São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2006

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VINICIUS TORRES FREIRE

Diversão no mercado está de volta



Tailândia e Hungria viram explicações sobre tensão de ontem, mas fator de base ainda é incerteza nos EUA

QUANDO OS MERCADOS financeiros vivem um dia azedo, como ontem, muito analista de negócios parece um mau cozinheiro tentando melhorar o gosto de um prato malfeito: despeja um monte de temperos na gororoba, a fim de ver se o gosto melhora.
Ontem, misturava-se alecrim com capim-santo e hortelã com curry para explicar motivo pelo qual investidores fugiam de ativos brasileiros: a aversão ao tumulto na periferia. Isto é, o golpe de Estado na Tailândia, a crise na Hungria, o presidente do Equador afirmando em Nova York que o país precisa reestruturar a sua dívida.
Um clichê do dia era que "o mercado começou a precificar a crise política" e seu efeito sobre a "governabilidade" em 2007. Vero? É preciso observar os próximos dias e consultar um psicólogo de mercado.
As melhores especulações são ainda as mais triviais e conhecidas. Como é crescente o clima de incerteza na economia mundial, qualquer informação negativa nova leva investidores a tirar parte do seu dinheiro de mercados mais esquisitos, arriscados e sujeitos a danos.
Ontem, saíram dois indicadores ruins, embora algo periféricos, sobre o nível da atividade industrial nos Estados Unidos. As Bolsas deram um caidinha, e os títulos do Tesouro passaram a render menos, pois agora se especula que o Federal Reserve não vai mexer na taxa de juros até o final do ano. Isto é, acreditava-se ontem que a economia vai esfriar um pouco mais.
Se os Estados Unidos compram menos, o Brasil vende menos. Há um rumorejo sobre o efeito do esfriamento mundial sobre o preço das commodities (produtos básicos), que por isso vêm caindo. Quase metade das nossa exportações é de produtos básicos. E, como empresas de commodities têm peso grande na Bovespa, a Bolsa cai. Para temperar tudo com um pouco mais de limão, há más notícias nos negócios lastreados em preço de commodities.
Como o preço de produtos básicos, como metais e combustíveis, subiam alucinadamente nos últimos cinco anos, fundos de investimento que apostam no preço futuro de commodities cresceram e se multiplicaram. Muito investidor novato, que entrou na alta do mercado, assustou-se com as más notícias dos últimos dois meses: fundos quebrando e perdendo dinheiro. Pararam de colocar sua poupança nesse mercado.
Embora um estudo do FMI (no último "Panorama Econômico Mundial") afirme que os especuladores não motivaram uma alta excessiva de preços de commodities, há muita gente com as barbas de molho com uma possível fuga desses ativos, mais quedas de preços e perdas para bancos que ajudaram fundos de hedge a brincar com o preço do níquel, do cobre etc.
O resultado dessa fuga do risco é que investidores vendem parte de seus ativos no Brasil. Isso resulta em queda na Bovespa, venda de títulos da dívida do país (isto é, risco Brasil em alta), dificuldade temporária para o Tesouro tomar dinheiro emprestado no mercado pelo preço que deseja e até em desconfiança no real forte. Como cereja e creme do bolo, há o fato de o Brasil não crescer, o que afasta certo tipo de investidor do país.

vinit@uol.com.br


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