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São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2003

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TRABALHO

Objetivo é captar dados do emprego no interior e não apenas nas capitais

IBGE estuda fazer pesquisa nacional sobre desemprego

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) vai transformar a sua PME (Pesquisa Mensal de Emprego), atualmente restrita às regiões metropolitanas de seis capitais do país, em uma pesquisa nacional, possivelmente de divulgação trimestral. A intenção, em fase de estudos, foi revelada à Folha pelo presidente do órgão, Eduardo Nunes.
Ela atende a reivindicações de especialistas, segundo os quais a taxa de desemprego do IBGE não capta a realidade do país, como a expansão do emprego para o interior. Nunes disse que a iniciativa do órgão não significa concordância com essas avaliações.
Segundo ele, a taxa de desemprego apurada nacionalmente não terá diferença significativa em relação à que é apurada nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Para ele, a mudança é necessária por causa da demanda por dados do emprego em áreas que hoje não fazem parte da pesquisa.
"Não adianta publicar só o indicador nacional medido nas seis regiões. Cada vez mais, os Estados brasileiros demandam informações sobre sua própria unidade. O índice nacional serve para balizar a política pública do governo federal, mas não é suficiente para orientar também os governos locais", afirmou.
Nunes disse que a PME "não está defasada" e que ela "segue os rigores e as recomendações internacionais da medida do emprego". Segundo ele, o modelo da nova pesquisa precisa estar pronto para ir a campo em, "no máximo", três anos.

Diferença pequena
A coordenadora de Emprego e Rendimento do IBGE, Ângela Jorge, comparou o desemprego medido pela PME com a taxa medida pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), feita também pelo instituto, só que anual.
Segundo ela, os dados da Pnad de 2002 registraram que o desemprego medido em todo o país era de 10,9%. Já a taxa medida pela PME na época da coleta de dados para a Pnad era de 11,5%.
"É muito perto. Agora, é verdade sim que, comparadas às seis regiões metropolitanas, a taxa de desemprego do resto das regiões é menor", disse Ângela Jorge.
"Mas não a ponto de permitir a conclusão de que a pesquisa atual é defasada, desatualizada ou que precise ser ampliada por esse motivo", acrescentou Nunes.
Segundo ele, o peso das seis regiões da atual PME é muito expressivo. Ela representa 26% do emprego de todo o país, 29% do emprego industrial e 34% do emprego com carteira assinada.

Custos
Entre os principais países desenvolvidos, a tendência é que a pesquisa de emprego tenha abrangência nacional, embora a periodicidade nem sempre seja a mesma. Segundo Ângela Jorge, nos EUA e no Canadá a pesquisa é nacional e mensal, sendo que a do Canadá exclui as ilhas do Norte do país, escassamente povoadas.
Na Europa as pesquisas são nacionais, mas, segundo a técnica do IBGE, há uma tendência à divulgação trimestral dos dados. Portugal, França e Espanha estão entre os que fazem assim. O Reino Unido divulga médias móveis trimestrais (divulga mês a mês a média dos três meses anteriores).
Na América do Sul, o Chile tem taxa de desemprego nacional e mensal. A Argentina pesquisa em parte das áreas urbanas e está passando o levantamento de semestral para mensal, enquanto no Uruguai a pesquisa é mensal, mas basicamente na área de Montevidéu (capital do país).
No Brasil, a idéia do IBGE é fazer uma espécie de fusão da Pnad com a PME no que se refere ao emprego (a Pnad é uma pesquisa bem mais abrangente).
A Pnad cobre 133 mil domicílios no país, exceto na área rural da região Norte. O prazo de divulgação é de 12 meses a partir do seu início. Já a PME visita 38 mil domicílios e é divulgada 20 dias após o final da coleta, feita em 30 dias.
O grupo de trabalho criado pelo IBGE para estudar a ampliação da PME está avaliando se é possível apurar em tempo menor o questionário de emprego em toda a área da Pnad sem aumentar os custos. "O projeto só será efetivamente executado se houver recursos orçamentários", diz Nunes.
Segundo ele, embora não se saiba quanto a nova pesquisa custará, estão sendo estudados arranjos que permitam juntar as duas pesquisas sem elevar os custos.
Outro desafio, segundo o presidente do IBGE, é conseguir agilizar a análise dos dados coletados em regiões remotas.
O problema, de acordo com Nunes, abre espaço para a hipótese de se fazer uma pesquisa nacional, mas com uma periodicidade mais esparsa, trimestral, como na Europa. "Precisamos ter informações mensais sobre emprego ou, para obter ganho, podemos ter a cada trimestre?"
A favor da trimestralidade, segundo ele, está o fato de que os números têm mostrado que a taxa de desemprego não oscila muito de um mês para outro. Contra, para Nunes, estaria apenas a cultura já disseminada no país de se ter os dados mensalmente.


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