|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUA estendem ajuda a bancos estrangeiros
Em "atualização" do plano, Tesouro diz agora que poderão se beneficiar empresas com "operação significativa" nos EUA
Como contrapartida à inclusão, secretário Henry Paulson espera reformas similares nos principais mercados do mundo
Win McNamee-17.set.08/France Presse
|
|
Henry Paulson, secretário do Tesouro, que passou o dia de ontem concedendo entrevistas a TVs americanas para explicar o plano
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O Departamento do Tesouro
norte-americano ampliou a
instituições estrangeiras o pacote que negocia com o Congresso para limpar das empresas os papéis podres originados
pela crise hipotecária ou em
conseqüência dela. A princípio,
poderão se beneficiar companhias que tenham "operação
significativa" nos EUA, mas a
proposta dá margem a auxílio
mesmo às que não têm.
O anúncio foi feito ontem pelo secretário do Tesouro,
Henry Paulson, durante bateria de entrevistas que concedeu
a emissoras norte-americanas
ao longo do dia. Indagado sobre
se empresas estrangeiras poderiam tentar se beneficiar do
plano, respondeu que "sim, e
elas devem": "Se uma instituição financeira tem operações
de negócio nos EUA, contrata
pessoas aqui, se está entupida
com ativos sem liquidez, terá o
mesmo impacto sobre o povo
americano que qualquer outra
instituição".
O primeiro esboço do plano,
de sexta-feira, dizia que apenas
empresas com sede nos EUA
poderiam ser auxiliadas pelo
pacote de medidas que o governo Bush apresentou ao Congresso. Entre elas, a principal é
uma verba de até US$ 700 bilhões que será usada para tirar
do mercado os chamados papéis podres, ou ativos financeiros considerados ruins.
No texto com a proposta divulgado aos jornalistas às
20h05 locais de sábado (21h05
de Brasília), atualizado naquela
tarde, no entanto, o Tesouro
afirma que "instituições financeiras participantes devem ter
operações significativas nos
EUA" -ou seja, não precisam
mais necessariamente ter sede
no país. Vai além, no que pode
ser interpretado como uma
possibilidade de ajuda mesmo a
instituições financeiras em dificuldades fora dos EUA.
Após consulta com o presidente do Federal Reserve (o BC
americano), continua o texto, o
secretário pode "determinar
que uma elegibilidade mais ampla [de empresas a serem beneficiadas] seja necessária para
estabilizar efetivamente os
mercados financeiros".
A ampliação do raio de ação
do pacote se deve à ofensiva da
Casa Branca para que governos
dos principais mercados do
mundo apresentem também
eles seus planos e façam suas
reformas. A inclusão de instituições estrangeiras visaria essa contrapartida futura. Ontem, Paulson tocou no assunto
pela primeira vez em público.
"Nós temos um sistema financeiro global e estamos falando muito ativamente com
outros países e os encorajando
a fazer coisas semelhantes, e eu
acredito que muitos farão",
afirmou o secretário do Tesouro. Na mesma rodada de entrevistas, Paulson confirmou que
fundos de "hedge" (fundos especulativos) não poderão se beneficiar das medidas.
Disse ainda que o valor total
pedido, de US$ 700 bilhões,
que elevará o débito público
americano a US$ 11,3 trilhões, é
um teto, mas que o custo final
pode ser menor. "Sim, o contribuinte está em risco", afirmou,
mas "só em circunstâncias extraordinárias, altamente improváveis, o custo será perto da
quantia a ser gasta nos ativos."
"Ditador financeiro"
Embora as lideranças das comissões financeiras do Congresso, dominado pela oposição democrata, tenham dito
que tentarão votar as medidas
até a próxima sexta, quando o
Legislativo entra em seu recesso eleitoral, nem todos estão de
acordo com elas. Conforme o
plano vai sendo mais detalhado, há a percepção de que a ampliação dos poderes do titular
do Tesouro é excessiva.
"Está claro que o governo requisitou que o Congresso autorize, em muito pouco tempo,
poderes impressionantes e sem
precedentes para o secretário
do Tesouro", afirmou a presidente do Congresso, Nancy Pelosi, em nota. "Os democratas
trabalharão com o governo para garantir que nossa reposta
aos eventos nos mercados financeiros seja rápida, mas nós
precisamos isolar Wall Street
dos pequenos negócios e manter as pessoas em suas casas."
Pela proposta do governo,
Paulson terá "amplos poderes"
para "garantir a estabilidade ou
prevenir a quebra de mercados
financeiros e proteger os contribuintes" e "nenhum tribunal
ou agência governamental poderá examinar as decisões do
secretário", que prestará contas ao Congresso nos três primeiros meses e, depois, duas
vezes ao ano, até o fim das medidas, dois anos depois.
O secretário está "efetivamente se tornando o ditador do
sistema financeiro norte-americano por alguns meses, sujeito à vigilância do Congresso",
afirmou John Steele Gordon,
historiador de Wall Street e e
autor de livro sobre o débito
dos Estados Unidos.
Outra preocupação dos democratas é garantir algum tipo
de ajuda financeira às pessoas
prejudicadas pela atual crise.
Uma das propostas a ganhar
corpo prevê a adição de um pacote de estímulo fiscal de US$
50 bilhões, similar ao aprovado
em janeiro. Ontem, Paulson
alertou para o risco de desviar o
pacote de sua intenção original.
"A melhor ajuda que podemos
dar ao povo norte-americano
agora é estabilizar o sistema financeiro", disse ele.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Europa reluta em seguir receita americana Índice
|