São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VÔO DA ÁGUIA

Um dos motores da recuperação econômica do país, setor vê queda abrupta de preços e de autorizações para obras

Mercado imobiliário desacelera nos EUA

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Um dos principais pilares da recuperação econômica dos Estados Unidos nos últimos meses começa a mostrar sinais de fratura.
Os preços no mercado imobiliário norte-americano estão caindo de maneira inesperada, e o setor como um todo revela tendência de desaquecimento não vista em mais de uma década.
A notícia coincide com um novo tom de preocupação do presidente do Fed (o banco central dos EUA), Alan Greenspan.
Durante depoimento no Congresso ontem, Greenspan afirmou que os Estados Unidos estão "longe de uma recuperação típica", ao acrescentar que o setor empresarial continua "relutante" em investir ou contratar.
Há pouco meses, o FMI (Fundo Monetário Internacional) apontou um possível estouro da chamada "bolha imobiliária" norte-americana como motivo de "intensa preocupação".
Nos últimos oito anos, os imóveis nos EUA tiveram uma valorização 27% superior à inflação. O fato tem levado a comparações entre a "bolha imobiliária" e a "bolha financeira" -que estourou nos EUA em 2000 e levou o país à recessão.
Os imóveis no mercado norte-americano são usados como garantia de empréstimos para milhões de famílias e comprados quase sempre financiados.
Uma queda abrupta nos preços poderá, segundo o FMI, contaminar o setor financeiro e bancário como um todo e dificultar a atual retomada.

Abaixo da expectativa
Para Greenspan, o desempenho do setor imobiliário tem ficado, "definitivamente, abaixo das expectativas".
O Departamento de Comércio dos EUA informou nesta semana que o número de pedidos de autorização para o início de construções nos EUA caiu 8,2% em junho sobre maio. Foi o maior declínio percentual em mais de dez anos. O início de obras já autorizadas recuou mais: 8,5%.
Vários Estados norte-americanos também vêm experimentando uma queda abrupta nos preços dos imóveis, forçados para baixo por uma oferta crescente.
No condado de Orange (Califórnia), um dos mais aquecidos nos últimos meses, a oferta de casas à venda com valores entre US$ 550 mil e US$ 750 mil, por exemplo, passou de 248 unidades em março para 964 em julho.
A tendência se repete em várias outras regiões, segundo dados do Multiple Listing Service, um serviço nacional que contabiliza as ofertas de imóveis disponíveis em dezenas de localidades nos Estados Unidos.
Pelas previsões do FMI, cerca de 40% dos "booms" (aumentos acelerados) imobiliários são seguidos por estouros que levam a uma depreciação entre 25% e 30% dos imóveis.
A valorização cujo ciclo pode estar se encerrando agora foi, segundo o Fundo, uma das maiores já registradas no país.
Uma das principais conseqüências para o setor bancário é que muitos americanos tomam empréstimos dando como garantias os seus imóveis. Se esse patrimônio passar a valer menos rapidamente, isso provocará um enorme descompasso entre o que o banco emprestou e o que tomou como garantia do cliente.
O atual movimento de aumento dos juros nos Estados Unidos tende a agravar o cenário.
A partir de agora, muitas famílias terão de pagar cada vez mais por empréstimos tomados para comprar imóveis que estão valendo cada vez menos.


Texto Anterior: O vaivém das commodities
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.