São Paulo, domingo, 22 de julho de 2001

Texto Anterior | Índice

AÇÕES EM CRISE
Energia racionada, juros altos, aumento do dólar e Argentina fazem mercado viver pior momento de 2001

"Vilões" do ano levam Bovespa a nocaute

FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado acionário doméstico passa pelo seu pior momento em 2001. A Bovespa atingiu seu menor nível em pontos e os investidores tiraram cerca de R$ 3,6 bilhões dos fundos de ações nos últimos meses. Além disso, o movimento com recibos de ações brasileiras nos Estados Unidos também despencou.
Diferentes vilões abalaram o mercado neste ano: crise energética, elevação dos juros, valorização do dólar e aumento do temor de "default" (calote) da Argentina.
O mau desempenho das ações, somado à forte valorização do dólar, colocou a Bovespa entre as Bolsas no mundo que mais já perderam neste ano. De 70 índices das Bolsas que mais negociam, o Ibovespa -principal índice da Bolsa paulista- está entre os 8 que acumulam as maiores desvalorizações em dólares neste ano.
Com desempenho pior do que o da Bovespa -que caiu 26% no período- está a Bolsa da Turquia. A forte crise econômica que o país enfrenta fez a Bolsa turca acumular perdas de 48% em 2001.
"Como a Bovespa já está em um nível muito baixo, o risco de quedas maiores no curto prazo é pequeno. Mas uma quebra na Argentina pode derrubar ainda mais a Bolsa", afirma Jacopo Valentino, diretor de renda variável do BNP Paribas Asset Management.
Com a baixa da Bovespa, a fuga dos investidores do mercado acionário tem crescido mês a mês. Desde janeiro, o volume de recursos aplicados em fundos de ações caiu 15%. O patrimônio líquido (PL) desses fundos recuou para R$ 19,8 bilhões neste mês, até o dia 12, segundo a Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento).
"Muita gente tirou dinheiro desses fundos e foi para aplicações que acompanham a variação cambial", afirma Alexandre Póvoa, diretor de investimentos do ABN Amro Asset Management.
Ao cenário ruim para o mercado de ações soma-se o efeito perverso da elevação dos juros desde março. Taxas maiores estimulam os investidores a migrar das ações para as aplicações que acompanham a oscilação dos juros.
E o efeito da crise energética no resultado das empresas neste semestre pode inibir ainda mais os investidores a aplicar na Bolsa. "Ainda não sabemos com clareza os efeitos da crise de energia nas empresas. Isso pode fazer o mercado ainda sofrer um pouco", afirma o diretor de pesquisa e risco do HSBC Brain, Jorge Misumi.
As perdas da Bolsa argentina são um pouco menores do que as da Bovespa. Enquanto a Bovespa registrava queda acumulada de 26%, o Merval -principal índice da Bolsa argentina- recuou 20% neste ano.
Mas as Bolsas turca e paulista, diferentemente da argentina, perdem duas vezes: além da queda nos preços, há a desvalorização das moedas locais, que derruba os valores em dólar das ações.

Recibos em queda
O mau momento também se reflete na negociação com ADRs (American Depositary Receipts) -certificados que representam a propriedade de ações de empresas estrangeiras- de companhias brasileiras negociados no mercado norte-americano.
Em apenas cinco meses, os ADRs de empresas brasileiras perderam mais de 34% do giro que registravam em janeiro, segundo dados da Economática.
O volume negociado com os recibos de ações de 34 empresas brasileiras nos EUA -que já foi superior a US$ 10 bilhões em janeiro de 2000- caiu para US$ 3,6 bilhões em junho deste ano.


Texto Anterior: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.