Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AVIAÇÃO
Wagner Canhedo, presidente da empresa, foi ao BNDES pedir empréstimos para comprar 20 novos jatos médios
Vasp quer jatos Embraer e dinheiro público
Ichiro Guerra/Folha Imagem
|
O empresário Wagner Canhedo, presidente da Vasp, que acumula dívida de mais de US$ 2 bilhões |
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S/A
Wagner Canhedo, um dos homens mais endividados do país,
esteve nos últimos dias no BNDES
a fim de apresentar um novo plano de investimentos para a Vasp.
Ele quer investir US$ 320 milhões
na compra de 20 aviões da Embraer e quer que o banco financie
80% desses recursos.
O empresário não acha que o fato de ele dever mais de US$ 2 bilhões seja um impedimento a esse
empréstimo.
"Nós somos a única empresa do
setor no país com ativos líquidos
de R$ 1 bilhão. Se vendermos tudo
e pagarmos nossas dívidas, ainda
sobra R$ 1 bilhão", disse. "As outras empresas são virtuais." A seguir, os principais trechos da entrevista:
Folha - O senhor esteve no
BNDES?
Canhedo - Não, não estive no
BNDES.
Folha - O senhor não esteve mesmo no BNDES recentemente?
Canhedo - O que nós estamos fazendo é um trabalho junto à Embraer e outras empresas que fabricam aviões de 50 e 70 lugares, como a Bombardier, para aumentar
nossa frota de aviões. Nós vamos
buscar recursos para isso. Como é
o BNDES que administra esses recursos de longo prazo, nós devemos ir ao BNDES.
Folha - Mais uma vez. O senhor
não esteve no BNDES?
Canhedo - Nós estivemos lá com
a diretoria do Proex, mas não com
o Gros (Francisco Gros, presidente do BNDES). Nos próximos
dias, iremos novamente ao banco
para apresentar o estudo de ampliação da nossa frota.
Folha - Que estudo é esse?
Canhedo - Nós queremos entrar
na aviação regional. A idéia é atingir as 36 principais cidades brasileiras com vôos diretos. Para isso,
vamos comprar 20 aviões de 50
ou 70 lugares.
Folha - De quanto seria esse investimento?
Canhedo - O total da operação é
de US$ 320 milhões. Não sabemos
se será um leasing financeiro ou
um leasing operacional. Vamos
fazer o que for mais barato. Nós
pretendemos financiar 80% do
total da operação. O nosso objetivo agora é crescer nesse mercado
regional.
Folha - A Vasp é uma das maiores
devedoras do país? Como o senhor
espera conseguir novos créditos?
Canhedo - Mas já era devedora
antes de ser privatizada. Uma coisa é você ser devedor e outra é ser
sonegador. Se eu devo e estou
contabilizando o débito, quer dizer que eu vou pagá-lo. Nunca me
neguei a abrir minha contabilidade. Não sonego informações. Todas as companhias aéreas devem.
A Varig deve. A Transbrasil deve.
Todo mundo deve. Dever, na minha opinião, não tem nada a ver
com desonestidade ou qualquer
coisa do gênero.
Folha - Como o senhor pretende
pagar essa dívida?
Canhedo - A Vasp é a única empresa que tem ativos líquidos. As
outras não têm. Nós temos um
ativo líquido de R$ 1 bilhão. Ou
seja, se vendermos tudo o que temos e pagarmos nossas dívidas,
ainda sobra R$ 1 bilhão. Os nossos
concorrentes são virtuais. Nada é
deles. Tudo é terceirizado. Basta
ver os balanços da Varig, TAM e
Transbrasil.
Folha - Mas como o senhor pretende pagar essa dívida?
Canhedo - Nós estamos aguardando a possibilidade de um
acerto com a União no processo
que está correndo na Justiça (de
indenização por tarifas controladas nos anos 80). Tivemos problemas agora no Tribunal Federal de
Recursos (TRF), a Vasp perdeu
em primeira instância, mas temos
direito a mais três recursos, dois
no próprio TRF e um no Superior
Tribunal de Justiça (STJ). É com
esse acordo com a União, a exemplo do que aconteceu com a
Transbrasil, que pretendemos
quitar nossas dívidas com o INSS,
o Infraero e o Imposto de Renda
Folha - Qual é o total que a Vasp
espera receber da União?
Canhedo - O total do nosso crédito é de R$ 2,3 bilhões, que terá
ainda de ser corrigido pelo menos
com TJLP e mais 12% ao ano.
Folha - Quando o senhor espera
ver esse dinheiro na sua conta?
Canhedo - Espero que logo no
início do ano, quando o nosso recurso será julgado novamente.
Folha - Se isso acontecer, o que
ocorrerá com a Vasp?
Canhedo - A Vasp, na minha
opinião, será a única empresa que
terá condições de se desenvolver e
participar da competição no mercado internacional com as megacompanhias aéreas, como a American Airlines, a Delta e outras.
Folha - E se não conseguir ver a
cor do dinheiro?
Canhedo - Não trabalhamos
com essa hipótese. Nós achamos
que o direito é bom, já que existe
até jurisprudência firmada. O
nosso caso é idêntico ao da Transbrasil. Também estamos com
nossa dívida refinanciada pelo
Refis.
Folha - A Transbrasil recebeu o dinheiro da União, mas o problema
dela não foi resolvido.
Canhedo - Não sei. Mas, com
certeza, seus números melhoraram muito.
Folha - Mas por que então o acordo da Transbrasil com a TAM não
saiu até agora?
Canhedo - Para comprar alguma
coisa, você precisa ter dinheiro.
Ninguém pode comprar algo só
com papo. Eu não sei o que acontece na negociação entre a TAM e
a Transbrasil. Só sei que a negociação deles não está caminhando. Eu não posso dizer quem é o
culpado. Que não está caminhando, não está.
Texto Anterior: Funcionários do Banespa fazem ato em São Paulo Próximo Texto: Cronologia Índice
|