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Inflação é coisa do passado, diz Nobel
Edmund Phelps afirma que preços altos não ajudam economia nem têm utilidade econômica e defende regime de metas
Economista americano elogia programas como o Bolsa Família, no Brasil, que subsidiam salários baixos e estimulam a educação
David Karp/Associated Press
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O economista norte-americano Edmund Phelps, ganhador do Prêmio Nobel, que diz que a inflação alta não tem utilidade econômica
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O ganhador do Prêmio Nobel
de Economia deste ano, Edmund Phelps, 73, afirma que o
programa Bolsa Família, do governo brasileiro, "parece correto". Para ele, "é impossível superestimar a importância da
educação".
O economista, professor da
Universidade Columbia, viveu
no Brasil durante pouco mais
de um trimestre, em 1993,
quando esteve na Fundação
Getulio Vargas. Conhece São
Paulo, Rio de Janeiro e Bahia,
mas não arrisca fazer avaliação
sobre a economia brasileira.
Diz Phelps que sua rotina
não mudou muito desde que
soube ter ganhado o prêmio de
US$ 1,37 milhão e que está apenas um pouco mais ocupado
"concedendo entrevistas".
Ele defende o sistema de metas de inflação, apesar de dizer
que, em momentos de tensão
muito grande, é razoável que o
Banco Central abandone a meta temporariamente em prol de
objetivos mais importantes.
Inflações crônicas, que assombraram grande número de
países até pelo menos a década
de 1980, são um problema do
passado. "As pessoas entendem
que não há nada que nós podemos fazer com inflação que não
possamos fazer sem inflação."
Leia a seguir os principais
trechos de entrevista concedida por Phelps, por telefone.
FOLHA - Como se sente um ganhador do Nobel?
EDMUND PHELPS - Eu não posso
falar em geral, mas apenas de
mim mesmo. Foi um grande
alívio. Eu não tenho mais que
pensar nisso. A vida não mudou
muito. Eu estou muito ocupado
dando entrevistas, continuo
dando aula e tenho que planejar os próximos meses. Eu estou extremamente ocupado, só
isso. Bom, eu estou sempre
ocupado, mas agora eu estou
muito ocupado.
FOLHA - O sr. ganhou o prêmio por
trabalho que acabou sendo uma das
bases da maneira como os bancos
centrais de todo mundo entendem e
combatem a inflação. Episódios de
inflação crônica praticamente desapareceram depois dos anos 1990.
Nós podemos considerar esses episódios problemas do passado?
PHELPS - Eu acho que sim, a inflação não é mais aceitável. O
público não fica feliz quando os
governos causam inflação.
Quando a inflação sobe devido
a forças de mercado, as pessoas
esperam que o governo lide
com a situação e combata a inflação, eliminando-a.
FOLHA - Mudou a percepção das
pessoas?
PHELPS - As pessoas entendem
que não há nada que nós podemos fazer com inflação que não
possamos fazer sem inflação.
Ela não é um instrumento útil
para nada. Claro que, às vezes, é
conveniente aceitar uma pequena aceleração da inflação.
Desde que fique claro ser uma
coisa temporária. Mas inflação
crônica não é mais aceitável.
FOLHA - No Brasil, como em vários
outros países emergentes, temos
um sistema de metas de inflação. O
sr. o considera um bom regime?
PHELPS - Eu não sei como é o regime de metas de inflação no
Brasil. Minha visão é que, em
tempos normais, quando nada
particularmente novo tenha
ocorrido e quando o nível de incerteza é normal, é perfeitamente razoável para o Banco
Central seguir alguma regra de
política monetária e é perfeitamente razoável que essa regra
inclua uma meta de inflação,
como 2%, no caso dos EUA.
Mas, em períodos anormais,
quando novos tipos de choque
tenham ocorrido na economia
e quando há grande incerteza a
respeito de quais serão as conseqüências do choque, talvez o
melhor seja jogar fora a regra e
abandonar a meta temporariamente. Isso não significa que o
BC deva encorajar a inflação
durante o período, mas só que
ele deve ter objetivos mais importantes naquele momento.
FOLHA - Existe uma meta muito
baixa, que acabe sendo contraprodutiva, ou, quanto menor a inflação,
melhor?
PHELPS - Nós não sabemos que
taxa de inflação é uma taxa
muito baixa. Há algumas vantagens em ter uma taxa de inflação na vizinhança de 1%, 2% ou
3% por ano. Certamente nós
não queremos chegar a menos
de 1% por ano. Pelo menos eu
não recomendaria conduzir
uma experiência para ver o que
ocorre.
FOLHA - O sr. é a favor de subsídios
públicos para complementar a renda de trabalhadores com salários
muito baixos. No Brasil, temos um
programa que dá subsídios às famílias pobres para que mantenham
seus filhos na escola.
PHELPS - É um subsídio para incentivar as crianças a ficarem
na escola? Parece-me correto.
Eu concordo que educação é
muito importante para o desenvolvimento econômico. É
impossível superestimar a importância da educação. Você
não pode introduzir novas tecnologias em uma economia,
novos produtos, novos meios
de produzir, a menos que você
tenha indivíduos que tenham
educação abrangente que os capacite a lidar com a inovação.
Talvez, eu estou apenas fazendo uma conjectura, a falta de
uma base educacional seja parte da razão pela qual o desenvolvimento econômico no Brasil não tenha ocorrido tão rápido como o esperado há 20 anos.
FOLHA - Em um dos seus artigos, o
sr. argumenta que não existe prova
de que redução de impostos sobre a
folha de pagamento ajude a aumentar o emprego, uma idéia quase
consensual no Brasil...
PHELPS - O que eu disse é que no
início haveria um incentivo para as pessoas entrarem no mercado de trabalho e permanecer
nele. Mas, em reposta ao aumento do salário maior, as pessoas iriam economizar mais e
acumular mais riqueza. Depois,
a queda nos impostos não pareceria tão boa, em relação à riqueza acumulada, quanto parecera no período em que os impostos foram cortados.
Quando você olha para a Europa e vê aquelas altas taxas,
você fica tentado a dizer que o
problema da Europa é esse.
Mas a Europa teve três décadas
para se ajustar a essas taxas.
Não se pode argumentar que o
emprego na Europa vai mal por
causa dos impostos. Você pode
dizer que todos os benefícios
criados pelo Estado de bem-estar formam uma criação artificial de riqueza social, que torna
a vida mais confortável, mas
que também tem efeitos prejudiciais ao emprego.
FOLHA - No mesmo artigo, o sr. faz
críticas aos economistas que considera neoliberais...
PHELPS - Não sou a favor de um
governo zero, sou a favor de
subsídios para salários baixos e
a favor de regulação rigorosa
dos mercados. Creio que há
enormes e importantes papéis
que o governo tem que cumprir. Sou simplesmente a favor
do capitalismo. Contra o corporativismo europeu e contra o
socialismo da Europa do Leste.
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