São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LUÍS NASSIF

A novela da Brasil Telecom

A novela da Brasil Telecom ainda vai se arrastar por bom tempo, devido a um processo de desconfianças recíprocas e blefes sucessivos que em nada beneficia a companhia. Na definição do valor das ações, há um prêmio de controle -um ágio pago para aquelas ações que constituem o bloco de controle. Toda a disputa entre fundos de pensão, Telecom Italia, Citigroup e Opportunity é em torno desse diferencial.
A novela pode ser resumida nos seguintes capítulos:
Capítulo 1: em novembro de 2004, houve reunião em Milão entre a Telecom Italia, o Citigroup e o Opportunity, de Daniel Dantas. O Citi fez uma proposta de venda de sua parte por US$ 360 milhões. Dantas queria US$ 80 milhões, mantendo a equivalência com o preço pedido pelo Citi. A Telecom Italia considerou excessivo. Equivalia a um ágio de 250% sobre o preço de mercado.
Capítulo 2: valendo-se do episódio Kroll, os italianos pressionaram o Citi a desfazer a aliança com Dantas. O Citi concordou, mas sustentou que Dantas estava prestes a fazer uma oferta de compra por sua parte.
Capítulo 3: no dia 16 de fevereiro, houve uma reunião em Nova York entre Mike Carpenter, chefe do CVC no mundo (o fundo criado pelo Citigroup para investimentos); representantes da Angra, a gestora dos recursos dos fundos de pensão na CVC; e a Telecom Italia. Na reunião, os italianos foram informados da decisão dos fundos e do Citi de destituir o Opportunity da gestão do CVC. Fundos e Citi também assinaram um acordo de "tag along" -isto é, de receberem o mesmo valor pelas ações vendidas pela outra parte. Também informaram a TIM de que a Telemar e a Portugal Telecom tinham interesse na Brasil Telecom.
Capítulo 4: sentindo desconforto na posição, a Telecom Italia chamou Dantas para conversar e fechou um acordo de compra da parte dele, tanto as ações do bloco de controle quanto as que adquiriu no mercado, ao arrepio do controle da CVM (Comissão de Valores Mobiliários). No total, seriam US$ 380 milhões pelas ações, mais US$ 50 milhões para fechar as pendências do Opportunity com a TIM.
Capítulo 5: os fundos, por sua vez, firmaram um acordo de "put" com o Citigroup -pelo qual se comprometem a adquirir a parte do Citi em prazo de dois anos, por um valor prefixado em reais. Com a apreciação cambial, o lance está em US$ 420 milhões. A oferta será corrigida por IGP mais 5% ao ano. Dependendo do comportamento do câmbio, poderá cair abaixo de US$ 400 milhões, mas também poderá chegar a US$ 500 milhões.
A união com a TIM traria mais agregação de valor para a empresa. Haveria a fusão do serviço celular -que vem drenando recursos da Brasil Telecom- e possibilidade de tráfego maior para o serviço de longa distância. Mas não agregaria necessariamente mais valor para os fundos.
A grande questão é se a Previ não errou na mão na proposta que fez ao Citi. A Previ sustenta que o valor estratégico da companhia justifica o preço. Há quem considere excessiva a oferta. De qualquer modo, se os dois acordos forem fechados, Dantas e o Citi já terão se apropriado do valor de controle.

E-mail - Luisnassif@uol.com.br


Texto Anterior: Tecnologia: Varejo prepara campanha para PCs populares
Próximo Texto: Contas externas: Exportações em alta elevam previsão de superávit externo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.