São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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FINANÇAS

Quando o índice sobe, caem o consumo, a oferta de emprego e a renda

Risco-país impacta mais que Selic

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O risco-país tem impacto na vida das pessoas muito maior do que a grande maioria imagina. Sua influência na formação dos juros de médio e longo prazo no Brasil tem sido maior até mesmo do que a da taxa básica (Selic) definida mensalmente pelo Banco Central.
Quando o risco-país sobe, o custo do crédito de médio e longo prazo também aumentam, o que reduz o consumo e os investimentos no setor produtivo. Consequentemente, o nível da atividade econômica diminui, e a oferta de emprego e a renda do trabalhador caem.
Em linhas gerais, o risco-país é uma sobretaxa que os investidores estrangeiros cobram do governo e do setor privado para compensar a possibilidade de não receber empréstimos concedidos. Esse adicional de juros é estabelecido acima do rendimento dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, considerados de risco zero. Ou seja, dependendo de quão arriscado, de quão vulnerável avaliam a economia brasileira, maior ou menor será essa sobretaxa.
Uma das principais referências da vulnerabilidade da economia brasileira é o alto grau de endividamento. "A dívida externa do setor público é bem menor do que a da Argentina e a do México. A situação do Brasil não é fácil, mas também não é um desespero", disse o economista-chefe do Itaú, Tomás Málaga.
"Qualquer aumento da percepção de risco acaba afetando a atividade econômica", ressaltou Málaga.
Uma forma de avaliar como o risco-país influencia os juros no mercado interno é comparar a sobretaxa cobrada sobre os C-bonds (títulos da dívida externa brasileira mais negociados) com a taxa no mercado futuro (chamada de curva a termo de juros) para prazo de um ano e com a taxa Selic. No gráfico ao lado é possível observar que os juros no mercado futuro acompanham com bastante proximidade a sobretaxa (ou "spread", no jargão dos economistas) dos C-bonds. O mesmo não acontece em relação à taxa Selic.
Segundo o economista Fábio Akira, do BBV Banco, o impacto dos juros no mercado futuro (mais precisamente da taxa a termo dos juros) é de praticamente 100% para a definição do custo do crédito. É o que se chama de custo de captação dos bancos.
Isto é, o quanto os bancos pagam (remuneram o cliente/investidor) para obter recursos no mercado e, depois, repassar sob a forma de empréstimos. Sobre esse custo de captação os bancos embutem mais juros para cobrir seus lucros e o risco de inadimplência (calote).



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