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TENSÃO ENTRE VIZINHOS
País afirma que brasileiros e paraguaios apóiam pedido para que conselho do Mercosul discuta o tema
Uruguai diz ter aval do Brasil sobre "papeleira"
FLÁVIA MARREIRO
DE BUENOS AIRES
O Uruguai anunciou ontem que
tem o apoio do Brasil e do Paraguai para levar para o Mercosul a
"guerra das papeleiras" que trava
com a Argentina, deixando a Casa
Rosada isolada ao dizer que o
problema é "exclusivamente bilateral".
Um comunicado distribuído
ontem pela chancelaria uruguaia
informa que os dois países apoiaram o pedido do Uruguai de convocar uma reunião extraordinária
do Conselho de Mercado Comum
do bloco para discutir o tema -a
instância é formada por todos os
chanceleres do bloco.
Ontem, não foi possível ouvir o
Itamaraty sobre o tema. Mas fontes diplomáticas brasileiras e na
chancelaria paraguaia confirmavam que os países são favoráveis à
convocação, que se faz por consenso. A Argentina, que tem a
presidência temporária do Mercosul, resiste.
Formalmente, o Uruguai quer
discutir os bloqueios na fronteira
por parte de argentinos que se
opõem à construção de duas fábricas de celulose em território
uruguaio. Na prática, uma convocação do conselho traria a controvérsia inteira para o Mercosul.
A Argentina alega que, no projeto das "papeleiras", os uruguaios violaram o tratado do rio
Uruguai e insiste em levar a questão ao Tribunal Internacional de
Haia, sem passar pelo bloco.
Para o Brasil, a percepção é que
uma contenda entre dois sócios
numa instância fora do Mercosul
fragilizaria ainda mais o bloco.
"O Brasil também pensa que o
Mercosul demonstra força a ser
capaz de debater em suas instâncias o conflito. A princípio, queremos que se discutam os bloqueios, mas não nos opomos que
se discutam regras comuns ambientais no bloco, que sejam seguidas por todos", disse à Folha
Carlos Amorim, diretor-geral de
Assuntos Econômicos e Integração da chancelaria uruguaia.
O conflito, além de regional, já
toca a Finlândia e a Espanha (países de origem das "papeleiras"),
às vésperas de uma reunião considerada estratégica: a cúpula
União Européia-América Latina,
em maio.
Kirchner em São Paulo
Ontem, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, negou ter
pedido ajuda do Brasil no conflito. A crise, porém, deve dominar
o encontro entre Kirchner e Lula
na noite de terça em São Paulo. A
reunião, anunciada ontem, será a
segunda bilateral do ano.
No dia seguinte, o presidente
venezuelano, Hugo Chávez, vai se
juntar à dupla. Esse novo encontro tripartite deve se centrar em
dois temas: o projeto do megagasoduto entre os países, questionado por aspectos técnicos, e a
"guerra da papeleiras".
É que, antes de ir ao Paraná na
quinta-feira, Chávez se reuniu,
em Assunção, com os presidentes
do Uruguai e do Paraguai, além
do da Bolívia. Ouviu as queixas
dos sócios menores sobre o Mercosul, mas também o uruguaio
Tabaré Vázquez sobre a crise.
Assim, Chávez, que anunciou a
retirada definitiva da Comunidade Andina para impulsionar sua
entrada no Mercosul, começa a
costurar sua liderança no bloco.
Tem petrodólares para comprar
papéis da dívida argentina (já adquiriu mais US$ 1,2 bilhão) e
mantém relação próxima com o
Brasil, ao mesmo tempo em que
acena com apoio técnico e financeiro a Paraguai e a Uruguai.
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