São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Quanto vale um níquel


Alta dos metais e onda de aquisições estimulam boato de novo negócio da Vale; mas de onde vai sair o dinheiro?


O RUMOR de que a Vale faria parte de um consórcio para comprar a terceira maior mineradora do mundo, a Anglo American, suscita por ora apenas duas perguntas desconfiadas e descrentes de gente que analisa esse mercado. De onde sairia o dinheiro? Quem está especulando?
Há uma onda de aquisições no negócio de mineração e de investimentos em fundos de commodities. O estímulo é uma disparada no preço dos metais que não se via havia quase 20 anos, devido ao crescimento chinês e, já há gente que o diga, a uma bolha de preços de petróleo.
Não é a primeira vez que jornais ingleses especulam sobre o negócio Vale-Anglo. Mas qualquer grande mineradora está quente no mercado de rumores. Há analistas que estimam em US$ 60 bilhões as disponibilidades de caixa das mineradoras para aquisições e novos negócios.
Comprar uma companhia concorrente tem sido considerado uma forma de aproveitar rapidamente o mercado altista e de se defender de uma oferta de compra.
Mas a Vale já está à beira de despender cerca de US$ 17 bilhões em dinheiro pela canadense Inco, gigante do níquel, com o que a empresa brasileira iria ao segundo lugar do pódio mundial das mineração.
Quanto vale o níquel? Níquel é matéria-prima da produção de aço inoxidável. Está em falta, subiu mais de 100% no ano (contra mais de 70% do cobre e 20% do aço). A especulação com as ameaças reais ou ventiladas de escassez do níquel é tanta que a maior Bolsa de metais do mundo, a London Metal Exchange, impôs limites à alavancagem nos negócios com o minério na semana passada.
A Vale pretende financiar a operação de compra da Inco, um negócio quase três vezes maior que seus investimentos previstos até o ano que vem. No mercado, considera-se que a empresa não faria mais grande dívida para uma nova aquisição. Uma outra operação de compra e/ou fusão, envolvendo papéis da empresa, ainda não seria bem-vista, devido ao fato de parte das ações não dar direito a voto (o investidor graúdo quer direito a voto).
Mas analistas em Londres acreditam que a Anglo American, a terceira maior do mundo, é um alvo, sim, embora um alvo de US$ 80 bilhões, o que torna o assunto mais delicado.
Outras duas grandes irmãs da Vale, a suíça Xstrata e a britânica Rio Tinto, podem estar com a mira na Anglo.
Outro especialista avalia que quem está de fato com mais apetite para novas aquisições de vulto seria a Xstrata, que acabou de levar por US$ 17 bilhões a Falconbridge, outra canadense gigante no níquel, da qual já possuía 25%. No final do ano passado, a americana Phelps Dodge, que concorre com a Vale pela compra da Inco, havia feito planos e acordos para adquirir um pacote Inco-Falconbridge por US$ 41 bilhões. Munição para aquisições e fusões, portanto, existe (assim como para especulação).
Um porém importante é que a Anglo está em processo de reestruturação, desfazendo-se de negócios fora do seu foco (papel e embalagens e mesmo açúcar e ouro), e deve mudar de comando em breve. Comprar a companhia enquanto ela está em período de muda pode ser arriscado. Mas quem imaginava a Vale indo com tanta sede ao pote da Inco?
@ - vinit@uol.com.br

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