São Paulo, domingo, 22 de fevereiro de 2009

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China sai às compras no mundo em crise

País aproveita preços baixos para fazer negócios em setores como mineração e energia; um deles é com a Petrobras

Com a relutância dos grandes bancos em emprestar, as reservas chinesas de US$ 2 tri são bem recebidas por governos e companhias

DAVID BARBOZA
DO "NEW YORK TIMES", EM XANGAI

Em um mundo que está sofrendo com o aperto no mercado de crédito, a China subitamente saiu às compras.
Pequim fechou acordo para emprestar US$ 10 bilhões à brasileira Petrobras em troca de um compromisso de suprimento de petróleo a longo prazo. O investimento surgiu após contratos semelhantes serem assinados na semana passada com Rússia e Venezuela, o que leva o total de gastos chineses em petróleo neste mês a US$ 41 bilhões.
A maior produtora chinesa de alumínio também fechou acordo para investir US$ 19,5 bilhões na Rio Tinto, uma das maiores mineradoras do mundo. Na segunda-feira, a China Minmetals Corporation fez oferta de US$ 1,7 bilhão pela OZ Minerals, uma grande mineradora de zinco da Austrália.
Com dinheiro em caixa e ansiosos por tirar vantagem dos baixos preços das commodities, os chineses estão uma vez mais na batalha pela energia e pelos recursos naturais mundiais, para manter abastecida uma economia cada vez mais poderosa. Desta vez, a China vem sendo bem recebida.
O presidente Hu Jintao realizou há duas semanas sua "turnê da amizade e cooperação" na África, onde a China tem interesses substanciais em recursos naturais e mineração. O vice-presidente Xi Jinping visitou a América do Sul, onde se reuniu com líderes do Brasil e da Venezuela para assinar acordos de cooperação sobre petróleo e minerais.
A Venezuela recebeu empréstimo de US$ 6 bilhões e concordou em elevar suas exportações de petróleo à China, o que aumentou os investimentos da terceira maior economia global no país para US$ 12 bilhões. No Brasil, a China assinou acordo de US$ 10 bilhões que garante ao país 160 mil barris diários de petróleo a preços de mercado.
E, em Pequim, na semana passada, o primeiro-ministro Wen Jiabao se reuniu com o premiê russo, Vladimir Putin, depois que a China fechou acordo para emprestar à problemática estatal petroleira Rosneft e à operadora de oleodutos Transneft um total de US$ 25 bilhões em troca de 15 milhões de toneladas anuais de petróleo cru, por 20 anos.
"Eles estão praticando diplomacia energética pesada", disse Philip Andrews-Speed, diretor do centro de política energética da Universidade de Dundee, na Escócia. "Se você precisa de dinheiro, vai para onde tem e, hoje em dia, esse lugar é a China."
Os investimentos anunciados são os maiores da China desde 2005, quando uma estatal petroleira tentou sem sucesso adquirir o grupo de petróleo americano Unocal. A transação foi rejeitada em parte devido ao temor de que a China estivesse tentando estender seu controle sobre os recursos naturais.
Mas o mundo mudou de lá para cá. Os preços das commodities caíram de forma acentuada nos últimos meses, após uma longa alta alimentada em parte pela voraz demanda chinesa por energia e recursos. E a China acumulou quase US$ 2 trilhões em reservas cambiais estrangeiras, o que propicia fácil acesso ao capital.
Analistas dizem que ainda há preocupações quanto à possibilidade de a China entrar em competição com outros países, como Índia e EUA, por petróleo e outros recursos naturais.
Mas outros especialistas afirmam que os investimentos chineses foram bem recebidos porque ajudariam a financiar o desenvolvimento necessário, elevando a oferta mundial de petróleo e recursos naturais em um momento no qual muitos dos maiores bancos do mundo relutam em emprestar.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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