São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2000

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AVIAÇÃO
Wagner Canhedo, presidente da empresa, foi ao BNDES pedir empréstimos para comprar 20 novos jatos médios
Vasp quer jatos Embraer e dinheiro público

Ichiro Guerra/Folha Imagem
O empresário Wagner Canhedo, presidente da Vasp, que acumula dívida de mais de US$ 2 bilhões


GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S/A

Wagner Canhedo, um dos homens mais endividados do país, esteve nos últimos dias no BNDES a fim de apresentar um novo plano de investimentos para a Vasp. Ele quer investir US$ 320 milhões na compra de 20 aviões da Embraer e quer que o banco financie 80% desses recursos.
O empresário não acha que o fato de ele dever mais de US$ 2 bilhões seja um impedimento a esse empréstimo.
"Nós somos a única empresa do setor no país com ativos líquidos de R$ 1 bilhão. Se vendermos tudo e pagarmos nossas dívidas, ainda sobra R$ 1 bilhão", disse. "As outras empresas são virtuais." A seguir, os principais trechos da entrevista:
 

Folha - O senhor esteve no BNDES?
Canhedo -
Não, não estive no BNDES.

Folha - O senhor não esteve mesmo no BNDES recentemente?
Canhedo -
O que nós estamos fazendo é um trabalho junto à Embraer e outras empresas que fabricam aviões de 50 e 70 lugares, como a Bombardier, para aumentar nossa frota de aviões. Nós vamos buscar recursos para isso. Como é o BNDES que administra esses recursos de longo prazo, nós devemos ir ao BNDES.

Folha - Mais uma vez. O senhor não esteve no BNDES?
Canhedo -
Nós estivemos lá com a diretoria do Proex, mas não com o Gros (Francisco Gros, presidente do BNDES). Nos próximos dias, iremos novamente ao banco para apresentar o estudo de ampliação da nossa frota.

Folha - Que estudo é esse?
Canhedo -
Nós queremos entrar na aviação regional. A idéia é atingir as 36 principais cidades brasileiras com vôos diretos. Para isso, vamos comprar 20 aviões de 50 ou 70 lugares.

Folha - De quanto seria esse investimento?
Canhedo -
O total da operação é de US$ 320 milhões. Não sabemos se será um leasing financeiro ou um leasing operacional. Vamos fazer o que for mais barato. Nós pretendemos financiar 80% do total da operação. O nosso objetivo agora é crescer nesse mercado regional.

Folha - A Vasp é uma das maiores devedoras do país? Como o senhor espera conseguir novos créditos?
Canhedo -
Mas já era devedora antes de ser privatizada. Uma coisa é você ser devedor e outra é ser sonegador. Se eu devo e estou contabilizando o débito, quer dizer que eu vou pagá-lo. Nunca me neguei a abrir minha contabilidade. Não sonego informações. Todas as companhias aéreas devem. A Varig deve. A Transbrasil deve. Todo mundo deve. Dever, na minha opinião, não tem nada a ver com desonestidade ou qualquer coisa do gênero.

Folha - Como o senhor pretende pagar essa dívida?
Canhedo -
A Vasp é a única empresa que tem ativos líquidos. As outras não têm. Nós temos um ativo líquido de R$ 1 bilhão. Ou seja, se vendermos tudo o que temos e pagarmos nossas dívidas, ainda sobra R$ 1 bilhão. Os nossos concorrentes são virtuais. Nada é deles. Tudo é terceirizado. Basta ver os balanços da Varig, TAM e Transbrasil.

Folha - Mas como o senhor pretende pagar essa dívida?
Canhedo -
Nós estamos aguardando a possibilidade de um acerto com a União no processo que está correndo na Justiça (de indenização por tarifas controladas nos anos 80). Tivemos problemas agora no Tribunal Federal de Recursos (TRF), a Vasp perdeu em primeira instância, mas temos direito a mais três recursos, dois no próprio TRF e um no Superior Tribunal de Justiça (STJ). É com esse acordo com a União, a exemplo do que aconteceu com a Transbrasil, que pretendemos quitar nossas dívidas com o INSS, o Infraero e o Imposto de Renda

Folha - Qual é o total que a Vasp espera receber da União?
Canhedo -
O total do nosso crédito é de R$ 2,3 bilhões, que terá ainda de ser corrigido pelo menos com TJLP e mais 12% ao ano.

Folha - Quando o senhor espera ver esse dinheiro na sua conta?
Canhedo -
Espero que logo no início do ano, quando o nosso recurso será julgado novamente.

Folha - Se isso acontecer, o que ocorrerá com a Vasp?
Canhedo -
A Vasp, na minha opinião, será a única empresa que terá condições de se desenvolver e participar da competição no mercado internacional com as megacompanhias aéreas, como a American Airlines, a Delta e outras.

Folha - E se não conseguir ver a cor do dinheiro?
Canhedo
- Não trabalhamos com essa hipótese. Nós achamos que o direito é bom, já que existe até jurisprudência firmada. O nosso caso é idêntico ao da Transbrasil. Também estamos com nossa dívida refinanciada pelo Refis.

Folha - A Transbrasil recebeu o dinheiro da União, mas o problema dela não foi resolvido.
Canhedo -
Não sei. Mas, com certeza, seus números melhoraram muito.

Folha - Mas por que então o acordo da Transbrasil com a TAM não saiu até agora?
Canhedo -
Para comprar alguma coisa, você precisa ter dinheiro. Ninguém pode comprar algo só com papo. Eu não sei o que acontece na negociação entre a TAM e a Transbrasil. Só sei que a negociação deles não está caminhando. Eu não posso dizer quem é o culpado. Que não está caminhando, não está.


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