São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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SEMENTE DA DISCÓRDIA

Chineses abandonam "tolerância zero" e permitem mistura de uma semente por quilo do produto

China suspende embargo à soja brasileira

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

Brasil e China fecharam ontem acordo que permitirá a retomada das exportações de soja para o país asiático, desde que obedecidos os padrões de qualidade estabelecidos há dez dias pelo Ministério da Agricultura brasileiro, bem mais rigorosos que os adotados anteriormente.
Nos dois meses de impasse sobre o desembarque do produto brasileiro, o preço da soja na Bolsa de Chicago recuou 7%. Produtores estimam que o embargo tenha custado R$ 1 bilhão ao país.
As 23 empresas que estavam proibidas de exportar para a China foram "reabilitadas" e poderão retomar seus embarques, que representam aproximadamente 90% desse mercado. Os cerca de 20 navios que já estão em alto-mar a caminho da China terão tratamento diferenciado, de acordo com as datas em que deixaram os portos brasileiros.
Aqueles embarcados depois da edição da instrução normativa nš 15, de 11 de junho, terão de estar de acordo com o padrão fixado por ela e não poderão ter em cada quilo de soja mais de uma semente contaminada com fungicidas, como o Carboxin.
Os navios que deixaram o Brasil antes do dia 11 e estiverem em desacordo com a instrução normativa só desembarcarão a soja depois de se "adaptar" às regras: os exportadores terão de assumir os custos de limpar a carga e retirar as sementes contaminadas que eventualmente excederem o limite previsto na norma ministerial. A limpeza será manual, em cargas que envolvem de 50 mil a 60 mil toneladas de soja.
O acordo foi redigido ontem, após uma reunião de quatro horas e meia no Ministério da Quarentena, o organismo do governo chinês encarregado da inspeção sanitária dos produtos que entram no país. Foi o ministério que impediu, entre o fim de abril e o começo de junho, o desembarque de cinco navios com soja brasileira, carregados com cerca de 300 mil toneladas, sob a alegação de que estava contaminada com sementes tratadas com fungicida.
O governador Germano Rigotto (RS) e o secretário de Defesa Agropecuária, Maçao Tadano, classificaram o resultado do encontro de positivo e disseram que ele permitirá a retomada imediata dos embarques para a China. Rigotto e Tadano participaram da reunião ao lado do embaixador do Brasil em Pequim, Affonso Celso de Ouro-Preto, de técnicos do Ministério da Agricultura e de Caio Cezar Vianna, que representa cooperativas e terminais de embarque gaúchos.
Segundo relatos do que estavam no encontro, os chineses começaram a reunião com uma dura cobrança sobre a origem da contaminação da soja brasileira.
O governo brasileiro apresentou as medidas que adotou para combater o problema da contaminação, que incluem a edição da instrução normativa nš 15, o aumento da fiscalização nos portos e armazéns e a investigação para tentar definir a responsabilidade sobre os embarques que foram enviados à China com sementes contaminadas.
Pelo documento, o governo brasileiro diz "garantir" que não haverá mais problemas sanitários com a soja. Em troca, a China retira o veto aos exportadores.
A China é o maior importador de soja do Brasil e comprou, em 2003, 6 milhões de toneladas. A decisão do país de não aceitar os cinco navios paralisou as exportações. Nenhum comerciante estava disposto a comprar soja brasileira para vender na China, pois corria o risco de não conseguir desembarcar a mercadoria.
Além das negociações realizadas em âmbito ministerial, houve intervenções dos presidentes de ambos os países na negociação. Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornou público que estava disposto a ligar para o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, com o objetivo de pedir sua intervenção no caso. Na sexta-feira, Lula recebeu mensagem do presidente chinês, Hu Jintao, na qual ele manifestava o desejo de que o conflito fosse solucionado rapidamente.


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