loja que não seguisse o
valor definido pela empresa seria
"boicotada", diz o deputado, e
perderia o direito de revenda. O
levantamento demorou um mês
para ser preparado.
Os comerciantes teriam dito
que continuavam a revender as
mercadorias porque, mesmo sob
pressão, precisavam do item porque ele traz tráfego para as lojas.
O relatório informa, por exemplo, que dois modelos, o Nike
Shox feminino cor-de-rosa (seis
molas) e o Mizuno Wave Creation
têm o mesmo preço de venda nos
29 pontos. Os produtos custam,
respectivamente, R$ 529,90 e R$
499,90. No caso do Reebok Diamond DMX Extreme, os valores
cobrados pelos pontos são dois:
R$ 499 ou R$ 529. Variam de
acordo com o ponto-de-venda.
Entre as 29 lojas analisadas, estão: World Tennis, Centauro, A
Esportiva, Authentic Feet, Mr.
Shoes, entre outras. Ontem, a Folha procurou algumas redes citadas. A gerência de uma das lojas,
que solicitou o anonimato, informou apenas que recebe um preço
sugerido por parte dos três fabricantes. Com base nesse valor, o
ponto determina o preço final
-que inclui a margem de lucro
da loja.
No site na internet de duas
grandes redes de calçados, por
exemplo, tanto o Nike Shox (rosa)
com seis molas como o Mizuno
Wave Creation (prata e preto)
têm os mesmos preços: R$ 529,90
e R$ 499,99, respectivamente.
"Segundo a informação do deputado, são as mercadorias top de
linha das marcas que são vendidas com preços idênticos. Isso
impede que o consumidor pesquise e encontre o item mais barato. Então, se confirmada, a atitude
dos fabricantes acaba resultado
na formação de cartel de preços
entre lojas", disse ontem Rodrigo
César Rebello Pinho, procurador-geral de Justiça do Estado de São
Paulo.
Segundo o procurador, o que o
relatório mostra não é uma semelhança entre valores dentro de
uma mesma loja, mas entre concorrentes. Portanto, é crime contra a ordem econômica e contra as
relações de consumo determinada na lei federal 8.137/90. Segundo
a lei, "abusar do poder econômico, dominando o mercado ou eliminando, total ou parcialmente, a
concorrência mediante ajuste ou
acordo de empresas" é crime. A
pena é de reclusão, de dois a cinco
anos, ou multa.
Os fabricantes serão chamados
pelo Ministério Público e pela
Promotoria de Justiça do Consumidor para serem ouvidos.
O temor do deputado é que os
lojistas voltem atrás e não confirmem a ação dos fabricantes para a
promotoria. Se isso acontecer, diz
ele, ficará difícil sustentar as afirmações presentes no relatório e
que deram origem a investigação.
"Isso começou porque eu fui
comprar um tênis e percebi que
os preços eram iguais. Então começamos a levantar dados. Mas a
ação da indústria só pôde ser confirmada com a ajuda dos comerciantes", diz ele.
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