|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FINANÇAS
Quando o índice sobe, caem o consumo, a oferta de emprego e a renda
Risco-país impacta mais que Selic
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O risco-país tem impacto na vida das pessoas muito maior do
que a grande maioria imagina.
Sua influência na formação dos
juros de médio e longo prazo no
Brasil tem sido maior até mesmo
do que a da taxa básica (Selic) definida mensalmente pelo Banco
Central.
Quando o risco-país sobe, o
custo do crédito de médio e longo
prazo também aumentam, o que
reduz o consumo e os investimentos no setor produtivo. Consequentemente, o nível da atividade
econômica diminui, e a oferta de
emprego e a renda do trabalhador
caem.
Em linhas gerais, o risco-país é
uma sobretaxa que os investidores estrangeiros cobram do governo e do setor privado para compensar a possibilidade de não receber empréstimos concedidos.
Esse adicional de juros é estabelecido acima do rendimento dos títulos do Tesouro dos Estados
Unidos, considerados de risco zero. Ou seja, dependendo de quão
arriscado, de quão vulnerável
avaliam a economia brasileira,
maior ou menor será essa sobretaxa.
Uma das principais referências
da vulnerabilidade da economia
brasileira é o alto grau de endividamento. "A dívida externa do setor público é bem menor do que a
da Argentina e a do México. A situação do Brasil não é fácil, mas
também não é um desespero",
disse o economista-chefe do Itaú,
Tomás Málaga.
"Qualquer aumento da percepção de risco acaba afetando a atividade econômica", ressaltou
Málaga.
Uma forma de avaliar como o
risco-país influencia os juros no
mercado interno é comparar a sobretaxa cobrada sobre os C-bonds (títulos da dívida externa
brasileira mais negociados) com a
taxa no mercado futuro (chamada de curva a termo de juros) para
prazo de um ano e com a taxa Selic. No gráfico ao lado é possível
observar que os juros no mercado
futuro acompanham com bastante proximidade a sobretaxa (ou
"spread", no jargão dos economistas) dos C-bonds. O mesmo
não acontece em relação à taxa
Selic.
Segundo o economista Fábio
Akira, do BBV Banco, o impacto
dos juros no mercado futuro
(mais precisamente da taxa a termo dos juros) é de praticamente
100% para a definição do custo do
crédito. É o que se chama de custo
de captação dos bancos.
Isto é, o quanto os bancos pagam (remuneram o cliente/investidor) para obter recursos no
mercado e, depois, repassar sob a
forma de empréstimos. Sobre esse custo de captação os bancos
embutem mais juros para cobrir
seus lucros e o risco de inadimplência (calote).
Texto Anterior: Finanças: BC decide taxa hoje, mas juro real já subiu Próximo Texto: Diferença do título dos EUA explica risco-país Índice
|