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INSS
Governo argumenta que maioria ganha porque já se aposenta tarde
Nova aposentadoria mexe
mais com a classe média
GABRIEL J. DE CARVALHO
da Redação
O ministro da Previdência, Waldeck Ornélas, tem pela frente um
desafio complicado: convencer o
Congresso de que o projeto que
mexe de novo com as aposentadorias é socialmente justo.
Para defender a proposta, o ministro argumenta com estatísticas
nas mãos. Os segurados do INSS
se aposentam aos 61 anos, em média. Como as novas regras só reduzem o valor do benefício de
quem se aposenta mais cedo, a
maioria não será atingida, diz ele.
Pelo contrário, acrescenta, essa
maioria que se aposenta mais tarde -e o grosso, por idade, e não
por tempo de contribuição- poderá ter um benefício mais elevado.
Em junho passado, do total de
65,7 mil benefícios previdenciários concedidos, apenas 12,3 mil
foram por tempo de contribuição;
35,2 mil foram por idade, e 18,1
mil, por invalidez (este benefício
manterá a regra atual).
O perfil médio de quem se aposenta por tempo de contribuição
mostra uma pessoa com 52 anos
de idade e 33 de trabalho. Pelo
projeto, o valor da aposentadoria
de pessoas nessa situação cairia
cerca de 30%.
Mas esse segurado típico, afirma Ornélas, pagou apenas 10
anos de salários à Previdência,
considerando a parte da empresa,
podendo usufruir da aposentadoria por 23 anos (média de expectativa de vida). Quem paga a conta dos 13 anos?, questiona.
Ornélas não aceita a crítica de
que as mulheres seriam as mais
prejudicadas.
"Mulher não perde. Deixa de receber subsídio do Tesouro e
transferência de renda de outros
segurados que se aposentam mais
tarde", afirma.
O que o projeto pretende, explica o ministro, é introduzir parâmetros atuariais (cálculos de seguro social) no INSS. Quem permanece mais na fase de contribuição recebe mais, e vice-versa.
"Hoje, o segurado que se aposenta com 35 anos de contribuição recebe o mesmo que aquele
que contribuiu por 40 anos. É justo? O mesmo acontece com duas
pessoas que se aposentam, uma
com 50 e a outra com 60 anos de
idade. É correto? O sistema atual é
legal, mas não é legítimo nem socialmente justo."
O ministro insiste que o projeto
beneficia a maioria, mas admite
que é a classe média que tem poder de pressão -por exemplo, no
Congresso, que recebeu o projeto
na semana passada.
Newton Cezar Conde, diretor
da Atual Assessoria e Consultoria
Atuarial e professor da Fipe, considera o projeto bom do ponto de
vista técnico.
"A solução é por aí. No mundo
todo, os sistemas previdenciários
vêm adotando o enfoque atuarial,
pois as populações estão vivendo
mais tempo e deve haver um
equilíbrio, pois do contrário arrebenta", observa.
Na prática, entretanto, Conde
acha difícil aprovar essas mudanças. E vê pelo menos um defeito
na nova regra: o ponto neutro em
termos de idade indica 56 anos, o
que exigiria 39 a 40 anos de serviço. "Não é qualquer um que consegue isso", diz ele.
A saída seria uma transição gradual, diz Conde. O problema, reconhece, é que o equilíbrio do caixa da Previdência demoraria
muito a vir, e o governo tem pressa em conter o déficit público.
Ornélas vê chances de aprovação, mesmo porque "não dá mais
para empurrar com a barriga".
Hoje, afirma, o déficit do INSS é
bem menor que o do setor público. Acontece que o rombo do
INSS cresce mais rapidamente
que o da previdência pública.
A meta do governo, segundo
ele, é estabilizar o déficit do INSS e
reduzir o do setor público.
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