São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2006

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Valorização de moedas pressiona inflação

Para especialistas, câmbio e custo maior da mão-de-obra em dólares trazem riscos para economias de países emergentes

Desde 2003, real já obteve alta de 65% e está na liderança entre as divisas com o maior ganho em relação à moeda dos EUA

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

A valorização das moedas e a alta do custo da mão-de-obra em dólares nas economias emergentes, para onde países desenvolvidos deslocaram parte de sua produção, tende a pressionar a inflação mundial, segundo economistas.
O real vem mantendo a liderança folgada no ranking de valorização de moedas de países emergentes desde 2005. Ficou em segundo lugar em 2004 (atrás do rand) e foi a terceira maior valorização em 2003, depois das moedas da Austrália e da África do Sul.
De 2003 para cá, no acumulado, foi líder absoluto, com alta de 65%. No mesmo período, o rand da África do Sul subiu 36% e o dólar australiano, 37%.
Até mesmo a moeda chinesa teve alta de 3,4% desde que começou a flutuar em meados de 2005. Na China, porém, o que pode pressionar os salários é a falta de mão-de-obra treinada.
"No Brasil, um salário de R$ 1.000, custa hoje cerca de US$ 500. Há 18 meses, US$ 300. Daí, as pressões inflacionárias", diz Mohamed Mourabet, do Victoire Finance Capital.
Na indústria, a folha de pagamentos de salários em dólares aumentou em média 70% entre 2003 e 2005, segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria). Entre março de 2005 e março de 2004, os salários metropolitanos subiram 14,7%.
Além da fraqueza do dólar em relação ao euro e o encarecimento da mão-de-obra em termos reais nos países emergentes, que deverão ter impacto nos custos dos grupos econômicos, há ainda o aumento dos preços das commodities.
"Uma certa recomposição de margem deverá ser esperada na cadeia de valor produtiva, gerando aumento das expectativas de inflação mundial", segundo Mourabet.
Entre os países desenvolvidos, os reflexos da alta do custo da mão-de-obra podem ser maiores nos Estados Unidos, dizem economistas.
Os sinais de encolhimento do mercado de trabalho americano são evidentes na aceleração da média do ganho por número de horas, segundo relatório global do UBS. A insegurança em relação a emprego, porém, pode ainda restringir a demanda por aumento de salário, conforme o banco. Na Alemanha, ainda segundo o relatório, uma aceleração na demanda por salários parece prematura.

Exportadores
Com a queda do dólar, empresas exportadoras com mão-de-obra intensiva tendem a perder competitividade.
"Houve alta da pressão por mão-de-obra em setores exportadores, mas a apreciação cambial é o principal fator", diz o economista José Pastore.
Em comparação com nossos principais competidores em termos de mão-de-obra (países asiáticos e do Leste Europeu), o trabalho no Brasil encareceu.
"As despesas de contratação são muito mais altas no Brasil -cerca de 103% sobre o salário- do que naqueles países", diz Pastore. Numa média dos tigres asiáticos, segundo o economista, as despesas de contratação na indústria são de apenas 11,50% sobre os salários.
"Como a produtividade brasileira é mais baixa -trabalhadores têm em média apenas seis anos de escola e má escola- o custo unitário do trabalho está se tornando exagerado para muitas empresas. Num país de baixíssimos salários médios e grande informalidade, chega a ser irônico."
O efeito da valorização do real sobre gastos de pessoal em dólares é mais expressivo nos setores de vestuário, máquinas, extração de petróleo, calçados e móveis, segundo a CNI.


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