São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Comprador da Varig ainda busca recursos

Representante dos trabalhadores admite que pode não reunir US$ 75 milhões até amanhã, prazo final dado pela Justiça

Fundo de investimentos americano Matlin Patterson pode ser a única alternativa para a injeção de recursos na companhia aérea


Fernando Donasci/Folha Imagem
Divisórias de fila para check-in com imagens de aviões da Varig no aeroporto de Guarulhos (SP)


JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

Os funcionários representados pelo TGV (Trabalhadores do Grupo Varig) admitiram ontem que ainda não têm os recursos necessários para pagar a primeira parcela de compra da Varig Operações, de US$ 75 milhões, até amanhã.
Segundo Márcio Marsillac, coordenador do TGV, os funcionários estão negociando com três possíveis investidores, mas o atraso na homologação da proposta e a deterioração das operações da Varig assustaram os investidores. "Ninguém aqui tem 100% de segurança de que esses recursos estarão à disposição ou serão apresentados por esses investidores até a sexta [amanhã]. Não há certeza disso, é óbvio", disse.
Na segunda-feira, o juiz Luiz Roberto Ayoub, da 8ª Vara Empresarial, responsável pelo processo de recuperação da Varig, homologou a proposta de compra da companhia realizada pelos trabalhadores em leilão, no valor de US$ 449 milhões. Eles só poderão assumir de fato o controle da empresa se conseguirem depositar em juízo US$ 75 milhões até amanhã, conforme o previsto no edital.
Fontes envolvidas na negociação afirmam que a única alternativa para a Varig conseguir dinheiro para regularizar sua operação é uma injeção do Matlin Patterson, fundo de investimento americano, que voltou a negociar diretamente com a companhia aérea.
Se os trabalhadores não conseguirem os US$ 75 milhões, existem três alternativas: falência imediata, falência continuada, caso haja um aporte de recursos, ou o aparecimento de um novo investidor.
A Varig precisa do dinheiro para pagar empresas de leasing e fornecedores. Os recursos são essenciais para a continuidade das operações da empresa, e a Justiça americana condicionou a nova prorrogação do prazo de proteção às aeronaves da Varig à realização desse pagamento (leia texto nesta página). Segundo o TGV, ontem a Varig contava com apenas 19 aeronaves em operação.
O Matlin já demonstrou interesse em comprar a parte operacional da Varig e chegou a oferecer US$ 400 milhões pela parte boa da empresa. Na época, os principais credores mostraram resistência à proposta, e o negócio não foi adiante. O principal entrave hoje se refere a dificuldades com o órgão regulador. Até hoje, a Volo do Brasil, empresa que tem o Matlin como um dos acionistas, não conseguiu regularizar a compra da VarigLog, ex-subsidiária de transporte de cargas da Varig, na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
De acordo com a legislação, o TGV poderia ser obrigado a arcar com uma multa de 20% sobre o valor da oferta, de US$ 449 milhões, pela Varig Operações, se não efetuar o pagamento. Segundo Gustavo Lunz, promotor do Ministério Público estadual, essa cobrança, no entanto, seria inviável porque os sócios da NV Participações, empresa do TGV, são os próprios funcionários. Eles já estão sem receber salários. "A cobrança seria uma forma de penalizar os trabalhadores individualmente e não é essa a intenção do Ministério Público."

Críticas
Em manifestação realizada ontem na porta da Varig, os trabalhadores não pouparam críticas ao governo, ao BNDES e à Justiça. Funcionários seguravam faixas com o texto "O governo não quer ajudar, mas quer atrapalhar". Segundo Marsillac, os funcionários estão pedindo condições iguais às que foram oferecidas aos trabalhadores do ABC, em referência a benefícios concedidos a montadoras. Além disso, eles afirmam que o BNDES "levanta barreiras tremendas" para o financiamento a trabalhadores.
O coordenador do TGV destacou a insegurança jurídica na compra da Varig e a demora da Justiça para homologar a proposta. "Alguém vai pegar dinheiro bom e colocar em cima de um processo instável para virar credor extraconcursal da Varig? Ninguém vai fazer doação [...] Um país que só precisa de solução de mercado talvez não precisasse de governo."
O TGV organiza nova manifestação amanhã de manhã, quando afirma que terá nova audiência com a Justiça. Segundo Marsillac, os funcionários não vão deixar a empresa parar. "Vamos continuar voando na Varig mesmo que seja com uma única aeronave."


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Coligada da aérea quer demitir 2.000
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.