São Paulo, Domingo, 22 de Agosto de 1999
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Risco cambial dobra nos papéis argentinos medidos em pesos

ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires

O risco de uma desvalorização do peso argentino mais que dobrou desde abril, segundo relatório da FC (Fundação Capital), consultoria que assessora mais de 140 empresas na Argentina. Em abril, o risco cambial era de 200 pontos básicos. Agora, está acima de 400 pontos.
Esse índice é calculado pela diferença entre a taxa de juros paga por títulos da dívida externa argentina emitidos em dólar e a taxa dos títulos emitidos em peso. Ele mede o risco de longo prazo, pois trabalha com bônus, cujo vencimento é de dois anos.
Segundo Carlos Pérez, diretor-executivo da Fundação Capital, a diferença mostra que o investidor está exigindo um prêmio cada vez maior para emprestar em peso, pois está mais desconfiado que parte do rendimento pode ser comido por uma desvalorização. Na hora de receber os pesos que o governo argentino lhe deve, o investidor conseguiria menos dólares na conversão.
O patamar atual do risco cambial é o mesmo atingido quando da desvalorização do real, em janeiro. O que preocupa a direção da FC, no entanto, é que desta vez a desconfiança está se prolongando. "Na crise Russa e na crise do Brasil houve uma subida rápida, que logo cedeu", diz o consultor.
Mas, para Pérez, é quase impossível que a Argentina desvalorize nos próximos seis meses, devido ao nível de reservas internacionais e ao fato de o país já ter conseguido os dólares para pagar os compromissos deste ano.
O relatório da FC destaca que a diferença entre o risco cambial de longo prazo e o de curto prazo (diferença entre a remuneração dos depósitos em dólar e em peso) aumentou de uma média histórica de 100 pontos para cerca de 300 pontos, indicando um período de certa tranquilidade.
Mas esse mesmo indicador preocupa, pois "eleva a incerteza entre os investidores sobre a capacidade de sustentação no médio e longo prazo do atual esquema cambial (1 peso = 1 dólar)", diz o relatório.
Daqui a seis meses, a conversibilidade não está tão garantida, na opinião de Pérez. "Para uma melhora de competitividade, que não seja traumática (referindo-se à desvalorização), o país precisa encarar um série de reformas estruturais", diz ele.


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