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SEMENTE DA DISCÓRDIA
Chineses abandonam "tolerância zero" e permitem mistura de uma semente por quilo do produto
China suspende embargo à soja brasileira
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
Brasil e China fecharam ontem
acordo que permitirá a retomada
das exportações de soja para o
país asiático, desde que obedecidos os padrões de qualidade estabelecidos há dez dias pelo Ministério da Agricultura brasileiro,
bem mais rigorosos que os adotados anteriormente.
Nos dois meses de impasse sobre o desembarque do produto
brasileiro, o preço da soja na Bolsa de Chicago recuou 7%. Produtores estimam que o embargo tenha custado R$ 1 bilhão ao país.
As 23 empresas que estavam
proibidas de exportar para a China foram "reabilitadas" e poderão
retomar seus embarques, que representam aproximadamente
90% desse mercado. Os cerca de
20 navios que já estão em alto-mar a caminho da China terão
tratamento diferenciado, de acordo com as datas em que deixaram
os portos brasileiros.
Aqueles embarcados depois da
edição da instrução normativa nš
15, de 11 de junho, terão de estar
de acordo com o padrão fixado
por ela e não poderão ter em cada
quilo de soja mais de uma semente contaminada com fungicidas,
como o Carboxin.
Os navios que deixaram o Brasil
antes do dia 11 e estiverem em desacordo com a instrução normativa só desembarcarão a soja depois
de se "adaptar" às regras: os exportadores terão de assumir os
custos de limpar a carga e retirar
as sementes contaminadas que
eventualmente excederem o limite previsto na norma ministerial.
A limpeza será manual, em cargas
que envolvem de 50 mil a 60 mil
toneladas de soja.
O acordo foi redigido ontem,
após uma reunião de quatro horas e meia no Ministério da Quarentena, o organismo do governo
chinês encarregado da inspeção
sanitária dos produtos que entram no país. Foi o ministério que
impediu, entre o fim de abril e o
começo de junho, o desembarque
de cinco navios com soja brasileira, carregados com cerca de 300
mil toneladas, sob a alegação de
que estava contaminada com sementes tratadas com fungicida.
O governador Germano Rigotto
(RS) e o secretário de Defesa
Agropecuária, Maçao Tadano,
classificaram o resultado do encontro de positivo e disseram que
ele permitirá a retomada imediata
dos embarques para a China. Rigotto e Tadano participaram da
reunião ao lado do embaixador
do Brasil em Pequim, Affonso
Celso de Ouro-Preto, de técnicos
do Ministério da Agricultura e de
Caio Cezar Vianna, que representa cooperativas e terminais de embarque gaúchos.
Segundo relatos do que estavam
no encontro, os chineses começaram a reunião com uma dura cobrança sobre a origem da contaminação da soja brasileira.
O governo brasileiro apresentou as medidas que adotou para
combater o problema da contaminação, que incluem a edição da
instrução normativa nš 15, o aumento da fiscalização nos portos e
armazéns e a investigação para
tentar definir a responsabilidade
sobre os embarques que foram
enviados à China com sementes
contaminadas.
Pelo documento, o governo
brasileiro diz "garantir" que não
haverá mais problemas sanitários
com a soja. Em troca, a China retira o veto aos exportadores.
A China é o maior importador
de soja do Brasil e comprou, em
2003, 6 milhões de toneladas. A
decisão do país de não aceitar os
cinco navios paralisou as exportações. Nenhum comerciante estava disposto a comprar soja brasileira para vender na China, pois
corria o risco de não conseguir
desembarcar a mercadoria.
Além das negociações realizadas em âmbito ministerial, houve
intervenções dos presidentes de
ambos os países na negociação.
Na semana passada, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva tornou
público que estava disposto a ligar
para o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, com o objetivo de
pedir sua intervenção no caso. Na
sexta-feira, Lula recebeu mensagem do presidente chinês, Hu Jintao, na qual ele manifestava o desejo de que o conflito fosse solucionado rapidamente.
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