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Palocci quer mudar o modelo de gasto social
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Antonio Palocci (Fazenda) defendeu ontem um novo
modelo para os gastos sociais, em
que as atuais destinações obrigatórias do Orçamento para cada
área seriam substituídas por metas para a expansão da despesa total. Pelo raciocínio de Palocci, exposto em um seminário sobre o
programa Bolsa-Família, a adoção dessa estratégia daria maior
"eficiência" aos gastos sociais
-na visão da área econômica, seria desejável dar maior liberdade
ao governo para a execução do
Orçamento.
Hoje, a maior parte das despesas federais tem caráter obrigatório: pessoal, aposentadorias dos
setores público e privado, saúde,
educação, assistência social, repasses a Estados e municípios, todas são protegidas pela Constituição com regras que determinam
sua expansão contínua.
"O Brasil tem espaço para ampliar o gasto social, mas não de
forma segmentada", disse Palocci, segundo o qual o grau de vinculação [destinação obrigatória]
do Orçamento, se levado ao pé da
letra, já passa dos 100%. "Se cada
área quiser garantir o seu, nós não
vamos conseguir construir um
mecanismo eficiente."
Desde 1994, a União dribla as
vinculações por meio de um artifício provisório renovado sucessivamente com nomes diferentes
-hoje, ele se chama DRU (Desvinculação de Receitas da União)
e permite o uso livre de 20% da receita dos principais tributos.
O tema é politicamente espinhoso. Nos tempos de oposição, o
próprio PT estava entre os líderes
da resistência às propostas de
concessão de maior poder de decisão ao governo na execução dos
gastos sociais. Avaliava-se -e
avalia-se- que a medida acabaria sendo usada para conter despesas e elevar o pagamento de juros da dívida pública.
Já Palocci argumentou ontem
que "é falsa a dualidade entre o
equilíbrio fiscal e o gasto social".
No longo prazo, afirmou, o primeiro é que garante o segundo.
O governo Lula herdou da administração FHC o diagnóstico de
que o gasto social brasileiro não é
pequeno (em 2004, 70% do Orçamento federal ou 16% do Produto
Interno Bruto, fora a parte de Estados e municípios), mas é mal direcionado. Considera-se ainda
que a vinculação tende a estimular desperdícios, por garantir recursos independentemente da
qualidade da gestão.
"O Brasil tem um nível de investimento social muito razoável",
repetiu Palocci, que apresentou
um gráfico apontando que boa
parte dos recursos -da Previdência, em especial- não chega
aos de fato mais pobres.
Como exemplo virtuoso, foi citado o Bolsa-Família, principal vitrine da política social de Lula e
resultado da fusão de programas
de transferência de renda criados
no governo tucano.
Críticos da desvinculação dizem
que a medida pode estimular a
adoção de programas de caráter
temporário e eleitoreiro, no lugar
de políticas permanentes.
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