São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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COLAPSO DA ARGENTINA

Ministro da Economia diz que sistema financeiro corre perigo porque está "sobredimensionado"

Lavagna admite a quebra de mais bancos

France Presse
Argentinos esperam para comprar dólares e protestam contra bancos no centro de Buenos Aires


JOÃO SANDRINI
DE BUENOS AIRES

O ministro Roberto Lavagna (Economia) deu mais um sinal de que os bancos argentinos correm perigo ao admitir que o sistema financeiro do país está "sobredimensionado".
A declaração caiu feito uma bomba em um mercado já histérico e imediatamente começaram a circular boatos, posteriormente negados, de que os bancos Sudameris, da Itália, e Societé Generale, da França, também deixariam de investir na Argentina.
Lavagna fez essa declaração para justificar a decisão do Banco Central de intervir nos três bancos controlados pelo francês Crédit Agricole -Bisel, Suquía e Bersa. Segundo ele, as três instituições serão administradas pelo banco Nación somente até que haja no setor privado um interessado em comprá-los.
O ministro não descartou que o BC possa realizar outras intervenções ao garantir que o governo não vai permitir a quebradeira de bancos. No entanto ele condicionou a ajuda do BC às instituições que injetarem recursos na mesma proporção.
O fracasso nas negociações com o canadense Scotiabank foi fundamental nessa decisão. O governo teme emprestar recursos a um banco estrangeiro que depois acaba desistindo de investir no país e larga o rombo para o Estado.

Mais quebras
Mesmo assim, analistas do setor acreditam ser muito provável que outros bancos quebrem. O motivo seria o encolhimento brutal do setor financeiro nos últimos meses.
Até dezembro, havia cerca de US$ 90 bilhões em depósitos nos bancos. Hoje são menos de 70 bilhões de pesos e, com o provável fim do curralzinho, esse montante deve recuar para cerca de 30 bilhões de pesos.
Nesse cenário, os bancos terão de limitar muito as linhas de crédito e outros serviços lucrativos. O próprio Crédit Agricole justificou a decisão de se desfazer das filiais porque "o país não permite continuar os negócios em condições razoáveis".
Outro problema dos bancos argentinos está na explosão do calote depois da desvalorização cambial. Com receitas em peso, empresas e pessoas endividadas em dólar não conseguem honrar os compromissos, assim como o próprio governo federal.
Entre as 100 maiores companhias da Argentina, 30 já anunciaram o calote de uma dívida total que alcança US$ 3 bilhões.
Dessa forma, o mercado aposta que praticamente só os bancos nacionais ou os com forte presença na América Latina deverão permanecer na Argentina.
"O desgaste da imagem e da credibilidade sempre é grande quando um banco resolve abandonar seus correntistas", disse o analista de bancos da Standard & Poor's Cristian Krossler.
Por isso, ele acredita que bancos como o BBVA e o Santander -com forte presença na América Latina- ou os bancos brasileiros -como Itaú e Banco do Brasil- poderiam ter de enfrentar uma onda de saques em outros países se abandonassem agora a Argentina.
No caso específico dos bancos brasileiros, ele lembrou que, por serem de porte pequeno ou médio, as perdas com imagem são muito maiores do que os prováveis prejuízos financeiros em se manter o investimento.

Risco-país
Com o nervosismo no setor financeiro, o risco-país, medido pelo banco JP Morgan, disparou 4,4% ontem e fechou em 5.613 pontos -o mais alto da história.
Já o dólar fechou em baixa de 0,6%, cotado a 3,60 pesos. Segundo operadores, o BC fez uma intervenção pesada e vendeu mais de US$ 50 milhões aos bancos.
Além disso, o BC e o Ministério da Economia, cujos desentendimentos pressionavam o dólar, ensaiaram uma trégua ontem. Segundo a imprensa local, Blejer deverá aceitar sua proposta para pôr fim ao curralzinho (bloqueio do dinheiro).



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