São Paulo, domingo, 22 de outubro de 2006

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"Para felicidade geral, imposto não pode subir", diz Delfim

DA REPORTAGEM LOCAL

O economista Antonio Delfim Netto é um dos maiores defensores de um ajuste no gasto público. Leia entrevista: (FCZ)

 

FOLHA - A maior parte do gasto não pode sofrer corte. O custeio é só uma pequena parcela, e o investimento já está no osso. O que fazer?
ANTÔNIO DELFIM NETTO
- Para felicidade geral, não pode mais haver aumento de imposto, pois a sociedade não tolera mais isso. Por outro lado, não pode mais aumentar a dívida, pois existe a percepção de que, se ela passar muito de 50% do PIB, o mercado financeiro tem "taquicardia" e exige aumento de juros, arruinando tudo. O momento atual é muito propício, pois o governo não tem mais saída. Trata-se agora de fazer um programa em que as despesas não sejam fixadas em relação ao PIB ou à receita, pois isso não adianta. É preciso entregar às várias áreas do governo os mesmos recursos todos os anos por um período de vários anos. A correção dos valores acompanharia só o IPCA (inflação). Assim, será exigido aumento da eficiência, cujo codinome é "choque de gestão", que faça a produtividade do governo crescer algo como 1,5% ao ano.

FOLHA - E qual seria a estratégia para os demais gastos obrigatórios, como salários e Previdência? Corrigir apenas pela inflação?
DELFIM NETTO
- Dar só a inflação. É isso. Na verdade, esses aumentos dados ao salário mínimo são o mecanismo menos eficiente para reduzir a pobreza. Agora isso já está dado. Acabou. Não vai poder continuar fazendo. Se quiser fazer isso, o governo terá de se conformar com um país que continuará tendo um crescimento lento.

FOLHA - O sr. teme que o espaço aberto pela redução da taxa de juro na despesa financeira acabe sendo coberto por novos aumentos nos gastos correntes?
DELFIM NETTO
- Na minha opinião, todos esses recursos devem ser utilizados para aumentar o investimento público. Isso é o fundamental para incentivar o crescimento. Creio que o governo tenha hoje plena consciência do problema dos gastos.


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