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AÇÕES EM CRISE
Energia racionada, juros altos, aumento do dólar e Argentina fazem mercado viver pior momento de 2001
"Vilões" do ano levam Bovespa a nocaute
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado acionário doméstico
passa pelo seu pior momento em
2001. A Bovespa atingiu seu menor nível em pontos e os investidores tiraram cerca de R$ 3,6 bilhões dos fundos de ações nos últimos meses. Além disso, o movimento com recibos de ações brasileiras nos Estados Unidos também despencou.
Diferentes vilões abalaram o
mercado neste ano: crise energética, elevação dos juros, valorização
do dólar e aumento do temor de
"default" (calote) da Argentina.
O mau desempenho das ações,
somado à forte valorização do dólar, colocou a Bovespa entre as
Bolsas no mundo que mais já perderam neste ano. De 70 índices
das Bolsas que mais negociam, o
Ibovespa -principal índice da
Bolsa paulista- está entre os 8
que acumulam as maiores desvalorizações em dólares neste ano.
Com desempenho pior do que o
da Bovespa -que caiu 26% no
período- está a Bolsa da Turquia. A forte crise econômica que
o país enfrenta fez a Bolsa turca
acumular perdas de 48% em 2001.
"Como a Bovespa já está em um
nível muito baixo, o risco de quedas maiores no curto prazo é pequeno. Mas uma quebra na Argentina pode derrubar ainda mais
a Bolsa", afirma Jacopo Valentino, diretor de renda variável do
BNP Paribas Asset Management.
Com a baixa da Bovespa, a fuga
dos investidores do mercado
acionário tem crescido mês a mês.
Desde janeiro, o volume de recursos aplicados em fundos de ações
caiu 15%. O patrimônio líquido
(PL) desses fundos recuou para
R$ 19,8 bilhões neste mês, até o
dia 12, segundo a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
"Muita gente tirou dinheiro
desses fundos e foi para aplicações que acompanham a variação
cambial", afirma Alexandre Póvoa, diretor de investimentos do
ABN Amro Asset Management.
Ao cenário ruim para o mercado de ações soma-se o efeito perverso da elevação dos juros desde
março. Taxas maiores estimulam
os investidores a migrar das ações
para as aplicações que acompanham a oscilação dos juros.
E o efeito da crise energética no
resultado das empresas neste semestre pode inibir ainda mais os
investidores a aplicar na Bolsa.
"Ainda não sabemos com clareza
os efeitos da crise de energia nas
empresas. Isso pode fazer o mercado ainda sofrer um pouco",
afirma o diretor de pesquisa e risco do HSBC Brain, Jorge Misumi.
As perdas da Bolsa argentina
são um pouco menores do que as
da Bovespa. Enquanto a Bovespa
registrava queda acumulada de
26%, o Merval -principal índice
da Bolsa argentina- recuou 20%
neste ano.
Mas as Bolsas turca e paulista,
diferentemente da argentina, perdem duas vezes: além da queda
nos preços, há a desvalorização
das moedas locais, que derruba os
valores em dólar das ações.
Recibos em queda
O mau momento também se reflete na negociação com ADRs
(American Depositary Receipts)
-certificados que representam a
propriedade de ações de empresas estrangeiras- de companhias brasileiras negociados no
mercado norte-americano.
Em apenas cinco meses, os
ADRs de empresas brasileiras
perderam mais de 34% do giro
que registravam em janeiro, segundo dados da Economática.
O volume negociado com os recibos de ações de 34 empresas
brasileiras nos EUA -que já foi
superior a US$ 10 bilhões em janeiro de 2000- caiu para US$ 3,6
bilhões em junho deste ano.
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