São Paulo, sábado, 22 de abril de 2006

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TENSÃO ENTRE VIZINHOS

País afirma que brasileiros e paraguaios apóiam pedido para que conselho do Mercosul discuta o tema

Uruguai diz ter aval do Brasil sobre "papeleira"

FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES

O Uruguai anunciou ontem que tem o apoio do Brasil e do Paraguai para levar para o Mercosul a "guerra das papeleiras" que trava com a Argentina, deixando a Casa Rosada isolada ao dizer que o problema é "exclusivamente bilateral".
Um comunicado distribuído ontem pela chancelaria uruguaia informa que os dois países apoiaram o pedido do Uruguai de convocar uma reunião extraordinária do Conselho de Mercado Comum do bloco para discutir o tema -a instância é formada por todos os chanceleres do bloco.
Ontem, não foi possível ouvir o Itamaraty sobre o tema. Mas fontes diplomáticas brasileiras e na chancelaria paraguaia confirmavam que os países são favoráveis à convocação, que se faz por consenso. A Argentina, que tem a presidência temporária do Mercosul, resiste.
Formalmente, o Uruguai quer discutir os bloqueios na fronteira por parte de argentinos que se opõem à construção de duas fábricas de celulose em território uruguaio. Na prática, uma convocação do conselho traria a controvérsia inteira para o Mercosul.
A Argentina alega que, no projeto das "papeleiras", os uruguaios violaram o tratado do rio Uruguai e insiste em levar a questão ao Tribunal Internacional de Haia, sem passar pelo bloco.
Para o Brasil, a percepção é que uma contenda entre dois sócios numa instância fora do Mercosul fragilizaria ainda mais o bloco.
"O Brasil também pensa que o Mercosul demonstra força a ser capaz de debater em suas instâncias o conflito. A princípio, queremos que se discutam os bloqueios, mas não nos opomos que se discutam regras comuns ambientais no bloco, que sejam seguidas por todos", disse à Folha Carlos Amorim, diretor-geral de Assuntos Econômicos e Integração da chancelaria uruguaia.
O conflito, além de regional, já toca a Finlândia e a Espanha (países de origem das "papeleiras"), às vésperas de uma reunião considerada estratégica: a cúpula União Européia-América Latina, em maio.

Kirchner em São Paulo
Ontem, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, negou ter pedido ajuda do Brasil no conflito. A crise, porém, deve dominar o encontro entre Kirchner e Lula na noite de terça em São Paulo. A reunião, anunciada ontem, será a segunda bilateral do ano.
No dia seguinte, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, vai se juntar à dupla. Esse novo encontro tripartite deve se centrar em dois temas: o projeto do megagasoduto entre os países, questionado por aspectos técnicos, e a "guerra da papeleiras".
É que, antes de ir ao Paraná na quinta-feira, Chávez se reuniu, em Assunção, com os presidentes do Uruguai e do Paraguai, além do da Bolívia. Ouviu as queixas dos sócios menores sobre o Mercosul, mas também o uruguaio Tabaré Vázquez sobre a crise.
Assim, Chávez, que anunciou a retirada definitiva da Comunidade Andina para impulsionar sua entrada no Mercosul, começa a costurar sua liderança no bloco. Tem petrodólares para comprar papéis da dívida argentina (já adquiriu mais US$ 1,2 bilhão) e mantém relação próxima com o Brasil, ao mesmo tempo em que acena com apoio técnico e financeiro a Paraguai e a Uruguai.


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