São Paulo, quarta-feira, 22 de julho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fed diz que já tem estratégia para conter risco de inflação

Para Bernanke, no entanto, juro ainda continuará baixo por um período "extenso"

Presidente do BC dos EUA afirma que será preciso tentar abortar na raiz o risco de onda inflacionária disparada pelos estímulos contra a recessão

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O presidente do Federal Reserve (BC dos EUA), Ben Bernanke, disse ontem que o órgão já tem pronta uma "estratégia de saída" da atual política expansionista, de relaxamento fiscal e de juros baixos. Mas frisou que ainda não é o momento de aplicá-la.
Embora a economia do país comece a dar sinais de reação, os juros continuarão baixos por um "período excepcionalmente extenso", disse. Mas devem subir quando a inflação voltar a se apresentar com um risco.
Em depoimento no Congresso dos EUA, Bernanke instou os principais bancos centrais do mundo a se prepararem para o mesmo movimento quando a economia global der novos sinais de vida.
Ele frisou que será preciso tentar abortar na raiz o risco de uma onda inflacionária disparada pela atual enxurrada de estímulos adotados para tentar tirar o mundo da recessão.
Enquanto a administração Barack Obama quer ampliar os poderes do Fed, Bernanke vem sendo questionado por parlamentares sobre a necessidade de acumular mais tarefas e a respeito dos planos para além da maior onda expansionista em termos fiscais desde a Segunda Guerra.
Um dos temores centrais, já expressado abertamente pelo governo da China, é que os gastos trilionários dos EUA nesta crise tragam descontrole tanto para as contas públicas norte-americanas como para a inflação. Como os chineses têm grande parte de suas reservas internacionais denominadas em dólares, a inflação corroeria esses ativos.
Bernanke afirmou que há uma estratégia contra a inflação, mas que ela não deve ser colocada em prática ainda porque a alta de preços por enquanto não preocupa.
Segundo ele, a taxa de desemprego em 9,5% (14 milhões de desempregados), os preços dos imóveis ainda em queda (de 18% nos últimos 12 meses) e a contração do crédito nos EUA ainda podem "comprometer a recente estabilização nos gastos das famílias".
"Estamos seguros de que temos os instrumentos para aumentar as taxas de juros quando se tornar necessário atingir nosso objetivo de maior nível de emprego possível com estabilidade de preços", afirmou.
O presidente do Fed disse que, em parte, a forte injeção de oferta de dinheiro público nos piores meses da crise já retrocedeu. Segundo ele, de US$ 1,5 trilhão em linhas de crédito de curto prazo (para empréstimos entre bancos e empresas) que o Fed concedeu no final de 2008, há menos de US$ 600 bilhões hoje no mercado.
Quando a oferta de dinheiro de um banco central diminui, o custo de captação (o juro) pago por bancos e empresas para operarem tende a crescer -segundo a mesma lei da oferta e procura de qualquer produto.
Há alguns meses, o Fed também recebeu autorização do Congresso para pagar 0,25% ao ano por recursos mantidos por bancos em suas carteiras.
Quando a economia melhorar e os bancos quiserem tirar o dinheiro do Fed para emprestar ao setor privado a um custo maior do que o 0,25% (e lucrar mais), o banco central pode aumentar a remuneração. Isso desestimularia os bancos a tirar os recursos do Fed e emprestar ao mercado. Com menos dinheiro circulando, a inflação tende a ser menor.
Além disso, o Fed poderá simplesmente aumentar a taxa básica de juros no país, hoje entre zero e 0,25%, reduzindo o ímpeto por crédito em toda a economia.
"Vamos calibrar o momento e o ritmo desse aperto [monetário], com um "mix" de nossos vários instrumentos", disse Bernanke.


Texto Anterior: Alexandre Schwartsman: Só resta tocar um tango argentino
Próximo Texto: Relatório critica custo de ajuda ao setor financeiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.