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Gigante estatal assusta bancos, dizem analistas
Avaliação é que valor da compra da Nossa Caixa pelo BB pode passar de R$ 4 bi
Sobreposição de agências
no interior de São Paulo
preocupa bancários,
que temem demissões e
ameaçam fazer greves
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Divulgada numa véspera de
feriado prolongado, a notícia da
incorporação da paulista Nossa
Caixa pelo Banco do Brasil foi
recebida com surpresa pelos
bancos privados, que viram na
negociação um acordo político
sem precedentes entre governos federal e estadual para fortalecer a maior instituição financeira pública e fazer frente
aos grandes conglomerados
privados, que lideram a expansão do crédito no país.
No mercado, a avaliação é
que o negócio saia em cerca de
duas vezes o valor do patrimônio líquido da Nossa Caixa, que
fechou o primeiro trimestre em
R$ 2,8 bilhões. Na venda do
ABN Real para o Santander, último negócio envolvendo bancos no país, as ações saíram por
mais de três vezes esse valor.
Como o governo paulista tem
71% das ações ON (com direito
a voto), a expectativa é que saia
por cerca de R$ 4 bilhões.
Último grande banco estadual ainda não privatizado, a
Nossa Caixa tem forte presença
no Estado mais rico do país, especialmente o interior paulista,
que hoje ganha relevância internacional pelo agronegócio.
Suas operações interessavam a
todas as instituições financeiras nacionais e estrangeiras.
"A [operação da] Nossa Caixa
cai como uma luva para o Banco do Brasil, que mostra seu
apetite para aquisições. A Caixa
é ainda fraca no crédito, mas está saneada", disse Luis Miguel
Santacreu, analista de bancos
da consultoria Austin Ratings.
Até ontem, a expectativa era
que o controle fosse vendido
em Bolsa, numa operação de
pulverização de ações.
Além das ações do governo
paulista, o BB deverá fazer uma
oferta aos acionistas minoritários. Os papéis da Nossa Caixa
fazem parte do Novo Mercado
da Bovespa, segmento que zela
pela transparência nas negociações e divulgações.
Impedido desde os anos 90
de participar de privatizações,
o BB ficou para trás na concorrência bancária, enquanto Bradesco, Itaú e Santander dividiam o mercado entre si. Só no
ano passado, o BB começou a
viabilizar sua expansão por
meio da incorporações de bancos estaduais, como o Besc
(Banco de Santa Catarina).
Passou também a comprar
-e a absorver- as folhas de pagamento de prefeituras e de Estados, entrando em rota de colisão com Bradesco, Itaú e Santander, vencedores das principais licitações.
"Serra [governador José Serra, do PSDB] vai ganhar duas
vezes com a folha de pagamentos [dos servidores paulista]. A
primeira quando vendeu por
R$ 1 bilhão para a Nossa Caixa,
e agora, com a incorporação pelo BB. A folha paulista é o filé
mignon do funcionalismo", disse Santacreu.
Com exceção da folha de pagamento paulista, há dúvidas
sobre o ganho potencial de sinergia e da sobreposição de
agências do BB e da Nossa Caixa no interior de São Paulo. O
Sindicato dos Bancários de São
Paulo (ligado à CUT) informou
ontem que não vai admitir demissões nem o fechamento de
agências. Se o direito dos trabalhadores não for respeitado, o
sindicato ameaça fazer greves e
recorrer à Justiça. "Vamos exigir da Assembléia Legislativa
que, no processo de aprovação,
seja considerada a preservação
dos empregos", diz o sindicato.
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