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Valorização de moedas pressiona inflação
Para especialistas, câmbio e custo maior da mão-de-obra em dólares trazem riscos para economias de países emergentes
Desde 2003, real já obteve alta de 65% e está na liderança entre as divisas com o maior ganho em relação à moeda dos EUA
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
A valorização das moedas e a
alta do custo da mão-de-obra
em dólares nas economias
emergentes, para onde países
desenvolvidos deslocaram parte de sua produção, tende a
pressionar a inflação mundial,
segundo economistas.
O real vem mantendo a liderança folgada no ranking de valorização de moedas de países
emergentes desde 2005. Ficou
em segundo lugar em 2004
(atrás do rand) e foi a terceira
maior valorização em 2003, depois das moedas da Austrália e
da África do Sul.
De 2003 para cá, no acumulado, foi líder absoluto, com alta
de 65%. No mesmo período, o
rand da África do Sul subiu 36%
e o dólar australiano, 37%.
Até mesmo a moeda chinesa
teve alta de 3,4% desde que começou a flutuar em meados de
2005. Na China, porém, o que
pode pressionar os salários é a
falta de mão-de-obra treinada.
"No Brasil, um salário de R$
1.000, custa hoje cerca de US$
500. Há 18 meses, US$ 300.
Daí, as pressões inflacionárias",
diz Mohamed Mourabet, do
Victoire Finance Capital.
Na indústria, a folha de pagamentos de salários em dólares
aumentou em média 70% entre
2003 e 2005, segundo a CNI
(Confederação Nacional da Indústria). Entre março de 2005
e março de 2004, os salários
metropolitanos subiram 14,7%.
Além da fraqueza do dólar
em relação ao euro e o encarecimento da mão-de-obra em
termos reais nos países emergentes, que deverão ter impacto nos custos dos grupos econômicos, há ainda o aumento dos
preços das commodities.
"Uma certa recomposição de
margem deverá ser esperada na
cadeia de valor produtiva, gerando aumento das expectativas de inflação mundial", segundo Mourabet.
Entre os países desenvolvidos, os reflexos da alta do custo
da mão-de-obra podem ser
maiores nos Estados Unidos,
dizem economistas.
Os sinais de encolhimento do
mercado de trabalho americano são evidentes na aceleração
da média do ganho por número
de horas, segundo relatório global do UBS. A insegurança em
relação a emprego, porém, pode ainda restringir a demanda
por aumento de salário, conforme o banco. Na Alemanha, ainda segundo o relatório, uma
aceleração na demanda por salários parece prematura.
Exportadores
Com a queda do dólar, empresas exportadoras com mão-de-obra intensiva tendem a
perder competitividade.
"Houve alta da pressão por
mão-de-obra em setores exportadores, mas a apreciação cambial é o principal fator", diz o
economista José Pastore.
Em comparação com nossos
principais competidores em
termos de mão-de-obra (países
asiáticos e do Leste Europeu), o
trabalho no Brasil encareceu.
"As despesas de contratação
são muito mais altas no Brasil
-cerca de 103% sobre o salário- do que naqueles países",
diz Pastore. Numa média dos
tigres asiáticos, segundo o economista, as despesas de contratação na indústria são de apenas 11,50% sobre os salários.
"Como a produtividade brasileira é mais baixa -trabalhadores têm em média apenas
seis anos de escola e má escola- o custo unitário do trabalho está se tornando exagerado
para muitas empresas. Num
país de baixíssimos salários
médios e grande informalidade, chega a ser irônico."
O efeito da valorização do
real sobre gastos de pessoal em
dólares é mais expressivo nos
setores de vestuário, máquinas,
extração de petróleo, calçados e
móveis, segundo a CNI.
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