São Paulo, terça-feira, 22 de março de 2005

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PECUÁRIA

Produtores prevêem queda na natalidade do gado, no peso e nas exportações

Seca afeta pecuária de corte no RS

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

A estiagem que castiga o Rio Grande do Sul há cerca de três meses e a má qualidade das pastagens no verão -período de engorda do gado para, com reservas de calorias, enfrentar os pastos ruins do outono e do inverno- pode prejudicar o futuro da pecuária de corte do Estado, com redução na natalidade, no peso do rebanho e nas exportações.
Devem ocorrer: 1) uma quebra na natalidade de 20% do gado bovino (cerca de 625 mil bezerros deixarão de nascer em razão da estiagem); 2) diminuição dos abates pelos próximos dois anos; 3) perda de entre 10 e 15 quilos em média no peso dos filhotes; e 4) queda nas exportações. O Frigorífico Mercosul, um dos mais importantes do Estado (com cinco unidades), por exemplo, já conta com uma diminuição de 30% nas suas vendas externas.
O presidente da comissão de pecuária de corte da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), Fernando Adauto, aponta vários motivos para prever um aumento nos prejuízos -que já chegam a R$ 678 milhões, apenas em relação à comercialização de curto prazo.
""Primeiro, o gado que estava em processo de engorda não se aprontou adequadamente. Houve, por isso, abates antecipados, para garantir a venda. Quanto à reprodução, a vaca não entrou no cio. Animal sem alimento fica com suas funções biológicas prejudicadas", afirmou.
O Rio Grande do Sul não é o primeiro criador nacional de gado bovino. Antes, segundo Adauto, vêm Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais. Os gaúchos têm 8% do rebanho nacional e 8% das exportações -120 mil toneladas/ano.
O que coloca o Estado em destaque no setor é o consumo. São produzidas cerca de 600 mil toneladas/ano de carne bovina e consumidas a mesma quantidade -isso representa consumo de 60 quilos per capita.
""Costumamos comprar de outros Estados para compensar nossas exportações. Isso não vai aumentar porque trabalhamos com uma estimativa de queda no consumo, em razão da queda na renda da população", diz.

Chuvas
As chuvas que atingiram o Estado nos últimos dias beneficiaram as pastagens cultivadas e nativas, mas não foram suficientes para superar os prejuízos.
De acordo com a Emater, a maior umidade no solo possibilita o rebrote dos campos nativos e pastagens cultivadas de verão, e viabiliza os pastos de inverno. De imediato, os campos reverdecem, mas é necessário algum tempo até que haja uma melhora significativa das condições.
Técnicos da Emater dizem que a grande expectativa é saber se haverá tempo e condições para a recuperação dos pastos antes que as temperaturas comecem a baixar.
Como aspecto positivo, os técnicos afirmam que o plantio das pastagens de inverno já é possível, especialmente a de aveia. Em cerca de 45 dias, caso a estiagem termine, será possível um pastoreio regular.
Os pecuaristas já adotam algumas alternativas em relação à estiagem e ao pasto precário no inverno: alguns começam a aproveitar resíduos da lavoura de arroz para a formação do feno; outros vendem gado antecipadamente aos frigoríficos, para aproveitar o peso ainda alto -o prejuízo é de cerca de 30%.


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