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São Paulo, sábado, 22 de março de 2003

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Guerra longa muda acordo com o FMI

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo avalia que já tomou as providências necessárias para proteger a economia brasileira dos efeitos da guerra no Iraque, considerando a hipótese de um desfecho rápido para o conflito. No caso de uma guerra longa, as opções mais extremas incluem mudanças no acordo com o Fundo Monetário Internacional.
Até agora, o cenário dado como mais provável ainda é o primeiro. Na avaliação da equipe econômica, uma guerra rápida pode trazer alguma turbulência ao mercado, mas não a ponto de significar um choque como o do ano passado -quando cessou o crédito ao país e o dólar disparou.

Temores
O governo não gosta de falar dos cenários mais pessimistas, para não alimentar temores e especulação no mercado. Mas, no Ministério da Fazenda e no Banco Central, diz-se que o país tem como responder a uma situação de escassez de capital externo e seu impacto inflacionário.
Uma possibilidade é deixar para 2004, parcial ou totalmente, o pagamento de US$ 12,3 bilhões a ser feito neste ano ao FMI, o que, segundo os técnicos, não encontraria maior oposição no organismo. Dessa forma, haveria mais folga nas contas externas.
Também é viável negociar com o Fundo a eliminação do piso de US$ 5 bilhões para as reservas em dólar do BC líquidas (excluindo recursos emprestados pelo FMI). Com isso, o volume disponível para intervenções no mercado destinadas a conter a alta do dólar subiria para US$ 14,7 bilhões, o valor total das reservas líquidas.
No caso de alta da inflação em razão de nova desvalorização cambial, a receita é a de sempre: mais juros e, se preciso, novos cortes de gastos. Não por acaso, o BC preventivamente sinalizou nesta semana uma tendência de alta das taxas.

Dívida pública
A guerra poderá afetar a trajetória de redução da dívida pública esperada para este ano. Mas, segundo as projeções do Ministério da Fazenda, isso seria temporário. Em 2004, em todos os cenários feitos pelos técnicos, o montante da dívida em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) será reduzido.
O secretário de Assuntos Internacionais do ministério, Otaviano Canuto, explicou que foram construídos três cenários: básico, otimista e pessimista. Em todos foi levada em conta a manutenção do superávit primário (receitas maiores que despesas, exceto juros) atual de 4,25% do PIB.
As duas outras hipóteses do cenário básico são uma taxa de juros real (acima da inflação) de 8% ao ano e o preço do dólar de R$ 3,50. A mudança nessas variáveis é o que define os tipos de cenários. Hoje, a dívida pública está em quase 56% do PIB. No pior cenário, ela poderia atingir 58,5% do PIB em meados deste ano, mas, em 2004, a expectativa é de redução. O cenário básico projeta 53,9% para o ano que vem.
"O importante é saber que nós temos condições de garantir a sustentabilidade da dívida", afirmou Canuto.
Ele disse que, apesar de a equipe econômica acreditar que a guerra vá durar pouco, de dois a três meses no máximo, causou preocupação uma recente declaração do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, de que o conflito pode durar mais do que o esperado.
O governo ainda pode sacar cerca de US$ 20 bilhões do FMI neste ano e mais US$ 700 milhões do Bird (Banco Mundial). Neste ano, já entraram US$ 4,1 bilhões do FMI e nos próximos dias entrarão US$ 505 milhões do Bird.


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