São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 2006

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Índios ameaçam cortar gás para o Brasil

Manifestantes na Bolívia ocupam gasoduto responsável por 70% do fluxo do produto ao país; vice de Morales se reunirá com Lula

Em nota, Itamaraty diz que acompanha crise com "grande atenção'; ministro boliviano negocia com os indígenas

FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

Manifestantes indígenas controlam desde sexta-feira uma estação de medição do gasoduto responsável por 70% do gás boliviano exportado ao Brasil e ameaçam interromper o fluxo caso a empresa Transierra, proprietária do ramal, não aceite as suas exigências.
O protesto começou há uma semana, quando cem índios ligados à APG (Assembléia do Povo Guarani) cercaram a estação da empresa em Charagua, no Departamento de Santa Cruz. Sem avanço nas negociações, os manifestantes invadiram na noite de sexta as instalações, onde, segundo a Transierra, há uma válvula do tipo "shutdown", que, se fechada, bloqueia o fluxo do gasoduto.
A empresa Transierra pertence à Petrobras, à argentino-espanhola Andina/Repsol e à francesa Total. O seu gasoduto leva parte da produção do Departamento de Tarija (sul), na fronteira com a Argentina, até a localidade de Rio Grande (Santa Cruz), de onde é enviado para o território brasileiro pelo gasoduto Brasil-Bolívia.
Em paralelo ao gasoduto da Transierra, há outro gasoduto, administrado pela empresa Transredes, responsável pelo restante do gás levado de Tarija até Rio Grande. Segundo a Transierra, a maior parte do gás enviado ao Brasil utiliza seu gasoduto, que opera com 90% de sua capacidade, de 17,6 milhões de metros cúbicos/dia.
Ontem à noite, representantes do governo, dos guaranis e da empresa estavam reunidos em Charagua para discutir uma solução ao impasse. Até o fechamento desta edição, o encontro não havia terminado.
Em nota distribuída ontem à noite, o Itamaraty disse que "o governo brasileiro está acompanhando com grande atenção as negociações em curso entre o ministro do Desenvolvimento Rural da Bolívia, Hugo Salvatierra, e as lideranças da comunidade indígena guarani".
Por outro lado, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, afirmou ontem em Paulínia (interior de São Paulo) que não vê ameaça ao abastecimento. "Nós sempre enfatizamos, nos momentos mais críticos, a nossa confiança na garantia do fornecimento do gás boliviano", disse Gabrielli.
Os guaranis afirmam que a Transierra se recusa a entregar os US$ 9 milhões de um acordo assinado no ano passado. A empresa diz que o acordo prevê o desembolso do montante ao longo de 20 anos, a uma média anual de US$ 450 mil, o que vem sendo cumprido.

Visita
O vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, chega amanhã ao Brasil para uma viagem de dois dias. Na quinta-feira, estão previstos encontros com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores) e Silas Rondeau (Minas e Energia).
A Folha apurou que García Linera, considerado o principal ideólogo do governo Evo Morales, pretende se envolver mais nas relações tanto com o Brasil quanto com os EUA.


Colaborou MAURÍCIO SIMIONATO , da Agência Folha, em Paulínia

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