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ORÇAMENTO
Comparação de despesa per capita é feita com 2 últimos anos de FHC
Sob Lula, gasto social cai e assistencial sobe, diz estudo
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O gasto social per capita caiu
nos três primeiros anos do governo do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva em comparação com os
últimos anos do governo de Fernando Henrique Cardoso. O gasto médio per capita entre 2003 e
2005 foi de R$ 1.492, contra R$
1.534 nos dois últimos anos de
mandato de FHC.
Os cálculos sobre gasto social
foram apresentados ontem pelo
economista Marcio Pochmann,
ex-secretário do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da
Prefeitura de São Paulo na gestão
Marta Suplicy (2001-2004), hoje
pesquisador do Instituto de Economia da Unicamp.
Pochmann usou o indicador
per capita por considerar que ele é
"a medida mais fina" para apurar
o comportamento dos gastos sociais, já que, na prática, ele está
tentando medir os gastos com
atendimento de saúde, educação,
assistência social, que, teoricamente, deveriam crescer com
uma população relativamente
maior. Os valores foram atualizados pelo IGP-DI, índice de preços
da Fundação Getúlio Vargas.
O pesquisador só obteve dados
que permitem comparações interanuais a partir de 2001, por isso
ele compara apenas os dois últimos anos de FHC com os três primeiros de Lula. A queda na gestão
de Lula é quase totalmente explicada pelo aperto econômico de
2003, quando o gasto social por
habitante caiu de R$ 1.546 em
2002 para R$ 1.414, queda de cerca
de 9%.
"Na verdade há uma certa estabilidade do gasto social. O ano de
2003 foi exceção", diz Pochmann.
Após a queda de 2003, o gasto voltou a subir em 2004 (7,7%) e em
2005 (1,1%), mas não atingiu o pico de 2002, quando o gasto social
por habitante foi, nas estimativas
de Pochmann, de R$ 1.546,02.
Assim, em todo o período analisado pelo economista da Unicamp há um comportamento
bem homogêneo dos gastos caso
seja realmente excetuado o ano de
2003.
Assistência social
A única grande diferença marcante na gestão Lula são os gastos
com assistência social, rubrica
onde estão incluídos os gastos dos
programas assistenciais e de
transferência de renda, como o
Bolsa Família. Nesse caso, há aumento significativo. Nos três anos
do governo Lula, os gastos com
assistência social subiram, em
média, 11,11% em relação aos dois
últimos anos de FHC.
Uma comparação com outros
gastos do Orçamento mostra que
o crescente esforço do governo
para atingir superávits fiscais cada vez maiores, pelo menos no caso do superávit primário, que não
considera o pagamento de juros
da dívida pública, não comprometeu significativamente os gastos sociais. O preço do aperto,
sempre na comparação segundo a
metodologia de Pochmann, que
considera o gasto por habitante,
recaiu mais fortemente sobre o
investimento do governo.
Investimentos
Enquanto entre 2001 e 2002 os
gastos de investimento do governo federal eram de R$ 115,45 por
habitante, entre 2003 e 2005 eles
caíram, em média, para R$ 63,98,
redução de consideráveis 39,7%.
O gasto por habitante com encargos da dívida pública também
caiu -era de R$ 1.012,50 no primeiro período e ficou em R$
880,97 no segundo, queda de
aproximadamente 13%.
Não são poucos os economistas
que apontam para a taxa crescente dos gastos sociais como um
problema a ser enfrentado pelo
Brasil. Na prática, todos apontam
para a Previdência Social. Mais de
dois terços do gasto social per capita brasileiro são consumidos
pela Previdência Social.
A Previdência gastou, no ano
passado, R$ 1.033 do total de R$
1.539 por habitante despendido
pelo governo federal. Um ajuste
fiscal mais rigoroso, diz parte dos
economistas, só seria sustentável,
na pior das hipóteses, com estancamento do déficit da Previdência, na melhor, com sua redução.
Em ambos os casos, seria necessário, dizem os analistas, reformar o
sistema previdenciário.
"Os conservadores dizem que o
espaço para fazer mais superávit
primário são os gastos sociais. É
claro que parte dele poderia ser
reorganizado ou feito de maneira
mais eficaz, mas a discussão é
ideologicamente enviesada. O
gasto social pode não ser feito de
maneira perfeita, mas o financiamento da dívida é?", diz Pochmann, referindo-se aos mais de
8% do PIB que o Brasil gasta com
pagamento de juros anualmente.
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