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China sai às compras no mundo em crise
País aproveita preços baixos para fazer negócios em setores
como mineração e energia; um deles é com a Petrobras
Com a relutância dos grandes
bancos em emprestar, as
reservas chinesas de US$ 2 tri
são bem recebidas por
governos e companhias
DAVID BARBOZA
DO "NEW YORK TIMES", EM XANGAI
Em um mundo que está sofrendo com o aperto no mercado de crédito, a China subitamente saiu às compras.
Pequim fechou acordo para
emprestar US$ 10 bilhões à
brasileira Petrobras em troca
de um compromisso de suprimento de petróleo a longo prazo. O investimento surgiu após
contratos semelhantes serem
assinados na semana passada
com Rússia e Venezuela, o que
leva o total de gastos chineses
em petróleo neste mês a
US$ 41 bilhões.
A maior produtora chinesa
de alumínio também fechou
acordo para investir US$ 19,5
bilhões na Rio Tinto, uma das
maiores mineradoras do mundo. Na segunda-feira, a China
Minmetals Corporation fez
oferta de US$ 1,7 bilhão pela OZ
Minerals, uma grande mineradora de zinco da Austrália.
Com dinheiro em caixa e ansiosos por tirar vantagem dos
baixos preços das commodities, os chineses estão uma vez
mais na batalha pela energia e
pelos recursos naturais mundiais, para manter abastecida
uma economia cada vez mais
poderosa. Desta vez, a China
vem sendo bem recebida.
O presidente Hu Jintao realizou há duas semanas sua "turnê da amizade e cooperação" na
África, onde a China tem interesses substanciais em recursos naturais e mineração. O vice-presidente Xi Jinping visitou a América do Sul, onde se
reuniu com líderes do Brasil e
da Venezuela para assinar
acordos de cooperação sobre
petróleo e minerais.
A Venezuela recebeu empréstimo de US$ 6 bilhões e
concordou em elevar suas exportações de petróleo à China,
o que aumentou os investimentos da terceira maior economia
global no país para US$ 12 bilhões. No Brasil, a China assinou acordo de US$ 10 bilhões
que garante ao país 160 mil barris diários de petróleo a preços
de mercado.
E, em Pequim, na semana
passada, o primeiro-ministro
Wen Jiabao se reuniu com o
premiê russo, Vladimir Putin,
depois que a China fechou
acordo para emprestar à problemática estatal petroleira
Rosneft e à operadora de oleodutos Transneft um total de
US$ 25 bilhões em troca de 15
milhões de toneladas anuais de
petróleo cru, por 20 anos.
"Eles estão praticando diplomacia energética pesada", disse
Philip Andrews-Speed, diretor
do centro de política energética
da Universidade de Dundee, na
Escócia. "Se você precisa de dinheiro, vai para onde tem e, hoje em dia, esse lugar é a China."
Os investimentos anunciados são os maiores da China
desde 2005, quando uma estatal petroleira tentou sem sucesso adquirir o grupo de petróleo
americano Unocal. A transação
foi rejeitada em parte devido ao
temor de que a China estivesse
tentando estender seu controle
sobre os recursos naturais.
Mas o mundo mudou de lá
para cá. Os preços das commodities caíram de forma acentuada nos últimos meses, após
uma longa alta alimentada em
parte pela voraz demanda chinesa por energia e recursos. E a
China acumulou quase US$ 2
trilhões em reservas cambiais
estrangeiras, o que propicia fácil acesso ao capital.
Analistas dizem que ainda há
preocupações quanto à possibilidade de a China entrar em
competição com outros países,
como Índia e EUA, por petróleo
e outros recursos naturais.
Mas outros especialistas afirmam que os investimentos chineses foram bem recebidos
porque ajudariam a financiar o
desenvolvimento necessário,
elevando a oferta mundial de
petróleo e recursos naturais em
um momento no qual muitos
dos maiores bancos do mundo
relutam em emprestar.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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