São Paulo, sexta, 22 de agosto de 1997.



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ALIMENTOS
Cia. Hering pode transferir o controle acionário da empresa por um valor de no mínimo US$ 400 milhões
Ceval deve ser vendida ao grupo Bunge

VANESSA ADACHI
MAURO ARBEX
da Reportagem Local

A Cia. Hering confirmou ontem que negocia com o grupo argentino Bunge y Born a venda do controle acionário da Ceval Alimentos, uma das maiores indústrias do setor no Brasil. A Hering detém o controle acionário da Ceval.
A confirmação veio por meio de notas encaminhadas pela Hering e pela Ceval à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e às Bolsas.
A Cia. Hering informou ter convocado uma assembléia geral para discutir a cisão parcial do grupo. A medida visaria facilitar as negociações para a venda do controle acionário da Ceval.
O diretor de relações com o mercado da Ceval, Antônio Carlos Silva, disse que a Hering está "em entendimentos com a Bunge International, que, se concretizados, poderão resultar na transferência do controle acionário da Ceval".
O negócio era dado como certo ontem, segundo apurou a Folha no mercado. As duas empresas já teriam assinado uma carta de intenções e agora seria dado início a uma auditoria interna na Ceval para se chegar ao preço final. A venda pode ser concretizada na próxima semana.
Analistas do mercado avaliam que a Ceval -a maior esmagadora de soja do país e grande exportadora de óleos vegetais- teria seu controle acionário transferido por no mínimo US$ 400 milhões.
A cifra poderia crescer, já que o novo controlador ficaria também com as marcas já consagradas de produtos da Ceval, como o óleo Soya, a margarina All Day e as carnes da linha Seara.
Ações suspensas
Ontem, logo no início do dia, a CVM suspendeu a negociação das ações da Ceval nas Bolsas de Valores, em razão dos fortes rumores de que o negócio já estaria fechado. As ações preferenciais (sem direito a voto) da Ceval vinham caindo nos últimos dias após surgirem rumores sobre a venda.
As ações preferenciais da Cia. Hering também foram suspensas às 16h de ontem e só devem voltar ao pregão às 11h de hoje. Antes de serem suspensos, os papéis haviam subido 10,3%.
Os entendimentos com o grupo Bunge começaram há apenas duas semanas, após naufragarem as negociações com a Cargill. A Folha apurou que a Cia. Hering e a Cargill não chegaram a um acordo sobre o valor de venda da Ceval.
O interesse da Bunge na Ceval se explica, conforme analistas do setor, pela necessidade de o grupo argentino se expandir na área de alimentos, que ele definiu como uma de suas prioridades no Brasil.
O grupo Bunge já controla a Santista Alimentos e, por intermédio dela, adquiriu várias empresas do setor nos últimos dois anos no país, como a Pullman Alimentos e a Plus Vita, da área de pães, e a Incobrasa, maior esmagadora de soja do Rio Grande do Sul.
Especulações de que a Santista Alimentos possa incorporar a Ceval, já que é o braço do setor de alimentos da Bunge no Brasil, fizeram suas ações subirem 14,2% no pregão de ontem da Bovespa.
Além de incrementar a área de óleos vegetais, sabe-se que a compra da Ceval será a realização de um antigo sonho para o grupo Bunge. Desde que foi frustrada a aquisição da Perdigão, a empresa deseja ter uma divisão de carnes.
Para a Cia. Hering, a venda da Ceval representaria uma importante capitalização, já que sua área têxtil vem enfrentando dificuldades com a concorrência dos importados.
A Ceval, por seu lado, está neste ano numa situação financeira confortável, após os prejuízos registrados no primeiro semestre do ano passado.
Com a recuperação dos preços internacionais da soja, a Ceval teve um lucro líquido de R$ 55,7 milhões no primeiro semestre deste ano e uma receita bruta de US$ 1,498 bilhão. Desse total, cerca de US$ 837 milhões foram obtidos com exportações.
A Cia. Hering detém 38,5% do capital total da Ceval e cerca de 80% das ações ordinárias (com direito a voto). Até ontem, não se sabia se a Hering transferiria a totalidade das ações que possui na Ceval ou apenas uma parcela do capital.



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