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TRABALHO
Objetivo é captar dados do emprego no interior e não apenas nas capitais
IBGE estuda fazer pesquisa nacional sobre desemprego
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística) vai transformar a sua PME (Pesquisa
Mensal de Emprego), atualmente
restrita às regiões metropolitanas
de seis capitais do país, em uma
pesquisa nacional, possivelmente
de divulgação trimestral. A intenção, em fase de estudos, foi revelada à Folha pelo presidente do órgão, Eduardo Nunes.
Ela atende a reivindicações de
especialistas, segundo os quais a
taxa de desemprego do IBGE não
capta a realidade do país, como a
expansão do emprego para o interior. Nunes disse que a iniciativa
do órgão não significa concordância com essas avaliações.
Segundo ele, a taxa de desemprego apurada nacionalmente
não terá diferença significativa
em relação à que é apurada nas regiões metropolitanas de Recife,
Salvador, Belo Horizonte, Rio de
Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
Para ele, a mudança é necessária
por causa da demanda por dados
do emprego em áreas que hoje
não fazem parte da pesquisa.
"Não adianta publicar só o indicador nacional medido nas seis
regiões. Cada vez mais, os Estados
brasileiros demandam informações sobre sua própria unidade. O
índice nacional serve para balizar
a política pública do governo federal, mas não é suficiente para
orientar também os governos locais", afirmou.
Nunes disse que a PME "não está defasada" e que ela "segue os rigores e as recomendações internacionais da medida do emprego". Segundo ele, o modelo da nova pesquisa precisa estar pronto
para ir a campo em, "no máximo", três anos.
Diferença pequena
A coordenadora de Emprego e
Rendimento do IBGE, Ângela
Jorge, comparou o desemprego
medido pela PME com a taxa medida pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios),
feita também pelo instituto, só
que anual.
Segundo ela, os dados da Pnad
de 2002 registraram que o desemprego medido em todo o país era
de 10,9%. Já a taxa medida pela
PME na época da coleta de dados
para a Pnad era de 11,5%.
"É muito perto. Agora, é verdade sim que, comparadas às seis regiões metropolitanas, a taxa de
desemprego do resto das regiões é
menor", disse Ângela Jorge.
"Mas não a ponto de permitir a
conclusão de que a pesquisa atual
é defasada, desatualizada ou que
precise ser ampliada por esse motivo", acrescentou Nunes.
Segundo ele, o peso das seis regiões da atual PME é muito expressivo. Ela representa 26% do
emprego de todo o país, 29% do
emprego industrial e 34% do emprego com carteira assinada.
Custos
Entre os principais países desenvolvidos, a tendência é que a
pesquisa de emprego tenha
abrangência nacional, embora a
periodicidade nem sempre seja a
mesma. Segundo Ângela Jorge,
nos EUA e no Canadá a pesquisa é
nacional e mensal, sendo que a do
Canadá exclui as ilhas do Norte
do país, escassamente povoadas.
Na Europa as pesquisas são nacionais, mas, segundo a técnica
do IBGE, há uma tendência à divulgação trimestral dos dados.
Portugal, França e Espanha estão
entre os que fazem assim. O Reino
Unido divulga médias móveis trimestrais (divulga mês a mês a média dos três meses anteriores).
Na América do Sul, o Chile tem
taxa de desemprego nacional e
mensal. A Argentina pesquisa em
parte das áreas urbanas e está passando o levantamento de semestral para mensal, enquanto no
Uruguai a pesquisa é mensal, mas
basicamente na área de Montevidéu (capital do país).
No Brasil, a idéia do IBGE é fazer uma espécie de fusão da Pnad
com a PME no que se refere ao
emprego (a Pnad é uma pesquisa
bem mais abrangente).
A Pnad cobre 133 mil domicílios
no país, exceto na área rural da região Norte. O prazo de divulgação
é de 12 meses a partir do seu início. Já a PME visita 38 mil domicílios e é divulgada 20 dias após o final da coleta, feita em 30 dias.
O grupo de trabalho criado pelo
IBGE para estudar a ampliação da
PME está avaliando se é possível
apurar em tempo menor o questionário de emprego em toda a
área da Pnad sem aumentar os
custos. "O projeto só será efetivamente executado se houver recursos orçamentários", diz Nunes.
Segundo ele, embora não se saiba quanto a nova pesquisa custará, estão sendo estudados arranjos que permitam juntar as duas
pesquisas sem elevar os custos.
Outro desafio, segundo o presidente do IBGE, é conseguir agilizar a análise dos dados coletados
em regiões remotas.
O problema, de acordo com
Nunes, abre espaço para a hipótese de se fazer uma pesquisa nacional, mas com uma periodicidade
mais esparsa, trimestral, como na
Europa. "Precisamos ter informações mensais sobre emprego ou,
para obter ganho, podemos ter a
cada trimestre?"
A favor da trimestralidade, segundo ele, está o fato de que os
números têm mostrado que a taxa de desemprego não oscila muito de um mês para outro. Contra,
para Nunes, estaria apenas a cultura já disseminada no país de se
ter os dados mensalmente.
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