São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Câmbio fixo desnacionaliza indústria

DE BUENOS AIRES

O regime de conversibilidade (equiparação entre peso e dólar) que perdurou durante os últimos 11 anos na Argentina criou "um acentuado processo de desnacionalização da indústria local" e concentrou os lucros nas mãos de empresários estrangeiros.
Essas são as conclusões de estudo divulgado ontem pelo jornal argentino "Página 12" e realizado pelo Indec (o IBGE local), que analisou o comportamento das 500 maiores empresas não-financeiras do país na última década. O estudo compreende os resultados até o ano 2000, quando a crise não era tão aguda quanto hoje.
No final daquele ano, o capital estrangeiro controlava 63% das 500 maiores empresas, mas ficava com um índice impressionante de 95% dos lucros.
Uma comparação com 1993 mostra ainda melhor o avanço dos investidores externos no país. Naquele ano, os estrangeiros controlavam 44% das grandes companhias e ficavam com 63% dos ganhos.
O estudo mostra também que as empresas estatais que foram privatizadas têm a maior lucratividade. Em 2000, essas companhias lucraram 6,6 bilhões de pesos, ou 86,3% do total de ganhos.
O Indec também informou que os lucros começaram a se concentrar nas mãos das companhias privatizadas a partir de 1998, quando os demais setores já patinavam devido à recessão.

Reajustes periódicos
No entanto, as privatizadas não afundaram com o país por serem monopolistas em algumas regiões e porque haviam assinado com o governo contratos que previam o reajuste periódico das tarifas. Dessa forma, não foram obrigadas a represar altas de custos como as demais empresas nos anos de recessão.
Após a desvalorização cambial, no começo deste ano, o governo não permitiu que as privatizadas realizassem reajustes para repor as perdas. Por isso, a maioria delas começou a ameaçar o governo com a possibilidade de abandonar o país e aumentar a crise.
O número de empregados nas 500 maiores empresas da Argentina também registrou queda. Em 93, essas companhias mantinham 607 mil funcionários, enquanto em 2000 esse número foi reduzido para 556 mil.
Os custos trabalhistas das empresas também desabaram. As despesas com pagamentos de salários e benefícios representavam 24,9% do total de custos em 93, mas caíram para 15,8% há dois anos.
O único indicador positivo apresentado no estudo realizado pelo Indec está no salário médio dos trabalhadores, que cresceu de 1.355 pesos para 1.664 pesos nesses sete anos.(JS)


Texto Anterior: FMI aprova perdão de dívida por um ano
Próximo Texto: Igrejas têm mais fiéis, mas esmola cai
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.