São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2008

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EUA estendem ajuda a bancos estrangeiros

Em "atualização" do plano, Tesouro diz agora que poderão se beneficiar empresas com "operação significativa" nos EUA

Como contrapartida à inclusão, secretário Henry Paulson espera reformas similares nos principais mercados do mundo

Win McNamee-17.set.08/France Presse
Henry Paulson, secretário do Tesouro, que passou o dia de ontem concedendo entrevistas a TVs americanas para explicar o plano

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

O Departamento do Tesouro norte-americano ampliou a instituições estrangeiras o pacote que negocia com o Congresso para limpar das empresas os papéis podres originados pela crise hipotecária ou em conseqüência dela. A princípio, poderão se beneficiar companhias que tenham "operação significativa" nos EUA, mas a proposta dá margem a auxílio mesmo às que não têm.
O anúncio foi feito ontem pelo secretário do Tesouro, Henry Paulson, durante bateria de entrevistas que concedeu a emissoras norte-americanas ao longo do dia. Indagado sobre se empresas estrangeiras poderiam tentar se beneficiar do plano, respondeu que "sim, e elas devem": "Se uma instituição financeira tem operações de negócio nos EUA, contrata pessoas aqui, se está entupida com ativos sem liquidez, terá o mesmo impacto sobre o povo americano que qualquer outra instituição".
O primeiro esboço do plano, de sexta-feira, dizia que apenas empresas com sede nos EUA poderiam ser auxiliadas pelo pacote de medidas que o governo Bush apresentou ao Congresso. Entre elas, a principal é uma verba de até US$ 700 bilhões que será usada para tirar do mercado os chamados papéis podres, ou ativos financeiros considerados ruins.
No texto com a proposta divulgado aos jornalistas às 20h05 locais de sábado (21h05 de Brasília), atualizado naquela tarde, no entanto, o Tesouro afirma que "instituições financeiras participantes devem ter operações significativas nos EUA" -ou seja, não precisam mais necessariamente ter sede no país. Vai além, no que pode ser interpretado como uma possibilidade de ajuda mesmo a instituições financeiras em dificuldades fora dos EUA.
Após consulta com o presidente do Federal Reserve (o BC americano), continua o texto, o secretário pode "determinar que uma elegibilidade mais ampla [de empresas a serem beneficiadas] seja necessária para estabilizar efetivamente os mercados financeiros".
A ampliação do raio de ação do pacote se deve à ofensiva da Casa Branca para que governos dos principais mercados do mundo apresentem também eles seus planos e façam suas reformas. A inclusão de instituições estrangeiras visaria essa contrapartida futura. Ontem, Paulson tocou no assunto pela primeira vez em público.
"Nós temos um sistema financeiro global e estamos falando muito ativamente com outros países e os encorajando a fazer coisas semelhantes, e eu acredito que muitos farão", afirmou o secretário do Tesouro. Na mesma rodada de entrevistas, Paulson confirmou que fundos de "hedge" (fundos especulativos) não poderão se beneficiar das medidas.
Disse ainda que o valor total pedido, de US$ 700 bilhões, que elevará o débito público americano a US$ 11,3 trilhões, é um teto, mas que o custo final pode ser menor. "Sim, o contribuinte está em risco", afirmou, mas "só em circunstâncias extraordinárias, altamente improváveis, o custo será perto da quantia a ser gasta nos ativos."

"Ditador financeiro"
Embora as lideranças das comissões financeiras do Congresso, dominado pela oposição democrata, tenham dito que tentarão votar as medidas até a próxima sexta, quando o Legislativo entra em seu recesso eleitoral, nem todos estão de acordo com elas. Conforme o plano vai sendo mais detalhado, há a percepção de que a ampliação dos poderes do titular do Tesouro é excessiva.
"Está claro que o governo requisitou que o Congresso autorize, em muito pouco tempo, poderes impressionantes e sem precedentes para o secretário do Tesouro", afirmou a presidente do Congresso, Nancy Pelosi, em nota. "Os democratas trabalharão com o governo para garantir que nossa reposta aos eventos nos mercados financeiros seja rápida, mas nós precisamos isolar Wall Street dos pequenos negócios e manter as pessoas em suas casas."
Pela proposta do governo, Paulson terá "amplos poderes" para "garantir a estabilidade ou prevenir a quebra de mercados financeiros e proteger os contribuintes" e "nenhum tribunal ou agência governamental poderá examinar as decisões do secretário", que prestará contas ao Congresso nos três primeiros meses e, depois, duas vezes ao ano, até o fim das medidas, dois anos depois.
O secretário está "efetivamente se tornando o ditador do sistema financeiro norte-americano por alguns meses, sujeito à vigilância do Congresso", afirmou John Steele Gordon, historiador de Wall Street e e autor de livro sobre o débito dos Estados Unidos.
Outra preocupação dos democratas é garantir algum tipo de ajuda financeira às pessoas prejudicadas pela atual crise. Uma das propostas a ganhar corpo prevê a adição de um pacote de estímulo fiscal de US$ 50 bilhões, similar ao aprovado em janeiro. Ontem, Paulson alertou para o risco de desviar o pacote de sua intenção original. "A melhor ajuda que podemos dar ao povo norte-americano agora é estabilizar o sistema financeiro", disse ele.


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