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BC fornece "milho ao bode", ataca Belluzzo
Economista defende IOF para estrangeiro e diz que BC deveria fazer mais no câmbio
Presidente do Palmeiras afirma que a atuação do Banco Central na compra
de dólares acaba ajudando bancos a ganhar dinheiro
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Da maneira como foi anunciada, isoladamente, a taxação
do capital externo para aplicações em renda fixa e ações não é
um remédio adequado para
evitar a sobrevalorização do
real. Essa é a opinião do economista Luiz Gonzaga Belluzzo.
Em entrevista à Folha, Bel-
-luzzo criticou duramente o
Banco Central por não tomar,
ao lado do que decidiu o Ministério da Fazenda, medidas adicionais para segurar o câmbio.
"O ministro Guido Mantega
[Fazenda] usou corretamente
o único instrumento do qual
dispunha para lidar com o problema, que é o IOF. Medidas
adicionais deveriam ter sido
tomadas pelo Banco Central."
Segundo Belluzzo, o BC deveria operar no mercado futuro, por meio da exigência de
margens maiores nas operações de mercado futuro, o que
coibiria a especulação.
Além disso, segundo ele, deveria instituir uma política de
compra de dólares minimamente racional e inteligente,
que se antecipe aos mercados,
em vez de alimentá-los com a
"ração" do dia. "O Banco Central, com todo o respeito, está
simplesmente dando milho a
bode", afirmou.
Presidente do Palmeiras,
Belluzzo é amigo de Mantega,
com quem almoçou na sexta-feira passada, antes do anúncio
da implantação de IOF.
FOLHA - Bolsa e real voltaram ontem a subir. É sinal de que o IOF de
2% sobre a entrada de capitais já fracassou?
LUIZ GONZAGA BELLUZZO - O ministro Mantega usou corretamente o único instrumento do
qual dispunha para lidar com o
problema, que é o IOF. Ele tomou a medida adequada. Minha opinião é que medidas adicionais deveriam ter sido tomadas pelo Banco Central.
FOLHA - Que medidas?
BELLUZZO - O BC deveria operar
no mercado futuro, por meio de
mais margens nas operações
com dólar nesse mercado, coibindo a especulação. Além disso, deveria instituir uma política de compra de dólares minimamente racional e inteligente, que se antecipe aos mercados em vez de alimentá-los.
FOLHA - Mas o Banco Central já
comprou R$ 3 bilhões à frente do
fluxo de dólares desde janeiro e,
mesmo assim, o real só fez valorizar.
BELLUZZO - O Banco Central,
com todo o respeito, está simplesmente dando milho a bode.
Ou, como escreveu adequadamente o colunista da Folha Vinícius Torres Freire, o BC está
tratando o complicadíssimo
mercado de câmbio como uma
feira de bananas. Eles ficam
comprando a sobra de dólares
no dia. Isso é bom para os bancos. Eles ganham até mais dinheiro com isso, por meio de
arbitragem. É preciso ser mais
ousado, antecipar-se à estimativa de fluxo. É preciso comprar não só acima do fluxo, mas
antes dele. Não pode deixar o
investidor se adiantar.
FOLHA - Como fazer para adiantar-se ao mercado?
BELLUZZO - Os efeitos da intervenção do BC têm que passar
por dentro dos mercados e, sobretudo, por dentro do mercado futuro, talvez por meio de
maiores margens, como já
mencionei. Não se pode deixar
espaço para arbitragem no
mercado. Hoje, além de vender
seus dólares para o governo, o
mercado ainda ganha na arbitragem, no mercado futuro,
com a sobra. Todo mundo sabe
disso, não é novidade.
FOLHA - Então o IOF, isoladamente, era uma ideia fadada ao fracasso.
BELLUZZO - Eu não diria isso. O
ministro Mantega fez o que podia fazer. O problema é que a
medida fiscal é insuficiente,
não tem a eficácia adequada.
Veja, por exemplo, a cotação do
yuan [a moeda chinesa] frente
ao dólar. A variação foi de apenas 0,03%. Por quê? Porque o
Banco Central chinês trabalha
com um volume (de compra de
dólares) muito maior e se antecipa aos mercados, domina a situação.
FOLHA - O sr. almoçou com o ministro Mantega na sexta-feira. Conversaram sobre o assunto?
BELLUZZO - Falamos sobre economia em geral. Eu dei minha
opinião sobre câmbio, mas não
fui previamente informado sobre as medidas que seriam tomadas.
FOLHA - Qualquer intervenção no
câmbio parte do pressuposto de que
existe uma cotação correta e outra
errada. Qual seria a correta?
BELLUZZO - Quando o dólar foi a
R$ 2,50, estava muito bom para
a maioria das empresas. O problema é que deixaram o real se
valorizar.
FOLHA - De onde o sr. tira a convicção de que intervenções do governo
no câmbio funcionam, a médio e a
longo prazos?
BELLUZZO - Não funcionam? Eu
não sabia. Então vai ver que é
um problema de temperatura.
Só não funciona nos trópicos,
no Brasil. Só funciona nos climas temperados. É isso.
FOLHA - O senhor aceitaria a presidência do Banco Central caso Henrique Meirelles deixe o posto em março para candidatar-se a algum cargo
eletivo?
BELLUZZO - Eu não tenho a menor condição de fazer isso. Sou
presidente do Palmeiras. Meu
mandato vai até dezembro de
2010. Aliás, estou agora na concentração para o jogo contra o
Santo André.
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