|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUÍS NASSIF
A novela da
Brasil Telecom
A novela da Brasil Telecom ainda vai se arrastar
por bom tempo, devido a um
processo de desconfianças recíprocas e blefes sucessivos que
em nada beneficia a companhia. Na definição do valor das
ações, há um prêmio de controle -um ágio pago para aquelas ações que constituem o bloco de controle. Toda a disputa
entre fundos de pensão, Telecom Italia, Citigroup e Opportunity é em torno desse diferencial.
A novela pode ser resumida
nos seguintes capítulos:
Capítulo 1: em novembro de
2004, houve reunião em Milão
entre a Telecom Italia, o Citigroup e o Opportunity, de Daniel Dantas. O Citi fez uma proposta de venda de sua parte por
US$ 360 milhões. Dantas queria US$ 80 milhões, mantendo
a equivalência com o preço pedido pelo Citi. A Telecom Italia
considerou excessivo. Equivalia
a um ágio de 250% sobre o preço de mercado.
Capítulo 2: valendo-se do episódio Kroll, os italianos pressionaram o Citi a desfazer a aliança com Dantas. O Citi concordou, mas sustentou que Dantas
estava prestes a fazer uma oferta de compra por sua parte.
Capítulo 3: no dia 16 de fevereiro, houve uma reunião em
Nova York entre Mike Carpenter, chefe do CVC no mundo (o
fundo criado pelo Citigroup para investimentos); representantes da Angra, a gestora dos recursos dos fundos de pensão na
CVC; e a Telecom Italia. Na
reunião, os italianos foram informados da decisão dos fundos e do Citi de destituir o Opportunity da gestão do CVC.
Fundos e Citi também assinaram um acordo de "tag along"
-isto é, de receberem o mesmo
valor pelas ações vendidas pela
outra parte. Também informaram a TIM de que a Telemar e
a Portugal Telecom tinham interesse na Brasil Telecom.
Capítulo 4: sentindo desconforto na posição, a Telecom Italia chamou Dantas para conversar e fechou um acordo de
compra da parte dele, tanto as
ações do bloco de controle
quanto as que adquiriu no
mercado, ao arrepio do controle da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). No total, seriam US$ 380 milhões pelas
ações, mais US$ 50 milhões para fechar as pendências do Opportunity com a TIM.
Capítulo 5: os fundos, por sua
vez, firmaram um acordo de
"put" com o Citigroup -pelo
qual se comprometem a adquirir a parte do Citi em prazo de
dois anos, por um valor prefixado em reais. Com a apreciação cambial, o lance está em
US$ 420 milhões. A oferta será
corrigida por IGP mais 5% ao
ano. Dependendo do comportamento do câmbio, poderá
cair abaixo de US$ 400 milhões,
mas também poderá chegar a
US$ 500 milhões.
A união com a TIM traria
mais agregação de valor para a
empresa. Haveria a fusão do
serviço celular -que vem drenando recursos da Brasil Telecom- e possibilidade de tráfego maior para o serviço de longa distância. Mas não agregaria necessariamente mais valor
para os fundos.
A grande questão é se a Previ
não errou na mão na proposta
que fez ao Citi. A Previ sustenta
que o valor estratégico da companhia justifica o preço. Há
quem considere excessiva a
oferta. De qualquer modo, se os
dois acordos forem fechados,
Dantas e o Citi já terão se apropriado do valor de controle.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
Texto Anterior: Tecnologia: Varejo prepara campanha para PCs populares Próximo Texto: Contas externas: Exportações em alta elevam previsão de superávit externo Índice
|