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análise
Proposta tem poucas chances de prosperar
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na muito improvável hipótese de vir a prosperar politicamente, a nova proposta
de reforma tributária significará um muito provável aumento da carga de impostos,
taxas e contribuições cobradas por União, Estados e municípios.
Não há outra forma de, como promete o governo, simplificar o sistema tributário
nacional sem descontentar
nenhum dos 27 governadores e mais de 5.500 prefeitos,
além do próprio presidente
Lula. Para garantir uma reforma sem perdas, será preciso nivelar todas as novas
alíquotas por cima.
Como suas antecessoras,
fracassadas desde o governo
Collor, a reforma de Lula
parte do diagnóstico mais
consensual sobre as distorções da tributação no país: há
um excesso de impostos e
contribuições indiretas, ou
seja, embutidas nos preços
dos bens e serviços -e, portanto, ICMS, ISS, Cofins, IPI,
PIS e Cide, para ficar nos
mais importantes, poderiam
se tornar um único tributo.
Mas é justamente essa miríade de siglas que permite
ao Brasil ostentar uma carga
tributária superior à de qualquer outro país de renda média. Cada uma delas, além
disso, significa um feudo de
arrecadação para esferas de
governo ou setores da administração pública.
O ICMS é a principal receita dos Estados; o ISS, dos
municípios. Da Cofins, 20%
ajudam o Tesouro Nacional a
cumprir suas metas fiscais;
parte do PIS banca os empréstimos do BNDES; a Cide
é repartida com Estados e
municípios para manter as
estradas. O IPI, além de compartilhado, é usado para estimular áreas como a Zona
Franca de Manaus e restringir o consumo de produtos
como cigarros e bebidas.
De tão complicada, a idéia
de criar um tributo único sobre o consumo foi trocada,
ainda no governo FHC, por
um modelo de dois tributos:
um IVA (Imposto sobre Valor Agregado) nacional e um
estadual, que englobaria
ICMS e ISS. A mesma idéia
foi anunciada pelo governo
petista no ano passado.
Na versão apresentada ontem, porém, o IVA estadual
já não aparece mais, porque
os municípios não querem
abrir mão do ISS. Mesmo o
IVA federal, mantido, ficou
esvaziado com a decisão de
manter o IPI, o segundo
maior tributo federal sobre o
consumo -e suas alíquotas
terão de compensar não só os
tributos a serem extintos como os benefícios prometidos
para as folhas de salários.
A medida mais ambiciosa
continua a mesma de 2003:
uma legislação nacional para
o ICMS e a fixação de alíquotas uniformes por produto
em todo o país -hoje, cada
Estado tem sua legislação, e
há 44 alíquotas diferentes.
Mesmo fadada a enfrentar
empecilhos, a nova reforma
servirá ao menos para evitar
que Lula seja acusado de ter
deixado o assunto de lado.
Para o petista, não seria politicamente correto responder
que a única reforma levada a
cabo na história recente foi
imposta pela ditadura militar na década de 60 e elevou a
carga tributária de 18% para
25% da renda nacional.
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