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VÔO DA ÁGUIA
Um dos motores da recuperação econômica do país, setor vê queda abrupta de preços e de autorizações para obras
Mercado imobiliário desacelera nos EUA
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Um dos principais pilares da recuperação econômica dos Estados Unidos nos últimos meses começa a mostrar sinais de fratura.
Os preços no mercado imobiliário norte-americano estão caindo
de maneira inesperada, e o setor
como um todo revela tendência
de desaquecimento não vista em
mais de uma década.
A notícia coincide com um novo tom de preocupação do presidente do Fed (o banco central dos
EUA), Alan Greenspan.
Durante depoimento no Congresso ontem, Greenspan afirmou que os Estados Unidos estão
"longe de uma recuperação típica", ao acrescentar que o setor
empresarial continua "relutante"
em investir ou contratar.
Há pouco meses, o FMI (Fundo
Monetário Internacional) apontou um possível estouro da chamada "bolha imobiliária" norte-americana como motivo de "intensa preocupação".
Nos últimos oito anos, os imóveis nos EUA tiveram uma valorização 27% superior à inflação. O
fato tem levado a comparações
entre a "bolha imobiliária" e a
"bolha financeira" -que estourou nos EUA em 2000 e levou o
país à recessão.
Os imóveis no mercado norte-americano são usados como garantia de empréstimos para milhões de famílias e comprados
quase sempre financiados.
Uma queda abrupta nos preços
poderá, segundo o FMI, contaminar o setor financeiro e bancário
como um todo e dificultar a atual
retomada.
Abaixo da expectativa
Para Greenspan, o desempenho
do setor imobiliário tem ficado,
"definitivamente, abaixo das expectativas".
O Departamento de Comércio
dos EUA informou nesta semana
que o número de pedidos de autorização para o início de construções nos EUA caiu 8,2% em junho
sobre maio. Foi o maior declínio
percentual em mais de dez anos.
O início de obras já autorizadas
recuou mais: 8,5%.
Vários Estados norte-americanos também vêm experimentando uma queda abrupta nos preços
dos imóveis, forçados para baixo
por uma oferta crescente.
No condado de Orange (Califórnia), um dos mais aquecidos
nos últimos meses, a oferta de casas à venda com valores entre US$
550 mil e US$ 750 mil, por exemplo, passou de 248 unidades em
março para 964 em julho.
A tendência se repete em várias
outras regiões, segundo dados do
Multiple Listing Service, um serviço nacional que contabiliza as
ofertas de imóveis disponíveis em
dezenas de localidades nos Estados Unidos.
Pelas previsões do FMI, cerca de
40% dos "booms" (aumentos acelerados) imobiliários são seguidos
por estouros que levam a uma depreciação entre 25% e 30% dos
imóveis.
A valorização cujo ciclo pode
estar se encerrando agora foi, segundo o Fundo, uma das maiores
já registradas no país.
Uma das principais conseqüências para o setor bancário é que
muitos americanos tomam empréstimos dando como garantias
os seus imóveis. Se esse patrimônio passar a valer menos rapidamente, isso provocará um enorme descompasso entre o que o
banco emprestou e o que tomou
como garantia do cliente.
O atual movimento de aumento
dos juros nos Estados Unidos tende a agravar o cenário.
A partir de agora, muitas famílias terão de pagar cada vez mais
por empréstimos tomados para
comprar imóveis que estão valendo cada vez menos.
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